As diferentes faces da Sauvignon Blanc
Esses dias ministrando um curso de vinhos, estava provando alguns exemplares da uva Sauvignon Blanc e me chamou atenção, não só pela qualidade, mas também pela variação de estilos encontrados. Comentamos sobre como essa variedade reflete os detalhes de terroir, e achei importante escrever sobre ela, pois aqui em Santa Catarina temos uma crescente tanto em produção quanto em qualidade mas, também, com estilos diferentes.
A Sauvignon Blanc é uma uva com menções muito antigas e, ao contrário do que imaginamos, ela não é originária de Bordeaux, mesmo mencionada no começo do Século XVIII em Margaux. Mas, análises de DNA, que podem ser encontradas no livro Wine Grapes, mostram que ela muito provavelmente nasceu no Vale do Loire, mencionada na região em 1534 com o nome de “Fiers”, que no latim significa “selvagem”, a mesma tradução de “Sauvage” que derivou para Sauvignon, devido à forma dos cachos que lembram uvas selvagens. Além disso, suas relações são muito grandes com uvas da região, como Chenin Blanc, e ela é “filha” da Savagnin, do Jura.
Outro fator importante sobre a Sauvignon Blanc é que, quando foi levada para o Gironde, ela teve uma polinização natural com a Cabernet Franc, dando origem à famosa Cabernet Sauvignon.
Bom, abandonamos as histórias e vamos falar da atualidade. Ela é uma das variedades mais plantadas na França e com certeza teve sua fama espalhada pelo mundo todo. Como é muito vigorosa, caiu nas graças de vários países e foi um par “lógico” para a Chardonnay, essa uma variedade mais neutra e que tradicionalmente era influenciada pelo carvalho.
Já a Sauvignon Blanc, com seu estilo mais aromático, de maior acidez e frescor, era um contraponto. Mesmo assim, algumas regiões como Califórnia e seu Fumé Blanc, Bordeaux, Pouilly-Fumé e Sancerre utilizam madeira em alguns de seus exemplares.
Hoje, temos diversos países que produzem Sauvignon Blanc, entre os destaques estão a Nova Zelândia, principalmente na região de Marlborough, na ilha Sul, que virou um estilo celebrado mundo afora. Seus vinhos são de médio corpo, com acidez marcante e aromas intensos de maracujá com notas de pimentão verde e, logicamente, diversas variantes. O Chile também produz uma grande quantidade, principalmente de vinhos simples e econômicos do Vale Central, mas os mais especiais estão na costa do pacífico, se beneficiando do frescor marítimo da região e apresentando notas mais cítricas e verdes, como aspargos e ají verde. Na África do Sul, essa uva também representa grande volume e variação, com muitos fermentados em barricas, mais ricos e intensos e alguns dos bons exemplares perto da costa com notas florais, de goiaba e pimentão verde.
Nos estilos mais intensos e austeros, temos a Califórnia com seus Fumé Blanc fermentados em barricas, com mais textura e notas defumadas. Mas, é na França que os clássicos se encontram. Apesar de que no Sul exista uma enorme produção de vinhos mais econômicos, e em Bordeaux lindos exemplares de Sauvignon Blanc no seu corte clássico, com Sémillon em barricas que criam vinhos longevos e complexos, é no Vale do Loire que ela se expressa de maneira única.
Nas duas pequenas regiões da parte continental do Loire, Sancerre e Pouilly-Fumé, é que encontramos alguns dos grandes brancos da França. Aqui a Sauvignon Blanc se mostra menos exuberante e tropical, mas muito mais enérgica e mineral. Nos solos de Kimmeridgian e Sílex desses locais, com o clima mais fresco e uma tradição secular, os vinhos se tornam tensos, cítricos e com notas de ervas. Quando você prova um “Mont Damnés” de um produtor como Paul Prieur, você percebe um Sauvignon Blanc como nunca viu. São vinhos que inclusive apresentam um potencial de envelhecimento muito maior se tornando ainda mais complexos com o tempo. Afinal, clássicos são clássicos!
Sobre o autor
Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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