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A figura do sommelier entrou em foco ultimamente com a regularização da profissão no Brasil; com o lançamento de um filme incrível, “Somm”, documentando a árdua preparação para uma das provas com menor índice de aprovação do mundo, a do Master Sommelier, e com o recém finalizado concurso de Melhor Sommelier do Mundo, em Tokyo, consagrando Paolo Basso com a premiação máxima. Além do mais, os bons restaurantes e as melhores lojas de vinho já estão investindo cada vez mais nesse profissional, acreditando no retorno que ele traz ao estabelecimento.

Muita gente pensa que ser sommelier é degustar bons vinhos e bons pratos, mas se esquecem de que a profissão requer muita dedicação e estudo – multiplique isso infinitamente para aqueles que pretendem participar de concursos e perseguir o raro título de Master Sommelier. A preparação é brutal e requer dedicação integral. São centenas de vinhos a serem degustados e dissecados, às cegas, para criar padrões e dominar as características dos mais variados vinhos, de um Cabernet Sauvignon do dia a dia até um raro exemplar Grego, e isso cai na prova.

A especificidade de conhecimento chega ao nível minucioso de saber a ordem de vinhedos importantes de acordo com a direção do leito de um rio e não adianta só saber o nome do produtor, mas associá-lo a cada um desses vinhedos. Esqueça o macro, nesse nível as informações requeridas chegam a níveis absurdos.

Esse nível de exigência requer muito estudo, chegando a um nível “geek”. Os custos também são altos, a dedicação exige viagens às regiões produtoras e a compra de muitos vinhos, de todas as camadas de preço. Sim, você precisa conhecer os clássicos.

Tive a oportunidade de passar por uma prova exigente para conquistar a graduação de Certified Sommelier pela mesma Corte de Master Sommeliers. Apesar de ser uma graduação dois níveis abaixo do Master, a exigência é grande e me colocou em estado de dedicação total durante estada de quatro meses na Califórnia. Degustações técnicas diárias para identificar os mais variados vinhos e suas características às cegas, dezenas de livros e aulas teóricas para passar na difícil prova de conhecimentos e, no final, uma simulação de um serviço completo de vinho num restaurante respondendo perguntas variadas sobre o universo do vinho e de bebidas em geral. Uma experiência e tanto e que só me mostrou como a busca pelo conhecimento é incessante.

O conhecimento sobre o assunto se adquire muito na prática, visitando as vinícolas, mexendo na terra e degustando vinhos, muitos vinhos e de todas as qualidades. Digo sempre que a “litragem” nos torna um bom degustador e a variedade também, por isso fuja de profissionais que só provam e falam de rótulos famosos, caros e não conhecem o básico.

Então, quando você encontrar um sommelier sério, que multiplica seu conhecimento com os outros a sua volta e busca aprender cada dia mais, se lembre dos bons vinhos que ele degusta, mas lembre-se também desse caminho percorrido. Afinal, não vivemos apenas de bons vinhos.