Vereadora Maryanne Mattos lembra que lugar de mulher também é na Política
Dando continuidade à série de entrevistas com vereadoras de Florianópolis, a convidada desta semana é Maryanne Mattos. Confira:
Imagem da Ilha: Cinco vereadoras iniciaram seus mandatos em 1º de janeiro. É a maior bancada feminina da Câmara de Florianópolis nos últimos 85 anos. Juntas, vocês somaram mais de 11 mil votos. Quais fatores, em sua opinião, impulsionaram o voto em favor da mulher?
Marianne Mattos: Vejo como uma grande vitória e a quebra da barreira de que lugar de mulher não é na política e de que mulher não vota em mulher. Nós, mulheres, estamos lutando por cada vez mais espaço, e a prova disso é a eleição de cinco mulheres pela primeira vez na história da Câmara Municipal de Florianópolis. Somos de partidos diferentes, bandeiras diversas, mas mulheres de posicionamentos políticos firmes e que mostram que não vão baixar a cabeça e votar no que não acreditam. Nós, mulheres, somos práticas, mostramos o que não está certo e agora temos e daremos voz e vez a todas as outras mulheres da cidade. Hoje, sinto que podemos dizer que há representatividade de verdade no espaço político legislativo municipal. E, pra mim, é muito importante o fato de inspirar novas gerações a sonharem e acreditarem que podem ocupar estes lugares de liderança e poder.
Apesar das diferenças político-partidárias, algumas questões comuns à mulher poderão unir a bancada feminina. De que forma a Câmara poderá colaborar na busca de soluções?
Hoje, temos a Comissão dos Direitos da Mulher e Igualdade de Gênero, pela primeira vez contando com a presença de vereadores e vereadoras trabalhando juntos. E, através do nosso requerimento, também foi aprovada por unanimidade, em plenário, a criação da Frente Parlamentar dos Direitos das Mulheres, que caberá a mim a presidência. Por meio desses espaços, iremos fomentar a criação de políticas públicas para as mulheres, propor ações, mas, principalmente, ouvir e construir juntos e juntas, estreitando o vínculo entre o legislativo e a população de Floripa. Nosso objetivo é que prevaleça o diálogo e a construção de uma política independente e comprometida com a cidade. Acredito que será fundamental trabalharmos em conjunto com as outras vereadoras nas questões relacionadas às mulheres, como promoção de leis e ações que combatam a violência contra a mulher.
Casos de feminicídio e supostos estupros têm sido destaque nos noticiários nos últimos tempos. Você se considera uma "feminista"? Qual é a importância do movimento nos dias atuais?
Eu sempre defendo a igualdade em qualquer lugar, então, por exemplo, a Câmara que eu desejo é aquela paritária, metade homens vereadores e metade mulheres vereadoras. E é isso que o movimento feminista deseja: a igualdade. Mostrar que, sim, homens e mulheres podem e devem andar lado a lado e dialogar juntos por todas e todos. Só assim teremos uma sociedade representada de verdade. Mas, enquanto não temos esta igualdade, e enquanto uma mulher continuar morrendo pelo simples fato de ser mulher, nós vamos continuar lutando por nossos direitos, em especial o direito fundamental à vida!
De maneira geral, qual é a sua expectativa para o segundo mandato do prefeito Gean Loureiro? Como será sua relação com o governo municipal?
A partir do momento que um prefeito ou, no meu caso, uma vereadora, assume, está representando todas as pessoas e todas as bandeiras. Por isto, eu digo que vou defender tudo que for positivo para a cidade, seguindo os meus princípios e o que eu acredito. E desejo o mesmo vindo do gestor municipal: que mantenha, em primeiro lugar, a transparência nos atos, e que atenda a todos e a todas, sem trocas de favores. Da minha parte, cumprirei com o papel de vereadora, que é fiscalizar de forma muito firme o Executivo para saber se zela pelo justo, e se está usando de forma correta os recursos. Penso que a Câmara de Vereadores deve, sim, garantir a construção do diálogo entre legislativo e Prefeitura em prol dos moradores da cidade, mas não pode ser uma extensão do Executivo. Assim, sua independência é fundamental para o funcionamento da democracia.
A Câmara tem sido alvo de críticas por reservar muito tempo a assuntos de menor relevância, como nomear ruas e criar datas, por exemplo. Alguma chance dessa realidade mudar nessa nova legislatura?
Eu não sou contra homenagear pessoas que fizeram história em Florianópolis, pelo contrário, é uma forma de agradecer por todo o trabalho feito na cidade e uma maneira de manter vivo seu nome e seu legado para as outras gerações. Acredito que há, sim, assuntos e projetos que merecem mais a nossa atenção na Câmara, mas não vejo as homenagens como uma crítica, pelo contrário, estas pessoas fizeram, fazem e sempre farão parte da cultura local.
No último dia 26/01, a senhora, por estar com Covid, não participou da votação do projeto de pacote emergencial enviado pelo prefeito Gean Loureiro (DEM), que alterava benefícios dos trabalhadores da Comcap. Qual seria o seu posicionamento sobre o assunto?
Realmente, eu tive uma pneumonia causada por complicação da Covid-19, e precisei me ausentar completamente por recomendação médica. Senti-me impotente por não participar da votação de projetos importantes para a cidade, mas naquele momento eu precisava cuidar da minha saúde. Desde que recebemos os seis projetos, a minha posição sempre foi clara que o melhor seria a devolução ao Executivo, para termos uma discussão separada sobre cada tema e com tempo hábil para análise, para estudar com segurança, agir com assertividade e amparo jurídico, e ouvir os conselhos envolvidos, a sociedade civil organizada, a comunidade e os servidores, que eram os impactados diretamente pelos projetos. Reconheço a importância do serviço da Comcap em Florianópolis, tanto que é a Capital que mais recicla no país e a primeira cidade a fazer coleta de resíduos verdes. Por isso, conforme falei na reunião da Comissão Especial, um dia antes da votação, em minha opinião, a questão da Comcap é de falta de gestão. Hoje, os cargos de chefia na autarquia são cargos nomeados pelo Executivo, ou seja, cargos políticos, então se, por exemplo, havia falha no roteiro, se estava curto demais para o tempo de serviço, o correto seria o gestor mudar o roteiro e por aí vai, ajustando as questões e não colocando a culpa no trabalho do servidor. Atitudes simples que fazem a diferença no serviço público e que, na maioria das vezes, não são colocadas em prática. Então, a minha posição é de que não havia como concordar com a pressa que queriam analisar pautas tão importantes, enquanto havia assuntos mais urgentes a serem tratados, como pandemia, lixo acumulado e ruas alagadas, colocando ainda mais as pessoas em risco por conta da falta deste serviço na cidade. Até que ponto a pressa vale mais que a vida das pessoas? Fica a reflexão!
Leia as entrevistas com as vereadoras Pri Fernandes, Carla Ayres e Manu Vieira, clicando AQUI.
Da redação
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