BEBIDAS - 1ª QUINZENA DE MAIO
Relação das mulheres com vinhos
Alguns dos melhores vinhos do mundo são descritos com nuances femininos perfumados, elegantes, sensuais e delicados, mas sem deixar de serem marcantes e inesquecíveis. Uma das minhas uvas preferidas, a Pinot Noir, é frequentemente tratada como feminina, apesar de que alguns grandes Borgonhas sejam intensos e precisem de muito tempo para se mostrar. Que homem nunca abriu uma garrafa de vinho num jantar romântico ou no primeiro encontro?
Há algum tempo venho comentando sobre o número de mulheres que frequentam a Santa Adega, que tem o poder de escolha do vinho a ser comprado e que buscam participar dos cursos de degustação e eventos didáticos procurando conhecimento. Fica claro o envolvimento cada vez maior nessas questões, algo que até então era muito dominado pelos homens. Confrarias, Clubes, Associações e a própria figura do sommelier sempre foram ligadas ao homem.
Especificamente nos cursos de degustação, conseguimos perceber a maior sensibilidade feminina nas questões gustativas durante as avaliações dos vinhos. As mulheres são muito mais sensíveis aos aromas, sabores e cores dos vinhos e também conseguem descrevê-los de uma maneira muito gostosa.
Não me espanta o fato de que hoje temos um enorme número de mulheres que são referência nacional na área de sommellerie e na parte didática, seja dando aulas ou escrevendo sobre o assunto. Na parte da enologia isso também vem sendo percebido, mesmo contra o tradicional costume de que apenas os homens se metem na questão da terra e da cantina, principalmente na Europa. Hoje temos nomes que são unanimidade e absoluta referência na produção de vinhos, figuras como Filipa Pato, em Portugal; Susana Balbo, em Mendoza; Cecília Torres, no Chile; Madame Bize-Leroy, na Borgonha; e Helen Turley, nos Estados Unidos; são alguns clássicos exemplos do inegável poder que as mulheres têm no universo vinícola.
Jancis Robinson, além de ser absoluta referência bibliográfica para qualquer pessoa que queira aprender sobre vinhos, afirma que “as mulheres são a mais poderosa força econômica no mercado de vinhos hoje em dia”.
Mesmo assim, temos atualmente a primeira prova do vinho num restaurante sendo servida para o homem da mesa, mesmo sendo a mulher responsável pela escolha. Repito sempre nos treinamentos para que isso não ocorra, mas ainda observo esse fato com frequência. A mulher tem uma relação diferente com o vinho, enquanto o homem muitas vezes o trata somente como status, como se o rótulo fosse aquele carrão importado que chama a atenção.
Como sempre estou envolvido com estudos e cursos de vinhos, termino aqui com alguns números: a média de sucesso das mulheres no exame mais difícil do mundo do vinho, o Master of Wine, é maior que a dos homens, e no reconhecido exame da Wine and Spirits Education Trust, até o fim de 2014 todos os últimos oito ganhadores do prêmio anual entre os 56 mil candidatos mundo afora eram mulheres. Um brinde a elas!
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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