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JANEIRO BRANCO II: “O apanhador no campo de centeio”, por Luzia Almeida

. A vida pode ser encarada a partir de uma essência altruísta como a de “Holden” que, mesmo fora da faculdade, ele queria ser um “apanhador no campo de centeio” e a ideia de salvar crianças é maravilhosa.

Publicado em 28/01/2024

“Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde eu nasci, como passei a porcaria da minha infância”. É assim que começa a obra “O apanhador no campo de centeio” de D. J. Salinger, publicado em 1951. Romance que aponta um quadro depressivo de um adolescente expulso do colégio e as situações adversas por que passa perambulando pelos bares e pelas ruas de Nova York e de como ele precisava de apoio.

Perambulando pelos bares, o personagem “Holden Caulfield” confessa: “Afinal, quando resolvi descer do aquecedor e ir ao vestiário, estava chorando e tudo. Não sei por quê, mas estava. Acho que era porque estava me sentindo tão deprimido e sozinho”.
Depressão e solidão marcam a vida do personagem no período da adolescência com a morte do irmão “Allie” e a situação no colégio não é boa, acaba reprovado e expulso, mas resolve sair antes do dia oficial. Assim, a trajetória que ele vivencia revela um
misto de tristeza e de insatisfação consigo mesmo e com os outros e um estado de espírito confuso que revelava o quanto ele precisava de ajuda. Eram várias as cobranças, os questionamentos e as dores de “Holden”.

A importância da leitura deste romance esquenta a meta do Janeiro Branco no que se refere à conscientização da saúde mental porque descortina a problemática emocional do outro e escancara aos nossos olhos a nossa indiferença. Não há como descobrir o que uma pessoa sente sem dialogar com ela. Todavia, escutar e conversar são verbos que nos escapam nesta vida agitada com tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Há um clima de desgosto, de insatisfação, de falta de compreensão, de tudo pautado na desigualdade social, na intolerância e no desamor. Somos vítimas e vilões de um século perturbador, mas não estamos autorizados à surdez.

“Holden” fica perambulando entre bêbados e prostitutas: “—Tá bom — eu disse. Era contra os meus princípios e tudo, mas eu estava me sentindo tão deprimido que nem pensei. Esse é que é o problema. Quando a gente está se sentindo muito deprimido não consegue pensar”. É desoladora a situação dele à procura de alguém para conversar e, na sua solidão, ver o tempo passar para voltar pra casa e receber a insatisfação e a mágoa dos pais.

São várias situações para derrubar uma pessoa, principalmente situações de perdas, de desemprego, de separação, de injustiças e a combinação dessas situações podem arrebentar até o super-homem quanto mais um mortal. E, como estamos no início do ano, é tempo de avaliarmos nossos sonhos com mais intensidade e abandonar a capa das frustrações e vestir uma roupa nova com cheiro de naftalina (da conquista). Pra alguns é mais difícil por conta das oportunidades que nem são tantas, mas para outros é necessário encarar a vida a partir de uma página em branco: escrever direito uma proposta, um projeto com uma esperança renovada.

Nesse sentido, a campanha Janeiro Branco abraça a ideia da saúde mental com os imperativos: “seja mais presente, viva a vida com respeito, tenha mais diálogos, invista em afeto, cuide de sua saúde, busque autoconhecimento, dê-se mais tempo, viva com mais sentido, diga não a preconceitos, diga não a violências”: (www.corensc.gov.br). A vida pode ser encarada a partir de uma essência altruísta como a de “Holden” que, mesmo fora da faculdade, ele queria ser um “apanhador no campo de centeio” e a ideia de salvar crianças é maravilhosa.

Por Luzia Almeida, professora, escritora e mestra em comunicação.

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Sobre o autor

Luzia Almeida

Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação


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