A celebração de um novo momento
Cada ano oferece uma oportunidade de crescimento, aprendizado e de aprofundamento
Nesta época do ano, cristãos celebram o nascimento de Jesus. Mas é como se fosse o aniversário de cada um de nós. Despedimo-nos do ano em curso e nos preparamos para um novo ano, damo-nos presentes e nos desejamos os melhores votos. Falamos de fraternidade, solidariedade, tolerância, compaixão, das alegrias que se anunciam com o novo ano. Coletivamente celebramos a vida!
Por isso é uma época que nos estimula à reflexão. Somos sobreviventes “apesar de” e “por causa de” e seguimos em frente com uma primeira tarefa, a de alimentarmos a esperança. Ideia genial, como disse Drummond, dividir o tempo em fatias, “doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra adiante vai ser diferente.”
O tempo é, também, o modo de vermos o tempo. Podemos pensar que ele se revela em ciclos. Talvez, de uma maneira mais evidente, o ciclo que vai do nascimento à morte, dentro do qual, há pequenos ciclos, cada um com seus próprios tempos. Também podemos imaginar que é tudo um só tempo: o grande ciclo de uma vida, com seus pequenos ciclos, dentro de um outro muito maior; este compreendendo as vidas de todos aqueles que nos antecederam, nossos ancestrais e a Cultura que introjetamos com suas crenças, seus ritos, valores etc. Passado que vem de longe e ao mesmo tempo é tão vivo em nós, assim como seremos nos que virão. Outra maneira através da qual podemos compreender o tempo é como uma espécie de soma dos tempos passados.
Nesta perspectiva o novo traz consigo tudo o que já foi experimentado antes. Mas o que me parece mais interessante, é que não se trata de um acúmulo relativo apenas ao passado, ele traz e sempre trouxe o que ainda estaria ou está por vir. E isso podemos observar nos personagens históricos e em pessoas anônimas que trazem para o mundo algo novo e diferente do que até então conhecíamos. Nesta mesma mirada, todos esses tempos, que se revelam em cada um de nós, parecem “andar para frente” sempre que aprendemos alguma coisa nova e tornamos isso parte de nós. Essa aprendizagem amplia nosso repertório e ao mesmo tempo permite que reconheçamos nossos tempos pretéritos: tudo que fomos, como indivíduos e espécie em direção ao que ainda não somos.
Sigmund Freud, em entrevista concedida a George Sylvester Viereck, em 1930, falou das forças ambivalentes que coexistem dentro de cada um de nós no cumprimento do ciclo de uma vida, especificamente de Eros e Thanatos; Eros associado à vida e Thanatos à morte. Gosto de pensar que essas forças não são ambivalentes como parecem, concorrentes ou paralelas. Imagino-as entrelaçadas como forças que se permutam, como nesta lenda, quando, num certo dia, um discípulo tomando coragem, perguntou ao seu mestre:
— Como nos tornamos sábios?
— Fazendo boas escolhas.
— E como fazemos boas escolhas?
— Através da experiência.
— E como adquirimos experiência?
— Fazendo más escolhas.
A simbologia da Flor de Lótus, aponta para o mesmo entendimento. A Flor de Lótus é uma flor de origem asiática que nasce em águas lodosas. No Egito, a flor representa o nascimento e o renascimento porque suas pétalas se abrem e se fecham de acordo com o movimento do sol. Para os hindus indianos, a flor de lótus significa beleza interior, alguma coisa que está dentro de cada um de nós. No Japão, por sua vez, o significado da flor de lótus é força e individualidade, o percurso que é trilhado individualmente durante a vida. Na China significa harmonia, beleza, pureza e uma vida pacífica. Em todos esses países e na espiritualidade oriental como um todo, a flor de lótus está ligada ao crescimento espiritual e à capacidade de ultrapassarmos as dificuldades da vida, assim como a nossa busca por superarmos nossas próprias limitações.
Cada momento oferece uma oportunidade de crescimento, aprendizado e de aprofundamento do que, afinal, é este grande mistério chamado vida. Que neste novo recomeço, tal qual a flor de lótus, cheios de esperança, possamos nos alimentar das profundezas da terra, do nosso próprio passado e dos ensinamentos dos grandes mestres, como Jesus. E que as alegrias que virão sejam como o calor do sol nos impulsionando, sempre mais, em direção à luz.
Texto por Denise Evangelista Vieira
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Sobre o autor
Denise Evangelista Vieira
Psicóloga formada pela UFSC e em Artes Cênicas pela Udesc. Escreve sobre o universo humano. Quem somos e em quem podemos nos tornar? CRP 12/05019.
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