Bagagem de experiências
Acabei de retornar da mais nova feira de vinhos do Brasil, a Wines of South America, que estreou em Bento Gonçalves, capital do vinho, para abocanhar o espaço deixado pela saída da Expovinis, que por vários anos aconteceu em São Paulo. Confesso que nos últimos 5 anos a Expovinis deixou muito a desejar, público fora do alvo das empresas, a maioria querendo beber e muitas vezes beber demais, esvaziamento dos principais expositores, e toda a fadiga de uma feira que não vinha se renovando a fizeram acabar.
Prontamente, junto com o know-how da Vinitaly surgiu a nova feira, num lugar mais que adequado, o coração do Vale dos Vinhedos. A primeira impressão que tive foi de um evento de qualidade, muito bem organizado e com um público interessado, do trade, e focado na parte profissional do vinho. Diversas degustações e palestras paralelas enriqueceram o evento e trouxeram nomes como o do Master of Wine, Alistair Cooper, para ministrar duas aulas, sobre Terroirs Extremos e sobre Espumantes Brasileiros, temas que lotaram a sala de aula e atraíram a atenção de diversos profissionais e jornalistas do ramo.
Falando em Alistair Cooper, tive o prazer de acompanhá-lo durante a semana, a convite da Enocultura, para mostrar através de visitas e degustações, alguns dos principais projetos de vinhos no Brasil e criar um amplo painel demonstrativo dos principais estilos e terroirs brasileiros. Visitamos grandes vinícolas como a Miolo, recebidos pelo grande enólogo Miguel Ângelo de Almeida, onde pudemos provar clássicos como Lote 43 e Merlot Terroir, mas também vinhos do Vale do São Francisco e do novo projeto Single Vineyard, como o Touriga Nacional, que chamou a atenção. Na Casa Valduga, a recepção do trio de enologia liderado por Daniel dalla Valle foi perfeita, dentre os ótimos vinhos degustados, um Cabernet Franc da safra 2000, vivo e intenso, e o ótimo Storia Merlot.
Na Cave Geisse, provamos e aprovamos esse projeto de liderança na produção de alguns dos melhores espumantes do Brasil, no terroir de Pinto Bandeira, com a família Geisse. Destaque para o Nature e o Blanc de Noirs. Menor, inusitado, mas não com menos qualidade, nos impressionou a personalidade dos vinhos do Zanini e seu projeto “garagista” Era dos Ventos, com uma vertical de seu incrível - e raro - Peverella, refletindo cada safra de maneira sublime. Já na feira, fomos recebidos no estande da Pizzato pelo enólogo Flávio Pizzato, e um painel de alta qualidade incluindo um Semillon de grande potencial, e três safras do ícone Merlot DNA 99, demonstrando todo o potencial do Brasil nessa casta.
Também provamos em primeira mão o ousado projeto da Lídio Carraro, de produzir um vinho em ânfora de argila, da propriedade deles, em Encruzilhada do Sul. São apenas 1.200 garrafas que serão lançadas em 2020. Um dos pontos de maior felicidade foi conseguir reunir vinhos catarinenses na última hora e poder provar e impressionar com as linhas da Thera, Villa Francioni, Villaggio Conti e Leone di Venezzia, com destaque para os brancos Garganega, e os Sauvignon Blancs e os tintos de castas Italianas, como o Montepulciano.
Saí feliz por ter conseguido mostrar muitas coisas boas sobre o Brasil, e com uma tonelada a mais de conhecimento por passar todos esses dias com um cara super legal e com enorme bagagem de experiências. Também reforçando cada vez mais que, no mundo dos vinhos, mesmo sendo um Master of Wine, aprendemos todos os dias!
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
Ver outros artigos escritos?