00:00
21° | Nublado

A reinvenção dos argentinos

Foto: Reprodução

Publicado em 06/04/2015

Sempre bom retornar a um local para ver seus avanços e novas tendências. Fiz isso pouco tempo atrás numa rápida viagem ao Chile e Argentina e fiquei muito feliz com o que vi, principalmente na Argentina. Confesso que ultimamente havia ficado um pouco enjoado dos vinhos argentinos, inclusive digo sempre que há muito tempo não abria uma garrafa de Malbec por vontade própria, e que não tinha nenhum vinho dessa nacionalidade na adega em casa. Talvez tenha sido um exagero, mas há cinco anos, quando visitei Mendoza pela primeira vez com a Wines of Argentina, degustamos mais de 100 Malbecs e muitos se pareciam, era uma uniformidade chata, óbvia e que não me encantava, ainda mais meu paladar sendo mais apto a vinhos mais frescos, sem exagerar na doçura, exatamente o oposto dos vinhos que vinham de lá.

Por isso, há algum tempo, degusto muito mais vinhos chilenos, principalmente de regiões mais frescas e de produtores mais preocupados com a elegância e o equilíbrio do vinho, do que em agradar os que preferem vinhos gordos e bombas de fruta. Além disso, o Chile tem uma dezena de regiões fantásticas e uma diversidade de uvas que conseguem agradar muita gente. Já o foco argentino na Malbec se tornou muito repetitivo.

Há alguns anos isso mudou, e hoje vemos muita coisa nova sendo feita pelos hermanos, mesmo os mais tradicionais rótulos de Malbec foram mudados, trazendo mais equilíbrio e, além disso, novas regiões surgiram buscando novas altitudes, novos micro climas. Isso fez com que outras castas fossem testadas e aprovadas, Pinot Noir, Cabernet Franc, Petit Verdot, além da reinvenção das clássicas Chardonnay e Cabernet Sauvignon são fatores que devemos prestar atenção. A diferença entre um Malbec de Perdriel e Tupungato é flagrante e isso vem sendo bem explorado pelas “Bodegas Argentinas” que antes só escreviam “Mendoza” no rótulo.

Uma boa surpresa veio também com a casta Cabernet Sauvignon, muito utilizada no mundo todo, e que encontrou alguns produtores que sabem trabalhar muito bem com ela, seja qual for o estilo, desde um BenMarco, de Susana Balbo, até o mais europeu dos vinhos argentinos, produzido por Carmelo Patti.

Mais que isso, a Argentina começou a produzir blends muito interessantes e alguns que me chamaram muito a atenção quando degustados, foram o especial Achaval Ferrer Quimera, e um com excelente relação de preço e prazer na alta gama, o Brioso, também produzido pela Dominio Del Plata, de Susana Balbo. Outro foi o fantástico vinho produzido por Walter Bressia, chamado Conjuro, que me marcou pela elegante intensidade.

Novos projetos surgem, novas vinícolas são criadas, e o que vemos são enólogos ávidos por testar novas fronteiras, novos estilos, mas sem perder a qualidade que sempre foi marca local. Desde a Patagônia até Salta, muita coisa nova e boa está sendo feita. Até mesmo os clássicos estão se adaptando, por vezes trazendo menos barricas, outros mantendo uma acidez natural das frutas sem exagerar na maturação, enfim, com certeza, voltarei a colocar rótulos argentinos no meu dia a dia!


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


Ver outros artigos escritos?