Arte democrática: Instituto Collaço Paulo abre suas portas neste sábado, 30, na Capital
Uma coleção de arte carrega conexões profundas entre o passado, o presente e o futuro. Complexo, o colecionismo, se estruturado como um pilar de atuação no compartilhamento de conhecimentos em diferentes áreas do saber, pode transformar realidades socioeducativas.
Com essa convicção, surge em Florianópolis uma iniciativa inédita que muda o panorama institucional de artes visuais da Capital. No dia 30 de julho, na principal rua de Coqueiros, a Desembargador Pedro Silva, abre o Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação com a exposição “Mais Humano: Arte no Brasil de 1850-1930”, assinada pela curadora-chefe Francine Goudel. Aberta até janeiro de 2023, a mostra pode ser visitada de segunda a sexta, entre 13h30 e 18h30. A entrada é gratuita.
Entidade privada, sem fins lucrativos, fundada em 2022, além de salvaguardar a Coleção Collaço Paulo, de Jeanine e Marcelo Collaço Paulo (que recentemente foi Personagem da Semana do Imagem da Ilha), quer promover a arte e a cultura por meio de programas de cunho educativo. O casal dedica-se há cerca de 40 anos à aquisição e conservação de um acervo que se concentra na representatividade dos artistas brasileiros do século 19 e dos catarinenses do século 20, abrangendo trabalhos de distintos períodos históricos, diferentes escolas, movimentos e estilos.
O cenário pandêmico e o isolamento social ajudam a clarificar o desejo de difusão do acervo com a criação de um espaço para realizar exposições e desenvolver ações educativas voltadas para as crianças com ênfase ao conhecimento das artes visuais e do colecionismo, entre outros temas.
A instituição se compromete com a tarefa de conservação e difusão das obras que se conecta à história da arte brasileira e da memória de Santa Catarina. O planejamento de atividades prevê exposições, ações educativas, palestras, ciclos de debates, cursos, grupo de estudos, um clube de colecionadores, encontros e parcerias com o bairro e à cidade. O acesso à programação se dará de forma on-line, em suas plataformas e redes sociais, e de forma física, em sua sede ou por meio de parcerias com outras instituições e espaços expositivos.
Em ambiente receptivo, a sede dispõe de espaço para exposições e um núcleo educativo. Para além das mostras, planeja ações que estimulem a reflexão, a vivência e o conhecimento. Como principal função, dedica-se a construir caminhos que têm por base a arte, a cultura e a convicção de que a possibilidade de entendimento do passado e do presente fortalece a ideia e o desejo de ressignificação do futuro.
A coleção
A Coleção Collaço Paulo abarca, ao mesmo tempo, peças de distintos movimentos e escolas, compreendendo pinturas flamengas e da Escola de Cuzco, peças de arte sacra e obras europeias do século 15 ao 19. Concentra representatividade em peças de artistas brasileiros, do século 19 e 20, como Weingartner (1853-1929), Eliseu Visconti (1866-1944), Georgina de Albuquerque (1885-1962), Victor Meirelles (1832-1903), Henrique Bernardelli (1858-1936), Belmiro de Almeida (1858-1935), Pedro Américo (1843-1905), Rodolfo Amoedo (1857-1941), Martinho de Haro (1907-1885), entre outros.
A amplitude cronológica da coleção soma-se à diversidade de suportes e linguagens manifestas em pinturas, esculturas, desenhos, cerâmicas e objetos. A coleção se estabelece de forma orgânica, através da predileção do casal Jeanine e Marcelo Collaço Paulo que, no começo da década de 1980, começa o gosto pelo colecionismo no contato com obras de artistas catarinenses.
O acervo engloba um conjunto de obras de artistas do século 19 ao 21 do cenário de Santa Catarina. Além dos já citados, outros nomes constituem com ênfase a catalogação como Eduardo Dias (1872-1945), Hassis (1926-2001), Elke Hering (1940-1994), Malinverni Filho (1913-1971), Rodrigo de Haro (1939-2021), Pedro Paulo Vecchietti (1933-1993), Eli Heil (1929-2017), Silvio Pléticos (1924-2020), Meyer Filho (1919-1991), Valda Costa (1951-1993), Fernando Lindote, Rubens Oestroem e Paulo Gaiad (1953-2016), entre outros.
