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Aspectos de vinhedo, por Eduardo Machado Araújo

Imagem fotografada por mim, no Mosel (Alemanha), em julho deste ano (Foto: arquivo pessoal) **Clique para ampliar

Publicado em 09/11/2023

"Esse vinho vem de uma pequena parcela de 0,47 hectare, plantada em 1983, com exposição Sudoeste". Essa é uma parte da descrição do Corton Les Combes, Grand Cru do Domaine Génot-Boulanger. Você já parou pra pensar no motivo de termos uma especificidade tão grande na descrição da exposição solar desse e de outros vinhos nas fichas técnicas ou nos argumentos de venda?

A exposição solar de um vinhedo ou de uma região pode até mesmo inviabilizar a produção de uvas de qualidade. Quando vamos implementar um novo vinhedo, é importante observar, além de diversos outros fatores, qual é a sua orientação solar.

Mas isso já era feito há séculos. A classificação dos melhores vinhedos da Borgonha (França) ou do Mosel (Alemanha), por exemplo, levava em conta, dentre outras coisas, o fato de aquele pedaço de terra ser o primeiro a derreter a neve no fim do inverno.

Ou seja, ele tinha um maior potencial de produzir uvas maduras e intensas.

Sabemos que a terra é inclinada a cerca de 23,4º e, com o formato (quase) redondo, os raios solares incidem com menor ângulo nas latitudes maiores, que são as tipicamente usadas para a vitivinicultura, o famoso espaço entre os paralelos 30-50º Norte e Sul.

Se considerarmos o ciclo de maturação das uvas nessas altas latitudes, que se inicia na primavera e termina com a colheita no outono, temos essas duas estações com um ângulo de radiação mais baixo. O verão, sim, traz uma radiação mais direta.

Por esse motivo, nas regiões mais clássicas, que normalmente se encontram nessas latitudes que chegam a 50º, a quantidade de luz e calor, ambos vitais para a maturação de uvas, é fator limitante. Não é por acaso que regiões como o Mosel ou Borgonha tenham seus principais vinhedos em encostas de grande inclinação com face Sul-Sudeste, recebendo os raios solares de maneira mais direta que nas partes planas.

Inclusive, com essa configuração, as melhores exposições para potencializar a maturação se encontram em encostas inclinadas ao Equador. Os vinhedos com face Norte no Hemisfério Sul e os vinhedos com face Sul no Hemisfério Norte.  

Já em climas mais quentes, onde o excesso de maturação pode ser problema, ou queremos plantar variedades mais delicadas, como Pinot Noir ou uvas brancas, podemos escolher a menor exposição.

Falando dos quadrantes Leste e Oeste, temos o benefício da face Leste com a primeira luz do dia, aquecendo o ar frio da manhã, prolongando as horas de maturação e ajudando a secar o orvalho reduzindo problemas fúngicos.

Já as encostas voltadas para o Oeste recebem o forte sol da tarde e podem ficar muito quentes, aumentando o risco de queimar os frutos ou perder acidez.

É um exercício incrível provar vinhos da mesma região e uva apenas mudando o aspecto do vinhedo, e perceber esses detalhes do potencial de amadurecimento que temos quanto à exposição.

E, se um dia for ao Douro, em Portugal, ou ao Mosel, pergunte aos produtores sobre as diferentes altitudes, inclinações e exposições e qual o estilo do vinho e até mesmo que diferentes uvas plantam nesses locais.

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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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