00:00
21° | Nublado

As mulheres e o Oscar, por Luzia Almeida
O filme Ainda Estou Aqui mostra como a resistência feminina foi fundamental na busca pela liberdade e democracia no Brasil

A obra cinematográfica Ainda Estou Aqui destaca a coragem das mulheres que resistiram à ditadura militar, inspirando novas gerações a lutar por seus direitos. (Charge: Ed Carlos)

Publicado em 07/03/2025

    O filósofo Sérgio Oliveira apresenta um pensamento importante sobre o protagonismo feminino no contexto atual considerando a ditadura militar de 1964 a 1985: “Ao longo da história, os regimes ditatoriais marcados pelo patriarcado e enraizado desde tempos imemoriais, sempre destacaram os homens. No entanto, na escuridão da ditadura, as mulheres foram a voz da resistência, a força da denúncia e a semente da democracia. Pensar na luta contra essa forma vil de política é reconhecer o protagonismo feminino na construção da liberdade”. Voz, força e semente: estas palavras do filósofo atingem o grau máximo de significação quando pensamos na vida e na luta de Eunice Paiva e de tantas mulheres que resistiram ao regime ditatorial brasileiro. E, embora esse tema faça parte do passado, nem por isso deixou de ser importante. É imprescindível considerarmos a lembrança trazida de um tempo de dor, “tempo em que o amor resultou inútil” e de procura por maridos desaparecidos.

    O filme “Ainda estou aqui” (2024) dirigido por Walter Salles traz essa lembrança e ilustra o verso de Drummond “Chega um tempo em que ninguém diz mais: meu Deus” e traz a ousadia de expor as cavernas da ditadura militar com todos os seus morcegos. Havia sol lá fora, mas não era para todos. A comunicação era controlada, os sorridos eram varridos e os dramas anunciavam-se um após outro. E, no meio dessa escuridão, uma mulher levanta-se e mostra o seu valor: enquanto mãe, mulher e cidadã. Até parece absurdo ou ficção o drama de Eunice Paiva, interpretado pela atriz Fernanda Torres. Quisera fosse! Nem absurdo, nem ficção: o filme é do gênero drama biográfico. O roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega foi baseado na autobiografia homônima de 2015, escrita por Marcelo Rubens Paiva.

    As mulheres brasileiras ao assistirem ao filme premiado têm motivos de coragem e de enfrentamento para dirigirem suas vidas diante de tantos desafios, principalmente os desafios que fazem referência à igualdade social. E, assim, têm referências para projetos de ascensão social. Sim, as mulheres brasileiras diante da tela têm noções novas de adversidade e de enfrentamento e novos modelos de empoderamento. O cinema brasileiro foi premiado ao apresentar verdadeiros talentos de interpretação que escancaram vidas atropeladas pela ditadura militar. Talentos que são símbolos de um verde-amarelo necessário nos nossos dias, pois ensina-nos a amar a liberdade e a democracia.

    Na perspectiva da simplicidade e da elegância, Fernanda Torres administrou a vida de Eunice Paiva e concedeu-nos novo olhar sobre valores e resiliência. Não há nada que se possa fazer contra os danos causados pela ditadura militar, não há como voltar ao passado e mudar essa lama, mas é correto afirmar que esse tempo nefasto (conhecido nas cores do filme) trouxe-nos orientação contra todo tipo de arbitrariedade e autoritarismo. Contra toda farsa e corrupção. O filme é uma vacina. E essa metáfora está à disposição em todo o Brasil.

    O Oscar de melhor filme internacional para “Ainda estou aqui” é também um prêmio para todas as mulheres brasileiras. Mulheres casadas e solteiras. Mulheres empregadas sofrendo todo tipo de assédio ou desempregadas a espera de uma oportunidade de trabalho. Mulheres sofrendo ditaduras domésticas e mulheres amadas. O Oscar entrega parte da História do Brasil e convida-nos a refletir sobre tempos e épocas. E sobre a diferença que uma mulher pode causar numa nação.

 

 

Para ler outras crônicas da Luzia Almeida, nossa brilhante colunista clique AQUI

Para voltar à capa do Portal o (home) clique AQUI

Para receber nossas notícias, clique AQUI e faça parte do Grupo de WHATS do Imagem da Ilha.

Gostou deste conteúdo? Compartilhe utilizando um dos ícones abaixo!

Pode ser no seu Face, Twitter ou WhatsApp

Comentários via Whats: (48) 99162 8045


Sobre o autor

Luzia Almeida

Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação


Ver outros artigos escritos?