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E nosso personagem da semana, dessa vez, é uma dupla que, com sua música, derruba barreiras e une culturas de forma única. Eles são Fernanda Rosa e Mateus Costa, do Duo A Corda em Si, e, juntos, estão transformando o conceito de acessibilidade e de conexão musical. No projeto “Conexão SC > BA - Música, Experimentação e Acessibilidade”, os dois músicos de Florianópolis, ambos deficientes visuais, estão promovendo uma troca profunda de saberes com os artistas baianos da dupla B.A.V.I., na cidade de Vitória da Conquista, na Bahia. Mais do que um simples intercâmbio cultural, essa residência artística é uma experiência imersiva que celebra a música, a acessibilidade e a inclusão, tocando diretamente o coração de todos os envolvidos.

A troca cultural entre o Duo A Corda em Si e a dupla baiana B.A.V.I. (na foto) leva música, acessibilidade e inclusão a um novo nível. (Foto: Ives Padilha)

"A música nos une de uma maneira que as palavras não conseguem", afirma Mateus Costa, com um sorriso de quem tem no palco um espaço para dar vida ao que ele e Fernanda - que também são um casal - sonham e criam. Ele, cego, e Fernanda, baixa visão, há 16 anos compartilham uma trajetória marcada pela dedicação à música e pela luta constante por inclusão. 

“O fato de sermos deficientes visuais nos levou a pensar em todos os detalhes, tanto no palco quanto na plateia, para garantir que todos, independentemente de suas limitações, possam viver uma experiência completa com a nossa música", explica Fernanda. A dupla tem o compromisso de criar um ambiente acessível emocionalmente e intelectualmente para as pessoas com deficiência, um público muitas vezes esquecido em ações culturais. A preocupação vai além do que a maioria dos eventos faz, mas nem sempre é de fato efetivo. 

Além de contar com LIBRAS e audiodescrição, o projeto tem uma comunicação não segregadora, com divulgações visuais, auditivas e de conteúdo direto para PCDs. 

"Não basta apenas um local acessível ou a gratuidade para PCDs. Queremos que eles sintam que pertencem ao evento, que estão incluídos em todos os aspectos", acrescenta Mateus, com uma paixão contagiante pela causa. É com esse espírito que a dupla está proporcionando e participando de uma verdadeira imersão cultural, em que  o intercâmbio vai além das notas musicais. 

Durante a residência artística em Vitória da Conquista, eles têm ouvido e aprendido sobre os sons e os ritmos da Bahia, incorporando influências que vão desde o rock rural de Santa Catarina até o boi de mamão e a milonga do Rio Grande do Sul. A cada descoberta, a música de Fernanda e Mateus ganha novos temperos, ampliando ainda mais as possibilidades do que eles podem criar juntos com os músicos baianos do duo B.A.V.I.

Mas a troca não é unilateral. "A Bahia é um lugar com uma tradição musical tão rica que a nossa intenção é absorver o máximo possível para levarmos à nossa terra. Cada encontro, cada conversa, cada som novo é uma semente que estamos plantando", conta Mateus, com a energia de quem acredita no poder da música como ponte entre diferentes culturas. 

O show "Juntando Sotaques", resultado dessa residência artística, não é apenas uma apresentação, mas a materialização de um sonho compartilhado. Para Fernanda, o projeto representa uma oportunidade de conectar os dois extremos do Brasil e fazer com que as pessoas percebam que, apesar das diferenças, somos parte de um mesmo todo.

"É uma honra poder trazer para a Bahia o que de melhor temos em Santa Catarina e, ao mesmo tempo, aprender com eles, com essa alegria contagiante, com a história que o baiano carrega em sua música. Isso vai para o palco de uma forma que só quem vive essa experiência é capaz de traduzir", destaca Fernanda, lembrando da troca rica com a dupla B.A.V.I., formada por João Almy e Anderson Petti, que trazem uma proposta inovadora ao usar o berimbau amplificado e o violão inventado.

O evento de encerramento, que será realizado no próximo sábado (22), às 19h, no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima, em Vitória da Conquista, é um marco para os artistas e para a comunidade local. Os ingressos gratuitos para PCDs e acompanhantes refletem o compromisso do Duo A Corda em Si em garantir que todos tenham a oportunidade de vivenciar o espetáculo. A acessibilidade no evento não se resume ao acesso físico ao local, mas também ao conteúdo artístico e emocional, proporcionando uma experiência completa para todos os participantes.

A paixão pela música e o compromisso com a inclusão definem o Duo A Corda em Si. (Foto: Sesc Instrumental)

Além disso, as ações do projeto vão além do palco. Mateus e Fernanda realizaram oficinas sobre “Produção Artística e Acessibilidade Cultural”, e também promoveram a interação direta com a comunidade surda e a Associação Conquistense de Integração do Deficiente (ACIDE), ampliando o alcance e impacto do projeto. "Queremos mostrar que, ao pensar na inclusão, estamos todos ganhando, não só as pessoas com deficiência, mas toda a sociedade", afirma Fernanda, com a sabedoria adquirida ao longo dos anos.

Para os músicos, essa experiência está sendo também uma oportunidade de refletir sobre o impacto da arte e da música na vida das pessoas. "A música tem esse poder de ultrapassar fronteiras, de nos fazer sentir parte de algo maior", conclui Mateus. E é exatamente isso que eles estão oferecendo: um espaço de pertencimento, de transformação e de conexão entre duas culturas, de dois estados e, principalmente, entre todos que, de alguma forma, se conectam com a sua mensagem.

O que começou como uma ideia simples, de juntar dois sotaques, se tornou um movimento poderoso, repleto de significados que vão muito além da música. Com a resiliência e a sensibilidade de Fernanda e Mateus, “Conexão SC > BA” já é mais do que um projeto artístico: é uma celebração da vida, da inclusão e da beleza da diversidade.

Da redação

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