Memórias podem atravessar gerações através dos genes?
Ciência corrobora estudo de neurocientista brasileiro sobre a teoria
Esta semana, um artigo publicado no jornal britânico “The Guardian”, intitulado “The big idea: can you inherit memories from your ancestors?” reacendeu a discussão sobre um fenômeno que ainda precisa de maiores explicações no meio científico, a transmissão de memórias para descendentes.
Dois estudos principais, citados no artigo do jornal, reforçam esta ideia, um realizado com ratos que foram condicionados a temer o cheiro de cereja doce que tiveram netos que, mesmo sem contato com o cheiro, tiveram a mesma reação quando colocados diante dele. O outro foi realizado com sobreviventes do holocausto e seus filhos, mostrando que os descendentes apresentavam alterações em um gene relacionado à resposta ao estresse.
Memórias podem ser transmitidas para os descendentes? Alterações genéticas podem ser influenciadas por experiências de vida? É possível alterar esses traumas adquiridos? Estas são as perguntas que a ciência se dedica atualmente a responder.
A relação genética não invalida terapias
De acordo com o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, Pós PhD em neurociências, membro da Society For Neuroscience nos Estados Unidos, descobrir relações genéticas com traumas não invalida terapias psicanalíticas, mas oferece mais informações para o tratamento.
“Há um temor de que descobrir melhor como heranças genéticas influenciam na existência de traumas possa afetar a credibilidade de terapias psicanalíticas, mas na verdade está sendo acrescentada uma nova perspectiva e uma nova gama de informações que podem ajudar a entender mais sobre a origem do transtorno, direcionar e personalizar melhor essas terapias”, explica Dr. Fabiano.
É possível integrar a terapia aos dados genéticos para ter melhores resultados, sempre considerando a influência da herança genética do paciente, a chamada terapia de psicoconstrução.
“A terapia de psicoconstrução baseia-se na memória primitiva que está intimamente ligada à genética; é uma “radiografia da alma” do paciente, com seus traços de personalidade e perfil psicológico. Na prática, o paciente é submetido à psicoconstrução, numa reforma interior que gera autonomia para encontrar soluções para problemas futuros”, afirma no estudo.
A psicoconstrução: Uma herança genética
Com o desenvolvimento da genética será possível identificar cada vez com mais precisão esse tipo de impacto dos ancestrais, mas atualmente já se sabe que marcadores genéticos podem impactar a personalidade, traumas e perfil psicológico do indivíduo.
"O ser humano pode sim carregar em suas células problemas desenvolvidos por seus ancestrais, e sabe-se que os maiores benefícios que levam à cura provêm de informações sobre marcadores genéticos [...] A mudança na verdade é de dentro para fora. Ir até a causa para mudar os efeitos”, afirma Dr. Fabiano no estudo.
“As histonas, presentes nos espermatozóides, e os hormônios que a mãe transmite ao embrião através do cordão umbilical carregam memórias genéticas. Essas memórias se unem aos instintos primitivos para formatar a nossa personalidade e subjetividade. Assim, nós carregamos traços de nossos ancestrais que moldam quem somos”, ressalta.
Da redação
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