Ética profissional é sempre o melhor negócio
Nunca tem se falado tanto em ética quanto nos dias atuais, tanto no Brasil quanto no mundo. Uma das crises da modernidade que vivemos (e isso não diz respeito apenas ao Brasil) é quanto ao dilema entre agir eticamente, de acordo com o que seja correto, e agir de acordo com motivações duvidosas ou para satisfazer interesses particulares ou de terceiros.
No nosso cotidiano enfrentamos questões de ética o tempo todo, seja nas decisões familiares, em roda de amigos, no trabalho e na condução de negócios e inclusive na política do país. Somos confrontados diariamente com muitas situações em que os valores éticos mais básicos são comprometidos em todos os níveis. Talvez por isso o significado de ética se esvazie um pouco, gerando ainda mais dúvidas sobre o que seria o comportamento ético. Abaixo, verificamos alguns dos conceitos encontrados:
“Ética é aquilo que minha intuição diz que é certo e errado”.
“Ética tem a ver com minhas crenças religiosas”.
”Ter uma postura ética é fazer o que a lei determina”.
“Ética é o parâmetro de comportamento aceito pela nossa sociedade”.
Tratando dessa questão em uma dimensão ampla, as manifestações que ainda temos acompanhado no Brasil e os recentes casos julgados de improbidade, ascenderam discussões em torno da ética que ainda repercutem em todas as esferas sociais. Na esfera pública, a ética pode ser tratada quando o interesse social e o bem estar comum são priorizados em detrimento da satisfação de interesses particulares.
Já em uma menor dimensão, ao analisar a questão sob a perspectiva profissional, a ética, de modo geral, abrange os critérios de escolha para valorizar e padronizar as condutas na organização. De acordo com o filósofo Mário Sérgio Cortella, ética é um conjunto de princípios e valores que se deve usar para responder às três grandes perguntas: Quero? Devo? Posso?
Assim, a ética pode ser concebida como: “Padrões bem fundamentados do que é certo e errado, os quais determinam o que as pessoas devem fazer, geralmente no que diz respeito aos seus direitos, deveres, contribuições à sociedade, justiça ou virtudes específicas”. (Universidade de Santa Clara, EUA).
Ainda na perspectiva profissional, a ética é concebida como um dos pilares de algumas organizações, principalmente por defender o agir de modo correto. Ocorre que a ética vai muito além de um slogan ou de um discurso feito. Ela deve transcender o conceito e adentrar na esfera prática do trabalho o tempo todo, sem exceções. Cada ação realizada que imaginamos, ingenuamente, que não haveria grandes consequências, pode repercutir negativamente de tal forma que seus efeitos saiam do nosso controle.
Outro conceito muito difundido é que a ética está intrinsecamente atrelada à integridade. Assim, pode ser compreendido como: Integridade é quando agimos corretamente quando achamos que não estamos sendo observados. Esta concepção é muito interessante, pois em uma era feita cada vez mais de aparências e imagens, e difusão delas por meios de comunicação (seja pelo Instagram ou pela mídia em geral), a ética deve ser seguida (falando na linguagem dos twitters) até mesmo quando “achamos” que não estamos sendo observados. Isto inclui, inclusive, opiniões emitidas em redes sociais e chats de conversas online.
Com a invasão do mundo virtual na vida das pessoas, a linha que separa a esfera púbica da privada ficou cada vez mais tênue, sendo que as opiniões proferidas em sites de relacionamento ou em aplicativos de trocas de mensagens, como o WhatsApp, demonstram o quão éticas são as pessoas que emitem tais manifestações, mesmo que muitas vezes imagina-se que mal são lidas ou são simplesmente ignoradas.
Porém, elas não só estão sendo lidas como podem refletir o caráter de quem as emite. Deve-se ter em mente que o indivíduo é ético independentemente de estar agindo sobre o olhar dos outros. Logo, a ética deve nortear todas as ações, mesmo quando se acha que não está sendo observado. A imagem e a reputação são bens que devem ser zelados de forma que reflita verdadeiramente a essência do profissional, e corresponda genuinamente com seu agir eticamente.
Por exemplo, é necessário refletir sobre a responsabilidade que se tem ao proferir comentários de outros colegas que à primeira vista possam parecer inofensivos, mas repercutem de maneira negativa na imagem do profissional alvo dos comentários e, de maneira indireta, na imagem do próprio profissional que emite tais comentários. É primordial ter em mente que a opinião de cada um está consubstanciada pela formação que cada um teve, não correspondendo, muitas vezes, fielmente à realidade. E mesmo que correspondesse, sabemos que não existe direito que ampare tal conduta, extrapolando dessa forma, a circunferência do agir eticamente.
Considerando a diversidade de culturas, a variedade de influências, como família, educação, etc., as quais fizeram parte da formação de cada um, é essencial respeitar as diferenças no meio profissional sem quebrar os valores éticos principais. Ao depararmos com um problema ético, deve-se ponderar as alternativas possíveis para agir e refletir sobre seus efeitos. O uso do bom senso atrelado a uma visão ampla e madura das dimensões morais da situação problema, além de compreender se está desrespeitando a lei ou os valores, princípios e políticas de qualquer organização.
É claro que o agir corretamente deve ser uma vontade advinda unicamente do próprio ser, e não pelo receio da sanção ou da repressão do olhar alheio. De qualquer forma, por mais delicado que o tema seja, é necessário promover um constante debate para alinhar condutas e para que expectativas de ações não sejam frustradas. Além disso, a comunicação entre os profissionais deve estar em constante reforço para evitar condutas que ferem a ética.
Um ambiente saudável de trabalho é importante para motivar os profissionais a irem além das metas, buscar resultados inesperados e aumentar a produtividade. Um bom líder do projeto sabe que para ter a equipe sempre com ele, principalmente nas dificuldades enfrentadas no trabalho, como diante de um prazo apertado, por exemplo, é fundamental manter a equipe coesa, servindo de exemplo para seus pares e agindo eticamente na busca dos objetivos traçados.
Logo, é sempre bem-vindo agir eticamente, por mais que isso implique, muitas vezes, em questionar uma situação. Desta forma, é constantemente válido agir pautado no bem, no correto, no justo e, assim, proporcionar o melhor de nós no mundo, seja ele profissional ou não.
Artigo escrito por Luíza Mesquita Campos, advogada do escritório Martinelli Advogados.
Da redação