00:00
21° | Nublado

Redescobrindo Beaujolais
Região da França se destaca pela qualidade de uvas viníferas

As colinas íngremes e com solos variados dão lugar aos melhores vinhos locais (Foto: Reprodução)

Publicado em 20/04/2019

Uma região que está renascendo das cinzas e de grandes tombos que leva desde o século XIV e entrando na lista dos melhores e mais interessantes sommeliers do mundo é a Beaujolais, na França, lar da uva Gamay. Talvez você já tenha ouvido falar desse vinho através de sua expressão mais simples, o Beaujolais Nouveau. Mas, desde que a uva Gamay foi banida da Borgonha por Filipe o Bravo, em 1395, a região vem sofrendo com alguns baques e pela falta de atenção dada a ela, muitas vezes por culpa dos seus próprios vinhos. Nem o clima dá folga pra Beaujolais. Em duas recentes safras (2016 e 2017), seus vinhedos foram praticamente destruídos por tempestades, e o próprio sucesso do seu vinho mais conhecido criou um caso de fracasso financeiro e de qualidade para a região.

Mas, ao mesmo tempo que a região é sinônimo de vinhos fáceis, leves e frutados, existe uma nova ordem de novos e qualificados produtores tentando reviver a qualidade que esse pedaço de terra entre a Borgonha e o Vale do Rhône pode oferecer nos seus diferentes terroirs. O primeiro passo é acabar com a fama de que Beaujolais é só o estilo Nouveau. Estilo que surgiu no pós-guerra quando a região e o resto da França estavam de mal a pior. A ideia era celebrar a safra do ano vendendo um vinho tinto leve e fresco apenas algumas semanas após a colheita, no dia 15 de novembro (que depois ficou como a terceira quinta-feira de novembro). Um vinho que devido à demanda e à produção transformou-se em um tanto insípido, com uma fruta que parecia artificial, com mais cara do seu método de produção (maceração carbônica) do que da região. Foi bom enquanto durou. A moda passou e a qualidade da região continuou baixa, exatamente como foi propagandeado: um vinho simples consumido uma vez por ano. 

Mas, desde 1980, uma nova geração está explorando de forma mais individual os chamados Crus de Beaujolais, essas vilas que descem margeando o Vale do Saône, em colinas íngremes e com muitos solos variados (granito, xisto, calcário, etc) que dão lugar aos melhores vinhos locais. Morgon, uma das mais famosas, foi lar do chamado “Gang of Four”, um grupo de quatro produtores que usaram práticas do brilhante Chauvet com vinhas velhas de maneira orgânica, métodos de vinificação tradicionais com uvas totalmente maduras e barricas de carvalho. Iniciaram uma revolução e começaram a produzir vinhos densos, complexos e de potencial de guarda. Foi ali onde praticamente surgiu o movimento de vinhos naturais, graças a Thénevet, Breton, Foillard e Lapierre.

Hoje a região tem chamado a atenção pela qualidade crescente, pela identificação de terroir e pelos bons preços. A delimitação de vinhedos únicos e de vinhas velhas tem gerado vinhos com uma complexidade e longevidade que não eram comuns na região. Os Gamays de hoje não têm nada de cor clara, aromas de frutinhas vermelhas e corpo leve; são vinhos escuros, saborosos, com alta acidez e taninos. 

São dez vilas que formam os Crus Beaujolais, cada uma com sua característica de solo, exposição solar e altitude. St-Amour, mais ao norte, produz vinhos mais leves, de fruta vermelha. Juliénas, nomeada para Julio César, um pouco mais alta, faz vinhos mais densos e tânicos. Chénas, o menor Cru, gera vinhos mais carnudos. Moulin-à-Vent é um dos grandes Crus, tem história e produz vinhos sólidos, com taninos de grão fino, mas potentes. Fleurie, um dos maiores Crus e com vinhedos íngremes, produz vinhos de frutas preta e vermelha, e florais. Falando em altitude e vinhedos íngremes, temos Chiroubles potencializando esses fatores, vinhos florais, suculentos e minerais. A vila de Morgon se tornou a mais reconhecida e lar de grandes vinhos, como o famoso Foillard Côtes Du Py, é o centro do “Novo Beaujolais”. Depois temos Régnié, de vinhos mais leves, Brouilly, o maior Cru com estilo variado, e Côtes de Brouilly e seu monte vulcânico produzindo grandes vinhos minerais, intensos e com fruta azul.

São muitas opções de vinhos surpreendentes! No mercado brasileiro encontramos alguns ótimos nomes como Foillard. Descubra Beaujolais!


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


Ver outros artigos escritos?