As estrelas da noite
Quinta da Figueira realiza jantar harmonizado para convidados especiais no Ostradamus de Coqueiros
Em maio deste ano, quando escrevemos uma matéria sobre vinhos disruptivos com o analista de TI e enólogo, Rogério Gomes, da vinícola Quinta da Figueira, não tínhamos ideia da extensão de sua ousadia. Ou melhor, tínhamos, mas em parte. Este florianopolitano que se apaixonou pelo universo vitívinífero, e que fabrica seu próprio vinho de garagem em Florianópolis, inova sempre.
Naquela ocasião falamos sobre os vários estudos realizados por Rogério, inclusive contando sobre os testes realizados em laboratórios dos Estados Unidos, onde várias amostras de seus vinhos foram analisadas para definir a participação da semente na maciez dos taninos. Pois bem, agora o enólogo foi ainda mais longe. Propôs - e foi aceito -, que seus vinhos passassem por uma avaliação informal feita por um grupo de enófilos cariocas que integram a Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) do Rio de Janeiro. Eles vieram à Santa Catarina acompanhados do advogado e escritor franco-brasileiro Rogerio Dardeau, para conhecer os vinhos de altitude da serra catarinense.
O evento que antecedeu a viagem dos cariocas para a serra foi um jantar harmonizado com os vinhos, realizado no último dia 29 no restaurante Ostradamus de Coqueiros, do qual eu também participei. A ideia seria a degustação de pratos com a harmonização de cinco vinhos da vinícola de Rogério.
A experiência
Na chegada, já “antecipando” um pouco a viagem do dia seguinte à serra catarinense, fomos recebidos com o espumante Penúltimo, da Villaggio Conti, de São Joaquim. Em seguida, já iniciando a harmonização da noite, partimos para o vinho Garapuvu amarelo Chardonnay 2017, que harmonizou com o siri. Em seguida, apreciamos o Garapuvu laranja Chardonnay 2017, que foi harmonizado com o gratinado de siri e com a trilogia das ostras.
Passamos então à degustação do Grande Garapuvu Sauvignon Blanc 2015 (perfeito com as ostras). No entanto, antes do prato principal, degustamos o Zé Perri Pinot Noir 2018 para, em seguida, partirmos para o AltosBaita Merlot 2012, com 50 meses em barricas de madeira americana, e que foi harmonizado com a paella. Ao final da degustação, passamos pelo surpreendente Escambau Merlot 2018, uma das estrelas da noite.
O parecer de Dardeau
Exímio conhecedor de vinhos e com diversos livros publicados sobre o tema, Rogerio Dardeau foi o responsável por apresentar os vinhos disruptivos da Quinta da Figueira ao grupo da Associação Brasileira de Sommeliers do Rio de Janeiro.
Dardeau é mestre em engenharia de produção, advogado, e estuda vinhos finos, especialmente a produção brasileira. Sobre o produtor de vinhos Rogério Gomes, da Quinta da Figueira, ele disse: “Gomes é um brilhante produtor, ele quebra conceitos e isso é de uma riqueza ímpar. Ele cria, inova, traz conceitos desafiantes nos próprios vinhos e isso, no meu ponto de vista, é maravilhoso. Eu aplaudo muito o seu trabalho. Nunca peguei vinhos da Quinta da Figueira com defeito. Aqueles que estão abertos às novas sensações gustativas ficarão sempre impressionados com os rótulos”.
Ele salienta que, em inúmeros cursos, palestras e degustações que conduz no Brasil e exterior, sempre insiste na questão de que o vinho é um prazer pessoal. “Nossas papilas gustativas são como as nossas impressões digitais. Por isso, é extremamente importante identificar o que gostamos ou não para poder se portar na compra de uma garrafa de vinho”, destaca.
De acordo com ele, os vinhos apresentados durante a harmonização mostraram todo o seu comportamento para enfrentar a diversidade do paladar dos pratos. “O Escambau, por exemplo, tem uma maciez incrível, sem madeira exagerada, embora tenha passado tanto tempo em barrica”, observa.
Controverso
O ponto que gera maior controvérsia, segundo Rogerio Dardeau, é o Pinot Noir. “O Pinot do Rogério também é disruptivo. Em nível mundial, como as pessoas têm uma definição muito clara quanto à Pinot Noir borgonhesa clássica, qualquer outro ligeiramente diferente tem um público muito restrito, o que não ocorre com Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, a branca Chardonnay.
O que os enófilos acharam?
“Eu acho que os brasileiros precisam apreciar e valorizar os seus produtos. O que o Rogério está fazendo é algo inovador, que está quebrando paradigmas. O que achei muito interessante é que ele macera as sementes, que é o parâmetro da maturação da uva, para produzir os vinhos. Isso melhora os custos e a qualidade dos produtos.”
Maria Zélia
“Eu gostei muito do Escambau, que harmonizou muito bem com a paella, o AltosBaita também gostei muito. Os vinhos são realmente muito interessantes, são inovadores.”
Max Eduardo
“Eu escolho o Garapuvu laranja Chardonnay. Gostei muito dele isoladamente e também com a harmonização com a entrada à base de ostras. O AutosBaita Merlot também surpreendeu ao ser apreciado sozinho, o toque amadeirado é apaixonante. Achei esses dois maravilhosos.”
Cláudia Meneses, jornalista O Globo
“Achei o Escambau bem estruturado, com compota, muita fruta madura, com gosto amadeirado ao final e taninos bem arredondados. Acompanhou muito bem a paella. É surpreendente por ser um vinho 2018. Gostei muito dele.”
Miriam Perez
“Rogério Gomes é um apaixonado. Faz um trabalho enológico particular e caprichoso. Seu fascínio são os vinhos laranja, um estilo não tão fácil. Vinhos para iniciados, brancos vinificados como tintos, intensos. Os tintos são estruturados e equilibrados. Pequenas produções com inovações e cuidados enológicos. O número de prêmios que recebeu, com poucos rótulos e em tão pouco tempo, mostra a qualidade de seus vinhos.”
João Lombardo, sommelier
Conheça os vinhos da Quinta da Figueira:
Guarapuvu Amarelo 2017
100% Chardonnay. Cor amarelo dourada. Aromas de pêssego e damasco fresco, caramelo, toque da madeira no nariz. Boca fresca e frutada, boa intensidade.
Guarapuvu Laranja 2017
100% Chardonnay. Cor amarelo laranja. Aromas cítricos, casca de laranja, notas de especiarias, toque da madeira. Paladar intenso, fresco e equilibrado.
Grande Guarapuvu 2015
100% Sauvignon Blanc. Cor amarelo cobreado. Aromas de laranja e abacaxi em calda, madeira, especiarias, gengibre. Paladar macio, acidez agradável, intenso.
Zé Perri Pinot Noir 2018
100% Pinot Noir. Cor vermelho rubi. Aromas de frutas vermelhas, framboesas, cerejas. Nota floral. Leve e fresco no paladar.
Escambau Merlot 2018
100% Merlot. Cor rubi intensa. Aromas frescos e frutados de ameixa, amora. Notas de ervas frescas, floral. Acidez gostosa, frutado, taninos finos, longo.
Altos Baita 2012
100% Merlot. Rubi intenso. Notas frutadas, cassis, floral, especiarias doces, coco, chocolate, tostados. Macio e redondo no paladar, equilibrado, taninos finos.
Matéria escrita por Hermann Byron