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Clássicos ou contemporâneos?
A escolha por um rótulo depende de fatores como gosto pessoal e armazenamento, muito mais do que sua safra

Crédito de foto: Reprodução

Publicado em 06/11/2019

Sempre que tenho a oportunidade de degustar vinhos de safras antigas penso sobre o mito de que “quanto mais velho o vinho melhor” e suas variantes. É um tema que sempre debatemos nas degustações e confrarias e que, quanto mais provamos, mais vemos que é uma meia verdade. Recentemente, tive mais uma oportunidade de provar vinhos clássicos de safras que começavam na década de 1950 e iam até o ano 2000. Rótulos famosos, que qualquer um diria que a idade os tornaria ainda melhores. Constatamos, com poucas surpresas, que o oposto pode ser verdadeiro: dos três melhores do painel, dois eram das safras mais atuais.

Dezenas de fatores podem entrar em jogo quando falamos de vinhos de guarda e uma das principais é justamente a safra em questão. Quais as condições climáticas daquele ano de colheita? Não coincidentemente, dentro do painel, os vinhos que já tinham ido pro outro lado eram os considerados de safras muito ruins, chuvosas, frias, onde pouco se salvou, e o que se salvou não alcançou a maturação necessária para criar vinhos longevos.

Quando falamos de longevidade em vinhos, precisamos lembrar que a oxidação é o principal inimigo, e o vinho possui antioxidantes e conservantes naturais que em quantidades adequadas o ajudam a evoluir durante um período de tempo, seja ele 5, 10 ou 50 anos. Mas também calor e luz, por exemplo, são fatores cruciais. Por isso, a armazenagem é importantíssima, esse é outro fator que não podemos ter garantia se não compramos o vinho lá no seu lançamento e guardamos em condições corretas desde então.

Outro ponto importante é o bom e velho gosto pessoal. A subjetividade do que é bom e ruim é sempre discutida. Conheço enófilos experientes que preferem muito mais a fruta fresca, os aromas mais primários e toda a energia de um vinho novo do que os aromas terciários que se desenvolvem com o envelhecimento. Também tenho amigos que gostam desse último estilo. Eu tento encontrar o meio termo, onde o vinho encontra a sua maior complexidade mesclando a fruta, o frescor com os aromas mais terrosos e animais. Quem advoga contra os vinhos muito velhos tem um ponto que concordo: com o excesso de envelhecimento, eles ficam muito parecidos, seja um Borgonha, um Bordeaux ou um Brunello.

O interessante é lembrar que os brancos que sempre foram apontados como vinhos para beber rápido, têm sido cada vez mais guardados com sucesso. Um dos principais componentes de proteção do vinho é o seu pH e sua acidez total, coisas que geralmente os bons brancos têm de sobra. Vinhos até então considerados simples se mostram complexos e vivos após 10-15 anos. Se quiser ter ótimas experiências com brancos assim, prove Alvarinhos Portugueses ou Rieslings Alemães!

A principal dica para apreciar vinhos com envelhecimento é encontrar o que agrada mais seu paladar para que não passe do ponto. Comprar vinhos de revendedores especializados, com estrutura própria para poder conservar durante muito tempo de maneira adequada ou da própria adega do produtor. Pesquisar por produtores reconhecidos por produzir vinhos de guarda e, finalmente, estudar bem sobre as condições das safras, pois, às vezes, comprar vinho de um ano específico somente porque é uma data especial, como seu aniversário, pode se tornar um mau investimento.


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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