Direito à paisagem, por Fernando Teixeira
Espécie invasora já prejudica manguezal e vista da baía
De acordo com notícia recente publicada neste Portal, a Fundação Municipal de Meio Ambiente – FLORAM, realizou a retirada de indivíduos da espécie Leucaena leucocephala, que vinham se desenvolvendo em alguns trechos da Avenida Beira Mar Norte, Centro de Florianópolis.
Popularmente conhecida como Leucena, ela é considerada uma das plantas invasoras mais agressivas do mundo, sendo encontrada em mais de 100 países, predominantemente em áreas degradadas ou costeiras. Essas árvores que à primeira vista podem parecer benéficas, acabam causando grandes prejuízos para as plantas nativas, dominando-as de tal modo até fazê-las desaparecerem.
Do outro lado da cidade, o aterro hidráulico implantado às margens da Baía Sul, entre os bairros do Saco dos Limões e Costeira do Pirajubaé, também vem sofrendo com este grave problema.
Idealizado para possibilitar a implantação de um novo sistema viário que permitisse deslocamentos mais rápidos às localidades existentes à leste e extremo sul da Ilha de Santa Catarina, o aterro, em princípio, transformou não só a paisagem das localidades onde foi executado, mas também a relação de proximidade que as comunidades locais mantinham com o mar.
Desde sua implantação na década de 1990, até bem pouco tempo atrás, o que se viu foi um expressivo abandono dos poderes públicos estadual e municipal para com esta que é uma das mais importantes Áreas Verdes de Lazer de nossa capital, conforme define o Plano Diretor de Florianópolis.
Se por um lado este espaço recebeu recentemente uma “repaginada”, com a implantação de novas ciclovias, calçadas e arborização, por outro ela ainda carece de muita atenção do poder público quanto aos seus aspectos sanitários e ambientais. Uma prova disso é a necessidade da retirada imediata do grande número de leucenas que se espalha por diversos pontos do aterro.
É urgente a retirada imediata do grande número de leucenas que se espalha por diversos pontos do aterro.
Atualmente quem se dirige ao Sul da Ilha de Santa Catarina, já não consegue enxergar ou contemplar, com facilidade, a linda paisagem que contorna a Via Expressa Sul, sobretudo a que avista a estonteante baía, tendo ao fundo o Maciço do Cambirela, o Morro do Ribeirão e outros tantos elementos de elevado valor cênico e paisagístico, sem contar o fato de que a grande quantidade de Leucenas interfere na segurança de pedestres e ciclistas que diariamente ali realizam suas atividades físicas.
Além disso é possível observar claramente que a proliferação dessa espécie invasora vem se aproximando a passos largos da Reserva Extrativista do Pirajubaé, uma Unidade de Conservação Federal de grande valor ambiental e social, pois abriga, entre outros elementos, o manguezal do Rio Tavares, o maior em extensão localizado na Ilha de Santa Catarina.
Em 2019, com base em estudos realizados por professores da UFSC, a AMOSAC (Associação de Moradores do Saco dos Limões), ingressou junto ao Ministério Público, com pedido de providências para resolução desse grave problema. O fato é que mesmo tendo o pedido sido acatado e notificada a FLORAM para a realização deste trabalho, até hoje a situação permanece a mesma, ou melhor, já se agravou de forma considerável, pois é visível encontrar-se indivíduos da espécie Leucena em locais não vistos naquele ano. Como filho do bairro Saco dos Limões, arquiteto e professor dos Cursos de Saneamento e Meio Ambiente do IFSC durante longos anos, deixo através deste espaço um apelo aos poderes públicos, municipal e estadual, para que executem de imediato a realização deste importante trabalho, sob pena de que prejuízos ainda maiores possam vir a ocorrer, haja vista a fragilidade de diferentes e valiosos ecossistemas presentes naquele entorno.
Texto e fotos por Fernando Teixeira
Sobre o autor
Fernando Teixeira
Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFSC), mestre em Geociências e Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC), natural de Florianópolis. Atualmente tem se dedicado à fotografia.
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