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Degustação às cegas, por Eduardo Machado Araujo
A análise sensorial é uma ferramenta essencial para identificar uva, safra e até o produtor

A degustação às cegas desafia sommeliers a identificar vinhos sem qualquer referência visual. (Foto: Divulgação)

Publicado em 21/09/2024

Frequentemente viraliza um ou outro vídeo de uma competição onde um Sommelier (e uma Sommelière) estão em frente a uma mesa com algumas taças e em alguns segundos eles degustam esses vinhos e dizem qual a uva, país, região, safra e até produtor.

Toda vez que esses vídeos aparecem na internet eu recebo no meu inbox de algum seguidor ou amigo devidamente impressionado com a façanha.

Eu que conheço essas competições e fiz algumas certificações que exigem degustação às cegas também acho impressionante e tenho certeza de que o nível de conhecimento de quem está lá disputando um Mundial de Sommelier sabe o que está dizendo, mas nunca consegui conferir se eles realmente acertam os vinhos que provam, pois não tive acesso às referidas listas.

Mas, você sabe o que é uma degustação às cegas?

Bom, essa habilidade é muito utilizada no mundo do vinho, pois é importante se despir de pré-conceitos inerentes ao rótulo, preço e até o formato de uma garrafa ou cor de uma cápsula. Nosso cérebro quer sempre fazer o caminho mais fácil e já pegar essas dicas para “dizer” aonde devemos ir. 

Nós preferimos esconder o rótulo porque é muito comum em degustações abertas as pessoas preferirem algum vinho subliminarmente, pois se trata de uma marca famosa, pontuada, ou cara que te dá prestígio em provar. Mas, muitas vezes, e reafirmo, muitas vezes, esses vinhos não são os melhores tecnicamente falando e aí entra a o famoso “blind tasting” para você perceber o vinho sem emoção e utilizar a sua habilidade que foi treinada durante muito tempo para tecnicamente dizer se aquilo é bom ou tem a tipicidade que deve oferecer.

Na degustação às cegas normalmente temos análises na taça da parte visual, com a cor e sua tonalidade e a intensidade, onde podemos identificar provavelmente que perfil de uva foi utilizado (lembrando que diferentes uvas têm cascas mais ou menos grossas e mais ou menos material corante), a safra, se houver alguma variação para tons mais âmbar ou granada num tinto e cores mais amarelas e douradas num branco, por exemplo e até mesmo se ligarmos outros fatores, podemos definir se vem de uma região mais quente ou fria. 

Passamos ao olfato, extremamente importante onde definimos se o vinho tem algum defeito, a intensidade do aroma e as famílias aromáticas que encontramos ali. Isso já nos elimina muitas uvas que provavelmente não podem ser e nos cerca de variedades que normalmente tem aquele perfil, além claro do método de vinificação, se passou por madeira, se vinificou com engaço ou se o branco fez malolática, entrando em diversas probabilidades de regiões e uvas que classicamente tem esses perfis encontrados e claro, novamente eliminando outras. O olfato pode nos dizer também o ponto de consumo e a evolução deste vinho, nos auxiliando, juntamente com visão e paladar a definir se o vinho tem 5, 10 ou mais anos e se ele está ainda jovem, no auge ou pode envelhecer, ou se até mesmo ele já está passado ou decrépito, no jargão técnico.

E por fim nós degustamos esse vinho, lembrando que o Sommelier é recomendado a não engolir e descartar o líquido para que o álcool não prejudique sua sensibilidade e sua saúde, pois alguns dias temos que degustar dezenas de amostras.

No paladar vemos coisas como a intensidade de elementos como: acidez, tanino (no caso dos tintos), álcool e a estrutura do vinho, seu peso, como por exemplo a diferença entre um leite desnatado e um integral, a intensidade de sabores e aromas e por fim fazemos um julgamento final percebendo a permanência de sabores em boca e atribuindo um nível de qualidade e ponto de consumo. 

Ufa! Parece muito, mas tudo isso tem que ser feito em poucos minutos, ou até mesmo segundos no caso de competições faladas. No fim das contas levamos em consideração toda a teoria e os milhares de vinhos já degustados e muito do processo envolve eliminar o que não pode ser para no final cercar o que provavelmente é.

Juntando os dados podemos atribuir com uma boa margem de certeza a uva, região, safra e até mesmo algum produtor clássico que seja reconhecido e referência de um estilo.

Não é bruxaria ou nem sempre um dom, mas muito estudo, prática e técnica. Na minha última degustação às cegas no Diploma acertei a uva e em alguns casos que a pergunta pedia a região de 10 dos 12 vinhos apresentados. 

Como sempre falo: A litragem é muito importante e conhecer todos os estilos e faixas de preço é fundamental para esse processo.

 

 

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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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