Coadjuvante de respeito, por Eduardo Machado Araújo
Já parou pra pensar em todas as uvas que você já provou e muitas vezes não sabe? Os blends ou assemblagens são muito comuns e, raramente, eles estão especificados. Pegue o exemplo do famoso Châteauneuf-du-Pape, ou dos cortes de vinhas velhas portugueses, até mesmo nos Bordeaux, é comum que esses rótulos não nos digam quais as uvas são ali utilizadas. Com o conhecimento e através dos estudos, temos uma ideia da possível combinação, mas, em Portugal, nem mesmo os produtores sabem qual a mistura de algumas vinhas, inclusive, já escrevi sobre as vinhas velhas locais por aqui.
Falando especificamente do Sul da França, as regiões têm uma grande variedade de uvas permitidas. Em Châteauneuf-du-Pape são 13 variedades (18 incluindo suas variações de cor) e, na apelação Côtes-du-Rhône, a ideia é a mesma. Porém, o corte geralmente é dominado pela Grenache e o estilo é ajustado com as uvas Syrah, Mourvèdre e Cinsault, principalmente, cada uma aportando suas características de cor, tanino, acidez e resistindo ao calor da região. Algumas das outras são: Vaccarèse, Counoise e Muscardin, por exemplo.
Uma das coadjuvantes mais interessantes nesse meio é a Cinsault, provavelmente originária da região vizinha ao Rhône, em Languedoc-Roussillon, mas já era cultivada há séculos na Sicília, na Puglia, e não surpreende que tivesse cruzado os Pirineus para a Espanha, onde é chamada de Sinsó. Curiosamente, essa uva foi utilizada para dar origem à clássica Pinotage, na África do Sul, cruzando com a Pinot Noir, Hermitage era o nome dado para a Cinsault pelos sul-africanos.
Ela adora o clima Mediterrâneo e, apesar de ser um tanto delicada, gosta do calor e seca sendo fértil e aportando acidez até mesmo nesses locais. O cuidado com a produtividade é essencial para gerar vinhos finos, aromáticos e surpreendentemente longevos. Ela também é muito utilizada para a produção de deliciosos rosés.
Há pouco tempo, tem aparecido sozinha em alguns rótulos, e o resultado é bem legal. Provei algumas coisas do Sul do Chile, em Itata e Bio-Bio, onde vinhas velhas de Cinsault estão sendo recuperadas num belo trabalho de resgate dessas variedades. Um dos destaques pra mim foi do Masintín, do Vale de Itata, muito aromático, com uma fruta carnuda e ótima acidez.
Outros produtores do Languedoc-Roussillon também têm aproveitado essas características e buscado algumas vinhas velhas nos solos calcários pedregosos e pobres das partes mais altas, como Terrasses du Larzac, para produzir algumas delícias.
Provei recentemente um Cinsault dessa parte alta do Languedoc que me chamou muito a atenção pelo seu estilo “juicy” e com equilíbrio entre estrutura, fruta madura e tensão de linda acidez nesse contraponto de força e elegância. O Ze Cinsault é mais um trabalho incrível do pessoal do Domaine Pas de l’Escalette na região!
Gostou deste conteúdo? Compartilhe utilizando um dos ícones abaixo!
Pode ser no seu Face, Twitter ou WhatsApp
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
Ver outros artigos escritos?