Andrino e Lagoa – um antigo caso de Amor! - Parte II, por Fernando Teixeira

Com apenas dezenove anos, e já preocupado em defender as questões que envolviam sua comunidade, o jovem Edison Andrino de Oliveira ingressava na carreira política, filiando-se ao antigo MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido no qual permaneceu até 2019. Então decidiu desfiliar-se, descontente com os rumos tomados por essa agremiação outrora tão combativa.
Além de vereador, deputado estadual e federal, Edison acabou sendo eleito prefeito de Florianópolis em 1985, através do voto direto, justamente no período de redemocratização pelo qual passava o país.
As notícias que chegavam de todos os cantos do Brasil e do mundo, ouvidas quando ainda criança no rádio instalado no armazém da família, para onde também corriam muitos membros da comunidade local em busca de informações, talvez tenham sido a chama que o despertou para o desbravamento de novos cenários, que iam mais além do que sua tão estimada Lagoa da Conceição.
Pesca submarina - uma das paixões de Andrino (Foto de arquivo de Edison Andrino)
Já seu lado empreendedor não há como dissociá-lo das raízes familiares, tendo o pai como sua grande referência. Por dezoito anos foi proprietário de restaurante onde servia os produtos que ele mesmo capturava, seja através da pesca submarina, da coleta de ostras no Rio da Madre, ou dos mariscos retirados nos costões das praias da Ilha de Santa Catarina.
Edison faz questão de ressaltar que para manter as atividades comerciais, aliadas à carreira política, contou sempre com a imprescindível ajuda de sua mulher, Márcia.
Andrino e Marcia - parceria e cumplicidade que atravessam décadas (Foto de arquivo de Edison Andrino)
Na condução do município, preocupado com as rápidas transformações que vinham acontecendo no território ilhéu, Andrino tratou de valorizar tanto os aspectos do patrimônio natural da Ilha de Santa Catarina, quanto a criação de leis que incentivassem a preservação de edificações de valor histórico para Florianópolis.
Conta que, sob seu comando na Prefeitura Municipal, foram tombadas mais de 500 edificações. Conjuntos como os existentes na rua Conselheiro Mafra, Praça XV de novembro, rua Menino Deus, ou mesmo muitas outras construções isoladas, espalhadas pela Ilha, são resultado de sua coragem em enfrentar os que pensavam em aniquilar o que ainda restava de nossa arquitetura mais tradicional.
No mesmo período tratou de derrubar, com a ajuda de entidades comunitárias criadas em seu mandato, uma lei que permitia a construção de até 12 pavimentos nas praias da Ilha de Santa Catarina. Afirma que se essa decisão não tivesse sido tomada naquele momento, hoje teríamos algo semelhante ao que vem acontecendo com municípios do litoral norte catarinense, que convivem com uma proliferação de edificações sem precedentes.
Manifesta-se, no entanto, angustiado com as modificações implementadas no novo plano diretor, recentemente aprovado. Segundo ele, a possibilidade de acréscimos aos gabaritos existentes irá fazer com que passemos a conviver logo, logo, com edifícios bem maiores do que estamos acostumados a ver, em se tratando das praias localizadas no interior do município.
A Lagoa da Conceição vista do mirante - ao fundo o Parque Municipal das Dunas (Foto Fernando Teixeira)
Edison não se coloca contrário ao crescimento de Florianópolis, mas acredita que por estarmos em uma ilha, cercada de ambientes frágeis, possuímos características muito distintas de outras cidades e que, por isso, precisamos refletir urgentemente sobre um modelo de desenvolvimento diferente deste que estamos vendo ser implementado por aqui. Em sua passagem pela prefeitura também teve o cuidado de pensar e agir sobre a criação de áreas de preservação, paisagísticas e ambientais, destacando-se entre estas, o Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição e o tombamento da Costa da Lagoa, como patrimônio histórico e natural do município.
Preocupado em manter as características físicas, culturais e o modo de vida da localidade acima mencionada, implementou uma cooperativa de barqueiros com o objetivo de viabilizar o transporte de moradores e turistas que se deslocam todos os dias deste e para este belíssimo recanto do município, a Cooperbarco. Até hoje, ela mantém-se como a única ação efetiva de transporte coletivo através de embarcações, implementada em Florianópolis desde que os barcos que faziam a travessia ilha-continente foram desativados na primeira metade do século XX.
A nova ponte da Lagoa - obra importante para o trânsito e vital para revitalização da Lagoa Menor (Foto Joel Pacheco)
Sobre a nova ponte em construção na localidade, Andrino não acredita que ela irá resolver os problemas viários da região, que são bastante complexos, mas entende como vital para a recuperação ambiental da lagoa menor. Atualmente o espaço de ligação entre as duas porções lagunares está estrangulado, o que dificulta, em muito, o fluxo normal das águas em seu interior, acarretando prejuízos à fauna e flora locais.
Prédios ainda baixos na Lagoa, podem dar lugar a novas construções de maior porte (Foto Fernando Teixeira)
Do alto de seus quase 80 anos, Andrino, ou Lagoa, como é conhecido por muitos, guarda em sua mente muitas histórias e em seu coração as boas lembranças deste chão materno e, ao mesmo tempo, um sentimento de dever cumprido com este lugar que o viu nascer, crescer e desenvolver-se.
Sua maior preocupação é que jamais percamos de vista nossa identidade ilhoa, aquele sentimento bom de pertencimento a este sítio onde viveram nossos antepassados. Não obstante as profundas alterações que tem visto acontecer neste abençoado “pedacinho de terra, perdido no mar”, mantém-se otimista e acreditando num futuro melhor.
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Sobre o autor

Fernando Teixeira
Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFSC), mestre em Geociências e Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC), natural de Florianópolis. Atualmente tem se dedicado à fotografia.
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