Dilemas e mandingas de Ano Novo.... e uma poesia, por André Vasconcelos
Chegamos ao fim de mais um ano com ares de fim dos tempos!
Para muitos, a primeira vez que o aquecimento global se fez notar.
No Sul, a chuva com uma força e uma constância que não existem relatos.
No Norte, os gigantes rios viraram córregos mostrando que a natureza sofre com a falta de consciência humana.
No mundo, as bombas pipocam em guerras sem sentido com facções que defendem o seu Deus, achando que o seu Deus é maior que o Deus do vizinho, provocando batalhas santas sem perceber que Deus é uno, um só no comando de tudo... ou talvez nenhum!
Segundo a Bíblia, em Genesis Ele disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a Terra e sobre todos oos pequenos animais que se movem rente ao chão!”
Alguns erros crassos nessa declaração que mais parece um decreto da ONU.
Ou Ele não soube se expressar ou nós entendemos tudo errado: destruímos o mar, poluímos o ar, extinguimos animais e envenenamos pequenos animais que nos incomodam... tentamos extinguir até os humanos que pensam diferente do que nós julgamos ser o certo!
A tempo, acredito em Deus, mas não nas religiões que os homens criaram para venerá-lo... e sou um otimista incorrigível!
E a Bíblia, a mim parece um livro escrito por homens para dominar outros homens.
Mas a cada dia nasce uma nova esperança, e é nisso que eu realmente acredito, na mudança que fazemos dentro de nós... e um ano novo nos inspira sempre!
“Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.”
O genial Carlos Drummond de Andrade nos brinda com um poema batizado de Receita de Ano Novo, que é quase uma oração. Que me atrevo a reproduzir na integra no final dessa crônica.
Mas além da Receita do Drummond, qual a receita para crer num ano realmente novo?
Superstições e mandingas que vão de pular sete ondas a usar peças intimas de cores especificas para ter um bom ano novo moram na nossa lembrança.
Essas tradições chegaram a nós passadas de geração em geração.
Mandigas que repetimos exaustivamente desde o tempo do guaraná com rolha e do telefone com disco e presos à parede!
Aliás, quando os telefones eram presos à parede, éramos muito mais livres!
Desde os gregos, as folhas de louro em forma de coroa eram o reconhecimento da vitória dos atletas, e na Roma dos Césares, os imperadores eram laureados com a mesma coroa como símbolo de seu imenso poder.
Essas folhas, que usamos como tempero, são sinônimo de força e poder e, segundo a tradição das simpatias, temos que colocar uma folha de louro na carteira no primeiro dia do ano para atrair fortuna.
Para muitas culturas, a lentilha é símbolo de riqueza e fartura e, acreditam que, comendo o grão na noite de réveillon, o ano será repleto de prosperidade.
A carne de porco é muito presente nas festividades, pois representa o progresso e a abundância, assim como o peixe também é símbolo do progresso para o ano que se inicia, por ser um animal que segue sempre em frente.
As uvas fazem parte de uma das superstições mais famosas: a de comer 12 uvas antes da virada, cada uma correspondendo a um mês do ano que começa.
Bruxas diziam que era bom comer as uvas com atenção, pois sua doçura ou amargor seria como um spoiler para o mês correspondente...
Já em alguns países, como a Espanha, as 12 uvas, para trazer bons agouros, devem ser comidas durante as doze badaladas do relógio que anuncia o novo ano!
É bom se ater às uvas pequenas para não começar o ano engasgado.
No Brasil, são sete uvas, como são sete ondas a serem puladas na virada do ano.
Em muitos países, o girassol na decoração, amarelos e imponentes como o astro-rei, traz fortuna, assim como suas sementes torradas em alguns pratos.
Experimente torrar as sementes de girassol na manteiga para enriquecer a clássica farofa de nossas ceias... se não trouxer fortuna, crocância certamente trará.
A maçã é obrigatória para quem deseja alavancar sua vida amorosa, pois a fruta é o símbolo do amor e atraí sucesso nesta área da vida pessoal.
O alecrim, o trigo, a canela, a romã e tantos outros sabores fazem parte destas mandingas e superstições.
Mas a melhor mandinga é o respeito, o amor e o otimismo.
E nada melhor para encerrar este turbulento ano, do que o poema que citei acima.
Feliz ano novo!
RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
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Sobre o autor
André Vasconcelos
Cozinheiro raiz e autodidata, hoje no comando de sua Cozinha Singular Eventos e d'O Vilarejo Hospedaria e Gastronomia, onde insumos e técnicas são a base de cardápios originais e exclusivos... e aprendiz de escritor também!
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