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Cozinha, uma caixa de brinquedos!

(Foto: Divulgação)

Publicado em 01/02/2018

“Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais!” É de Casimiro de Abreu essa jóia, que não chega a ser saudosista, mas é de dar saudades.  Da saudosa infância que os anos não trazem mais, guardo várias boas lembranças dentro de uma caixa na minha memória, uma caixa como era minha caixa de brinquedos.

Se houvesse uma caixa de brinquedos na adolescência ela abrigaria bicicletas, skates, maquinas de fliperama, raquetes de tênis e muitas revistas de mulher pelada. E na juventude, quantos e quais foram os moradores da nossa caixa de brinquedos? Hoje, cinquentão, a minha caixa de brinquedos ocupa quase toda a casa: as bicicletas, pranchas de surf, stand up, o 4x4 e seus acessórios, oficina para as ferramentas, biblioteca para os livros, estantes para CDs, DVDs ... mas a grande caixa de brinquedos da minha adultescência é a cozinha!

E a cozinha, como conhecemos, data de muito pouco tempo! Não existem muitos relatos sobre a cozinha como cômodo de uma casa, mas intui-se que ela começou a se modelar com o surgimento da agricultura. Enquanto nômades, os homens se instalavam perto de fontes de alimentos. Nessa época a pia da cozinha era um rio e o fogão uma fogueira.

Na Grécia Antiga os quartos eram arranjados ao redor de um pátio, o átrio, e nele geralmente havia uma área, por vezes coberta, que fazia o papel de cozinha com uma fogueira ao centro e a água trazida das fontes para cozinhar e lavar. Já no Império Romano, pessoas comuns não possuíram cozinhas em suas casas: amplas cozinhas públicas com o fogo aceso sobre o chão atendiam a maioria da população, que se viam obrigadas a cozinhar de joelhos, como que orando.

Data-se desta época o primeiro protótipo de fogão: um móvel de bronze com espaço para a lenha. Esse modelo só se modernizou durante a revolução industrial na primeira metade do século XVIII: um móvel de ferro que tinha uma fogueira embutida!

No século XX a lenha foi substituída pelo carvão, depois para a nafta, pelo óleo e por fim pelo gás de cozinha ou GLP, como conhecemos hoje.  Com a tecnologia invadindo nossas cozinhas, os brinquedos-fogões passaram a ser elétricos, por indução, com forno combinado, computadorizado, com cozimento a vapor, timer, enfim, só faltam cozinhar sozinhos, e muitas vezes seria mais seguro se o fizessem.

Já primeira máquina frigorífica foi criada por um australiano usando a compressão de vapor, em 1856, para auxiliar no processo de fabricação da cerveja. Era o início de uma parceria feliz que dura até hoje: cerveja e geladeira. Mas a geladeira só foi para cozinha em 1913 com a Kelvinator e a GE Monitor-Top.

 

Em 1947, numa pequena oficina de Brusque, começam a ser produzidas as primeiras geladeiras brasileiras. Anos mais tarde, um comerciante de Joinville convence os donos da oficina a montarem uma fábrica: a Consul, a primeira fabrica de refrigeradores do Brasil sob o comando do trio Holderegger-Stutzer-Freitag.

E assim, gênios foram criando brinquedos para cozinha: em 1922 Stephen Poplawski finalizou a configuração clássica que caracteriza um liquidificador; em 1908 o engenheiro americano da Hobart Manufacturing Company, Herbert Johnson, criou a batedeira; o mixer, conhecido também como varinha mágica, tornou-se o símbolo da cozinha moderna americana nos anos 1960.

Outra grande revolução da cozinha foi o brinquedo forno de microondas: seu inventor, Percy Spercer, percebeu que as microondas produzidas pelos radares da fábrica que trabalhava derretia as barras de chocolate que costumava ter em sua mesa. A primeira experiência de um alimento cozido pelo eletrodoméstico foram pipocas, mais uma parceria marcante nas cozinhas desde 1947.

Hoje em dia os brinquedos de cozinha estão cada vez mais sofisticados e tecnológicos: alguns fantásticos, outros inúteis, muitos fantasiosos e a maioria pura criação de marqueteiros visando rechear a caixa de brinquedos de consumidores ávidos por novidades, banalidades e tecnologia. Mas, a melhor tecnologia para se divertir na cozinha está no conhecimento, nas páginas guardadas na nossa caixa de brinquedos.

O segredo para chegar a envelhescência com a mesma alegria da infância e não esquecer nunca de renovar e alimentar a nossa caixa de brinquedos, não só com brinquedos, mas com emoções, experiências e esperança. Esperança que, segundo a mitologia grega, foi o único sentimento que ficou guardado em outra caixa, a caixa de Pandora... mas essa história fica para outra das minhas estórias.