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Plasticidade Humana, por Denise Evangelista

A neurociência moderna, graças ao trabalho de Marian Diamond, ensina que a plasticidade cerebral pode ser utilizada para transformar nossas vidas e superar desafios. (Foto: UC Berkeley Photos/Elena Zhukova (via BBC))

Publicado em 16/03/2025

Marian Diamond (1926-2017), pesquisadora e professora da Universidade da Califórnia em Berkeley, é considerada uma das fundadoras da neurociência moderna. Suas descobertas contribuíram para o desenvolvimento, direta ou indiretamente, de outras áreas do conhecimento, tais como a medicina, a fisioterapia, a psicologia e a pedagogia.

No começo dos anos 60 era consenso científico de que o cérebro era imutável e determinado geneticamente. Diamond demonstrou, com os resultados de suas primeiras pesquisas, que o cérebro muda com a experiência e seu funcionamento melhora com boas experiências ou com experiências enriquecedoras. Em 1964, sua equipe já tinha os primeiros dados e as primeiras evidências da plasticidade, na anatomia do córtex cerebral de mamíferos. Nascia aí a primeira concepção do que mais tarde ficaria conhecida como plasticidade cerebral ou neuroplasticidade.

Suas contribuições científicas mudaram para sempre a forma como passamos a compreender o cérebro. Experiências alteram anatomicamente a espessura cerebral. No decorrer da sua carreira, Marian Diamond descobriu que isso se devia ao aumento das células gliais, que são células não neurais, mas que exercem funções centrais no funcionamento neuronal, como nutrição e proteção das células nervosas. Mais tarde, novas pesquisas associaram a estimulação cognitiva positiva ao aumento da imunidade.

Quando Thomas Morus (1478-1535) disse que “Nenhum homem é uma ilha”, ele nos lembrava que somos seres biologicamente dependentes do meio ambiente natural, do qual somos parte e seres interdependentes nas relações com o nosso meio social, assim como propagam algumas filosofias, religiões orientais e outras Culturas.

Considerando que as principais forças organizadoras do nosso psiquismo são o amor e o medo, e que podemos nos desenvolver em ambientes que proporcionam experiências mais ou menos enriquecedoras, mais ou menos seguras, as psicologias humanistas concordam que os fatores desencadeadores de desequilíbrios psíquicos estão associados às relações de opressão. Essas relações podem se estabelecer na intimidade das famílias, entre pais e filhos, entre irmãos, entre cônjuges, entre namorados, nas escolas, no trabalho, nas relações da sociedade com seus indivíduos, entre o Estado e seus cidadãos, entre nações etc. Essa opressão pode se manifestar de forma mais ou menos explícita, mais ou menos contundente, em qualquer momento das nossas vidas, ou de forma continuada por longos períodos e até por uma vida inteira.

Mas o que caracteriza a opressão? Podemos dizer que a opressão se manifesta quando alguém ou alguma entidade impõe a um outro, ou a um grupo, alguma forma de violência, crueldade, humilhação ou tirania, também, através da negligência. A opressão é um ato de desrespeito para com um outro e está permeada, comumente, pelas relações de poder. Podemos afirmar também que a opressão tem sempre uma autoria, embora possa ser compartilhada.

Oprimir significa ameaçar a vida, a sobrevivência, bem como cercear as potencialidades e a dignidade humana. Considero importante ressaltar que ela é cíclica e decorre de histórias baseadas no medo. Pessoas, comunidades, organizações, instituições e nações que estabelecem relações violentas estão comumente vinculadas a padrões que se estabeleceram com base no medo e não no amor. Quando estamos diante de situações em que o medo é predominante, as reações mais comuns são de ataque, fuga ou paralisia.

Quando o medo é uma constante, base das relações e se fixa como um padrão, doenças de todos os tipos entram em curso. Essa maneira de compreender a opressão permite que, através do conhecimento e do autoconhecimento, possamos iniciar um processo mais consciente e menos reativo em todos os níveis da nossa existência, quebrando ciclos que se repetem desde que temos notícias da nossa existência como espécie. E podemos vislumbrar, indo muito além, o desenvolvimento das nossas inimagináveis potencialidades, num ambiente mundial baseado no amor e na colaboração. Um lugar onde todos sejam como as células gliais, nutrindo, protegendo e regulando o ambiente para que mudanças estruturais se tornem propícias, e onde haja significativo desenvolvimento humano.

 

 

 

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Sobre o autor

Denise Evangelista Vieira

Psicóloga formada pela UFSC e em Artes Cênicas pela Udesc. Escreve sobre o universo humano. Quem somos e em quem podemos nos tornar? CRP 12/05019.


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