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Por trás do espetáculo, o coração do Bolshoi
Sylvana compartilha os bastidores do espetáculo Arte na Beira-Mar — da idealização com a Camerata até os ajustes finais no pôr do sol de Florianópolis

Sylvana Albuquerque, coordenadora de produção da Escola Bolshoi no Brasil, é a personagem da semana. E foi ela quem comandou a missão de transformar o Trapiche da Beira-Mar em um palco para música sinfônica e dança clássica. (Foto: Divulgação)

Publicado em 20/05/2025

E a nossa personagem da semana, desta vez, não entra em cena com sapatilhas nos pés, mas com pranchetas, cronogramas e fones de ouvido. Diferente das outras edições, em que destacamos protagonistas diretamente sob os holofotes, agora voltamos nosso olhar para quem faz o espetáculo acontecer quando as cortinas ainda estão fechadas. Sylvana Albuquerque, coordenadora de produção da Escola Bolshoi no Brasil, é o nome por trás da engrenagem silenciosa que movimenta palcos, músicos, bailarinos e sonhos. E ela vem contar como foi transformar o Trapiche da Beira-Mar Norte, em Florianópolis, em um palco de gala a céu aberto — uma missão ousada que uniu música sinfônica, balé clássico e o coração pulsante de uma cidade.

 

Sylvana Albuquerque revela os desafios e emoções por trás do espetáculo que uniu Bolshoi e Camerata Florianópolis.

 

Um espetáculo entre o céu e o mar

O espetáculo Arte na Beira-Mar nasceu de uma idealização conjunta entre a Direção Artística do Bolshoi Brasil e da Camerata Florianópolis. Mas o que parecia simples no papel se revelou uma verdadeira maratona técnica e criativa. “Definimos repertório, número de artistas e cronograma. Depois vieram as etapas mais desafiadoras: contratação de engenheiros, cenotécnicos, testes de som e iluminação em um ambiente aberto. Foi preciso montar um palco especial no Trapiche, com total atenção à segurança estrutural”, conta Sylvana.

E não parou por aí. O espetáculo, que mesclava clássicos como Lago dos Cisnes, O Quebra-Nozes e Cinderela, teve de ser adaptado à imprevisibilidade do espaço público: “Trabalhar com vários fornecedores simultaneamente, desenvolver arranjos musicais que estivessem em total sintonia com os bailarinos em poucos ensaios, montar todo o sistema de som e iluminação em tempo recorde... foi um desafio. Mas um desafio que valeu a pena”, relembra.

A conexão entre a Camerata Florianópolis e a Escola Bolshoi já tem história. A primeira colaboração aconteceu em 2023, com a montagem de Cinderela, em Joinville. De lá pra cá, a parceria cresceu, ganhando novos contornos e significado. “Esse intercâmbio fortaleceu o diálogo entre as artes e ampliou a visão dos alunos sobre música e movimento. A Camerata se tornou uma parceira-chave na formação cultural dos nossos bailarinos”, destaca Sylvana.

Para a apresentação em Florianópolis, o repertório foi cuidadosamente escolhido. “Mesclamos os grandes clássicos que representam a tradição Bolshoi com obras que oferecem contrastes e novas experiências — como árias de Prokofiev e Rachmaninoff. A ideia era proporcionar uma narrativa dinâmica, alternando formações em grupo e duetos mais intimistas. Tudo isso em um cenário de pôr do sol e vento no rosto”, diz.

E a resposta do público mostrou que o risco valeu a pena. Milhares de pessoas compareceram, ocupando cada espaço do Trapiche. “A gratuidade foi essencial. Democratizar o acesso à dança clássica e à música erudita está alinhado com nossa missão de formar artistas-cidadãos. O evento também ampliou nossa visibilidade em Florianópolis e gerou grande repercussão nas redes e na imprensa.”

25 anos de arte e transformação

Completando 25 anos em 2025, a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil já formou mais de 478 bailarinos, dos quais cerca de 74% atuam em companhias de dança em 27 países, nos cinco continentes. Mas os números não contam toda a história.

“A maior conquista da escola está além dos palcos: é a transformação social proporcionada pela arte. Muitos de nossos alunos encontram na dança uma profissão, um propósito e, muitas vezes, a chance de mudar a realidade de suas famílias”, afirma Sylvana. “Mais do que formar artistas, o Bolshoi forma cidadãos.”

A Escola Bolshoi adota o rigoroso método russo Vaganova, com professores formados em Moscou e no Brasil. Mas, em sala, há espaço também para a identidade nacional. “Incorporamos danças populares brasileiras, promovemos projetos autorais e colaboramos com coreógrafos locais. Esse equilíbrio entre técnica e cultura forma bailarinos versáteis e conscientes de suas raízes.”

O caminho até o palco

Para ingressar na escola, o processo seletivo é abrangente e inclusivo. Pré-seletivas regionais em diversas partes do país avaliam flexibilidade, força, coordenação e perfil físico dos candidatos. “Temos etapas específicas para quem nunca estudou dança e outras para os que já têm experiência. Os aprovados passam para a fase final, em Joinville, onde concorrem por uma das 40 vagas disponíveis.”

Mais do que formar bailarinos, o Bolshoi garante suporte completo aos seus alunos: “Oferecemos bolsas integrais com alimentação, transporte, figurinos, assistência odontológica, fisioterapia, nutricionista e médico de emergência. Temos também acompanhamento pedagógico e psicopedagógico.”

E o que vem pela frente?

Com os olhos no futuro, a escola pretende ampliar o número de pré-seletivas pelo país e expandir as apresentações da Companhia Jovem para novos públicos da América Latina. “Queremos levar nossa arte ainda mais longe.”

A equipe de produção da escola funciona como um balé à parte — só que nos bastidores. “Reuniões de planejamento, definição de cenários, cronogramas, montagem, testes técnicos... tudo é feito em sincronia. Às vésperas do espetáculo, temos ensaios diários com som, luz e vídeo. É um trabalho minucioso”, descreve Sylvana.

E quando tudo parece estar pronto, a equipe ainda precisa lidar com os imprevistos. “Temos protocolos de backup, equipamentos reserva, geradores auxiliares, rádios de comunicação e checklists detalhados. A qualidade do espetáculo precisa ser garantida até o último segundo.”

E se há um momento que resume o espírito da equipe, foi o que aconteceu na noite do espetáculo em Florianópolis. “Foram apenas dois ensaios conjuntos entre orquestra e balé. E tudo precisava acontecer em perfeita harmonia. E aconteceu. Porque houve espírito de equipe. Entre técnicos, músicos, bailarinos — duas instituições inteiras trabalhando como uma só. É isso que torna algo especial: a entrega coletiva.”

Na arte do balé, o público enxerga apenas o deslizar dos pés e a leveza dos movimentos. Mas atrás de cada giro, há um universo inteiro em ação — e Sylvana Albuquerque é uma das forças invisíveis que fazem a dança acontecer.

 

 

 

Da redação

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