A magia da benzedeira
Camila Gomes desenvolveu sua espiritualidade – e sensibilidade – e hoje compartilha saberes ancestrais através do benzimento
“Meu legado é ser uma ponte para que cada um acesse a magia que vive em si”, destaca Camila Gomes, nossa Personagem da Semana. Desde criança, ela sente com intensidade tudo o que é voltado à espiritualidade e o contato com a natureza. Ao longo dos anos, Camila, 43 anos, foi acolhendo essa sensibilidade, reforçando a sua fé e canalizando sua experiência de vida para auxiliar as pessoas. E mais: hoje ela trabalha para preservar e fortalecer o papel das benzedeiras em Florianópolis, sendo conhecida como a mais jovem benzedeira da Ilha.
Graduada em Psicologia, educadora popular e terapeuta, Camila conta que a afinidade com a espiritualidade iniciou lá atrás, muito pequena, especialmente quando acompanhava a avó Irani nas missas, aos 7, 8 anos de idade. “A minha família paterna é católica e muito religiosa, e foi onde eu cresci, infância, adolescência, juventude. Eu sempre tive adoração pelo ritual da igreja, sempre achei lindo rezar”, conta.
Dentro da Igreja, cursou catequese, crisma e participou de grupo de jovens. Porém, com os anos de formação, já na juventude, percebeu que algumas questões já não faziam sentido e começou a questionar o real papel da religião na vida das pessoas. “Entrei em conflito com a questão da religiosidade distinta da humanidade. Porque, pra mim, a caridade, a solidariedade e o amor sempre foram muito fortes. Os ritos também eram coisas que eu gostava, mas só adoração a Deus eu achava que não era o caminho. A igreja é uma casa comum onde precisamos partilhar”.
Nesse mesmo período, a mãe estava frequentando o centro espírita, o que também despertou o interesse de Camila. “Comecei a frequentar porque me fazia bem, mas gostava mesmo era dos rituais da igreja católica. Sempre tive muita vontade de ir às missas”, conta.
Um desafio e o despertar
Aos 21 anos, Camila Gomes passou por um processo desafiador: engravidou do primeiro filho e quase perdeu a vida. Doente, ficou internada no hospital por muito tempo. Na época, cursava Psicologia na faculdade. “Lembro que tínhamos uma disciplina chamada Psicopedagogia, que é quando aprendemos a fazer diagnóstico psíquico. Então eu observei que eu estava vivendo uma situação diferente, eu comecei a ouvir vozes, tinha sintomas físicos; isso me afetava muito. Eu queria uma resposta para o que eu estava sentindo. Rezei muito pra Deus me mostrar o caminho, me mostrar o que eu tinha”, conta.
Após essa fase intensa, Camila teve uma experiência na Umbanda, que foi onde teve respostas que esperava para o seu movimento de cura. Lá ficou por 7 anos, se tornou médium, aprendeu a benzer e a se aproximar ainda mais dos rituais dos elementos da natureza. A partir daí, foi capacitada para abrir seu próprio espaço e recebeu a direção para tornar-se benzedeira.
Ela conta que os anos de experiência a levaram a fazer cruzamentos entre a Igreja Católica e a Umbanda, o que resultou na criação do “ritual da benzedeira”, um projeto lançado em 2022, que ela nomeou de “Saberes Ancestrais”. “Eu falo que é a missa da benzedeira; uma roda de bênçãos onde os participantes passam por um processo de autoconhecimento, de autocuidado, de olhar pra dentro, olhar pra fora e olhar para o divino”, explica.
Saberes Ancestrais foi aprovado pela Lei de Incentivo à Cultura do Município. Camila conta que a ideia é que, em 2024, as rodas de bênçãos sejam realizadas espaços públicos, com outras benzedeiras, gratuitamente para as comunidades.
Coletivo de benzedeiras e benzedeiros
Para preservar a cultura das benzedeiras em Florianópolis e trabalhar na patrimonialização, Camila Gomes criou um coletivo junto com a Prefeitura. A ideia é difundir esse saber ancestral através de ações coletivas na cidade.
Dentre as ações que já estão acontecendo, está o benzimento da comunidade embaixo da Figueira da Praça XV, no centro da Capital, que acontece no domingo de cada mês. Além disso, o grupo está sendo convidado pela Prefeitura para participar dos eventos culturais da cidade. “Eu brinco que, se me deram a faixa da mais jovem benzedeira da Ilha, eu preciso fazer algo com isso para a tradição não morrer. Meu desafio é trazer essa potência do benzer para a cultura da cidade. Isso não pode ser perdido, é uma conexão com a natureza, com a ancestralidade, com saberes que foram passados”, finaliza.
Salinha de Bênçãos
Camila inaugurou recentemente uma Salinha de Bênçãos, no centro de Florianópolis, onde desenvolve o seu trabalho de acolhimento em dois formatos: Roda de Benção Presencial (em grupos) e Acolhimento Terapêutico Individual.
Conheça mais sobre o trabalho de Camila no Instagram @camilabenzedeira
Texto escrito por Gabriela Morateli dos Santos
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