No planejamento de trabalho, além das atividades relativas ao centro de arte e educação, está a criação de um grupo de estudos e de um clube de colecionadores, uma proposição de Ylmar Corrêa Neto que irá coordenar o trabalho numa perspectiva de agregar conhecedores e praticantes, além de estimular futuras coleções. Por tudo o que envolve e representa, pelo seu caráter didático, a exposição inaugural será de longa duração para possibilitar estudos, ampla visitação e as dinâmicas do projeto educativo.
Vocacionada para a partilha, a coleção já atendeu diferentes projetos expositivos. Desde 2016, o empréstimo de obras ajuda a dar consistência aos conceitos curatoriais. Entre outras mostras, parte do acervo já integrou “Eliseu Visconti 150 anos”, realizada na Galeria Almeida e Dale, em São Paulo, e “Iconografia 344”, na Fundação Cultural Badesc, em Florianópolis (SC), onde estiveram tela de Eduardo Dias e Weingartner. Em “Ismael Nery”, o Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo, contou com duas obras do artista, um óleo sobre tela e uma sanguínea. Em 2017, na Capital, “Sensos e Sentidos” reuniu 117 obras da coleção, entre pinturas, esculturas e desenhos, no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc). Entre 2018 e 2019, emprestou três obras para a exposição “Trabalho de Artista: Imagem e Autoimagem (1826-1929), na Pinacoteca de São Paulo, em São Paulo.
“Mais Humano: Arte no Brasil de 1850-1930”
Francine Goudel, curadora-chefe do Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, assina a exposição “Mais Humano: Arte no Brasil de 1850-1930” que abre um novo projeto de arte e educação no bairro Coqueiros idealizado como um caminho para a compreensão da arte e instrumento para o exercício da sensibilidade. Com essa dimensão, a pesquisadora embasa a proposta curatorial na urgente necessidade de expansão do olhar sobre temas históricos nas artes visuais. Conhecedora do acervo e dos interesses institucionais, ela propõe a um amplo público, cuja maioria ainda não teve o privilégio de estar diante de uma obra de arte, a possibilidade de conhecer sob diferentes formas a produção artística do século 19 e 20.
A primeira leitura de Goudel sobre o acervo incorpora a missão de disponibilizar algumas obras inéditas no contexto expositivo de Santa Catarina numa perspectiva bem didática. Com nitidez, entende ela, a exposição precisa trazer provocações a partir de um conceito capaz de afetar de algum modo os espectadores.
Do ponto de vista estrutural, os blocos de interlocução para análise das obras criam conexões com o tempo presente. “Importante pensar que possivelmente é o primeiro contato de um certo público com esse acervo. Tratam-se de obras pautadas pela história, pois diferente de uma mostra contemporânea, requer um contexto, um pouco de chão e reforço para poder gerar novas leituras”, diz Francine. Para isso, conta com o conhecimento da museóloga Cristina Maria Dalla Nora, a coordenação educativa de Joana Amarante e a montagem de Flávio Xanxa Brunetto.
“Mais Humano: Arte no Brasil de 185-1930” reúne aproximadamente 70 telas e duas esculturas de mais de 30 artistas brasileiros e estrangeiros radicados ou com produção no país, oriundas das concepções acadêmicas de arte e do princípio das ideações do modernismo no Brasil. A seleção representa um pequeno recorte da Coleção Collaço Paulo e busca fazer as pazes com as possíveis abordagens do século 19 e início do 20, que compreende o contexto da criação, mas, também e sobretudo, destaca a importância de olhar a obra na vertente dos estudos recentes da história da arte.
Serviço:
O quê: Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Cultura, exposição “Mais Humano: Arte no Brasil de 1850-1930”
Quando: 30.7.2022 a 21 de janeiro de 2023, segunda a sábado, 13h30 às 18h30
Onde: Rua Desembargador Pedro Silva, 2.568, bairro Coqueiros, Florianópolis (SC), Brasil, tel.: (48) 3025-4058
Quanto: Gratuito
www.institutocollacopaulo.com.br
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