Os desafios da ACI na era digital
Presidente da entidade que completou 90 anos esta semana, Déborah Almada fala sobre as mudanças na Comunicação em SC durante essa trajetória
A presidente da Associação Catarinense de Imprensa – Casa do Jornalista (ACI), Déborah Almada, fala ao Imagem da Ilha sobre as principais atividades desempenhadas desde o início de sua gestão, em novembro de 2020, em meio à pandemia, até agora, quando a entidade completou 90 anos. Conta também sobre os projetos de empreendedorismo e tecnologia direcionados aos profissionais da comunicação e que estão sido desenvolvidos pela ACI, e outros assuntos relacionados à área, como a presença das mulheres nos veículos de imprensa, e as fake news.
No final de 2020, você assumiu a presidência da ACI. Nesse um ano e meio, quais atividades realizadas nesse período você considera as mais relevantes?
Fizemos muitas coisas neste período, mas eu destaco a autonomia da Diretoria Executiva. Isso empoderou a equipe e fez com que muitos projetos evoluíssem. Todos estão comprometidos com o sucesso da gestão. Nossas regionais estão mais fortes, tem participação atuante em diversos projetos. Além disso, modernizamos os canais de comunicação da ACI, o que nos permitiu monetizar o site, por exemplo; lançamos o primeiro prêmio de jornalismo da história da entidade, fizemos uma parceria com a ESAG Jr para modernização da gestão, reformamos a sede da entidade, promovemos eventos, criamos novas parcerias. Foram quase dois anos muito produtivos, apesar da pandemia.
A ACI está completando 90 anos este mês. Qual a principal contribuição da associação à imprensa e à população em geral ao longo dessa trajetória? Quais são os novos projetos nessa contagem regressiva para o centenário?
A Associação Catarinense de Imprensa tem um compromisso inegociável com a liberdade de imprensa e com os princípios democráticos. Para os jornalistas, é uma instituição na qual podem se apoiar em momentos críticos de ofensa às liberdades ou ataques à profissão e aos profissionais. Para a sociedade, é a garantia de resistência a qualquer ameaça aos princípios democráticos e às liberdades.
Os projetos são inúmeros e gostaríamos de ter mais pessoas envolvidas para dar conta de tudo que planejamos, porque a ACI pertence aos profissionais de imprensa. Mas mesmo com poucos braços, programamos para este segundo semestre dois grandes eventos: o Encontro da Imprensa em Chapecó, em agosto, e a volta do Pautas & Panelas, inicialmente com uma edição especial para celebrar os 90 anos. Além disso, estamos voltando com o Papo de Jornalista, um evento presencial que irá reunir jornalistas e estudantes de jornalismo.
Sendo a primeira mulher a dirigir a entidade e também atuante desde os anos 1980 na área da comunicação, como você avalia a atuação das mulheres nos veículos de imprensa?
O Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo publicou pesquisa em março sobre a situação de gênero em 240 redações dos principais veículos de 12 países. Apenas 21% dos 179 principais editores são mulheres, apesar de elas representarem cerca de 40% da força de trabalho no setor. No ano passado, a participação era de 22%. No Brasil, é pior: apenas 7% dos principais editores são mulheres, uma queda em relação a 2021. Nenhum dos mercados pesquisados tem um número de mulheres maior do que de homens liderando as redações principais. Veja que levou 90 anos para uma mulher assumir a Presidência da ACI. Isso diz muita coisa. Então, a resposta é que as mulheres ainda tem que lutar para conquistar seu espaço. Na Diretoria da ACI temos 10 mulheres, mas queremos trazer mais.
No dia da sua posse, em novembro de 2020, você destacou o apoio da ACI ao empreendedorismo entre profissionais da comunicação e citou a importância da economia criativa na área. Como estão evoluindo essas iniciativas?
Nós criamos a primeira incubadora de negócios de comunicação dentro da ACI, em parceria com o Sebrae Santa Catarina e o CocreationLab. Fizemos duas edições já e pretendemos lançar mais um edital. Muitos jornalistas e profissionais da área da comunicação estão empreendendo. Queremos fortalecer essas iniciativas. O jornalista tem uma formação acadêmica que abre muitas possibilidades profissionais, mas ele precisa de apoio para empreender.
Você começou a carreira jornalística quando ainda não existiam as redes sociais. Um dos desafios anunciados pela sua gestão é auxiliar os profissionais nessa migração para esse novo mundo digital e interativo que veio para ficar. Na sua opinião, qual o caminho para fazer com que as redes sociais favoreçam o trabalho do jornalista? A ACI tem realizado palestras e cursos com esse foco?
Uma das primeiras ações que fizemos nesta gestão foi a parceria com o Clube Share!, a maior plataforma de ensino em comunicação. A parceria oferece descontos em todos os cursos. Entendo que o aperfeiçoamento e atualização profissional constantes são fundamentais para ampliar as chances de colocação no mercado. A tecnologia avançou de forma exponencial. Isso criou muitas oportunidades. Quanto às palestras, fizemos dezenas delas na pandemia, todas excelentes, para debater temas relevantes para a profissão. Agora, estamos formatando novos eventos, pois acho que existe um certo cansaço com eventos virtuais.
Nos últimos anos, uma fatia do público tem rejeitado o trabalho da imprensa tradicional, optando por se informar pelas redes, atitude que esconde perigos, como a fácil propagação de fake news. Há quem diga que hoje em dia, em função das facilidades trazidas pela Internet, todos são “jornalistas”. O que os profissionais de imprensa devem ter em mente para neutralizar essa avaliação negativa? A violência contra jornalistas tem aumentado no país?
Bem, sobre as redes sociais, minha opinião é que a gente não pode “brigar” com a realidade. As redes sociais estão aí, as pessoas consomem conteúdo pelo twitter, instagram, tiktok, facebook e tantas outras. Então, a informação jornalística tem que estar lá também. Vários veículos tradicionais e muitos canais oficiais de instituições usam de forma muito competente as redes sociais para se conectarem com sua audiência.
Sobre o outro assunto, que é a violência contra os jornalistas, não há dúvida de que a violência aumentou. Em 2021, o número de agressões a jornalistas e a veículos de comunicação bateu novo recorde, desde o começo da série histórica dos registros feitos pela FENAJ, iniciada na década de 1990. Foram 430 casos, dois a mais que os 428 registrados em 2020. A Associação Catarinense de Imprensa tem uma Diretoria criada nesta gestão, exclusivamente para monitorar e agir em casos de ofensa à liberdade de imprensa ou ataques a jornalistas, liderada pelo jornalista José Augusto Gayoso.
O que você diria para os jovens que sonham em cursar uma faculdade de Jornalismo? Qual livro recomendaria a eles?
Eu diria apenas que leiam. Jornalista que não lê, não sabe escrever. Jornalista precisa ter repertório.
Por Gabriela Morateli dos Santos e Urbano Salles
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