A Revolução dos Vinhos de Bordeaux, por Eduardo Araújo
Conheça os vinhos que estão quebrando os estereótipos da região

Bordeaux tem muito mais a oferecer do que os extremos que normalmente vemos no mercado. Essa gigantesca e diversa região é conhecida e reconhecida por, ou produzir alguns dos rótulos mais famosos e procurados, os chamados Grand Cru Classé de 1855, ou aqueles simples e baratos de supermercado que muitas vezes passam longe do termo “Grand Vin” que lemos nos seus rótulos.
Com uma produção anual que varia entre 550 e 700 milhões de garrafas por ano, provam que a diversidade existe e a dificuldade de se encontrar valor com qualidade é igualmente enorme.
Uma pena até que uma geração de bebedores virou as costas pra lá, buscando vinhos mais originais, mais bebíveis e com menos maquiagens. Ao mesmo tempo, vendo essa tendência de mercado e acreditando nas suas convicções que muitos produtores de Bordeaux se voltaram ou intensificaram sua busca por produzir vinhos mais originais, elegantes e com uma filosofia de cultivo mais sustentável, orgânica ou biodinâmica.
São mais de 100.000 hectares de vinhedos e claro que muitos deles são feitos para volume, para venda fácil de vinhos genéricos, para dizer o mínimo. Mas, os produtores mais artesanais e até mesmo os Châteaus mais famosos têm observado que o mundo tem gente que já saiu do paladar infantil de doçura, madeira e fruta compotada, com álcool sobrando. Ícones como Château Palmer e Pontet-Canet provam que é possível navegar pelos dois mundos.
Mas, gosto de observar produtores menores, a maioria fora das classificações e rankings, ou no máximo alguns que fazem parte do selo de qualidade Cru Artisan ou Cru Bourgeois.
Aliás, sabiam que a classificação mais famosa do mundo, de 1855, requerida por Napoleão III para a Exposição Universal de Paris daquele ano não é uma classificação gerida pelo INAO, apesar de ser reconhecida e que nenhum vinho foi degustado para chegar a esse ranking final? A Câmara do Comércio pediu ao Sindicato dos Courtiers para classificar os vinhos do Médoc e Sauternes de acordo com preço e fama e com isso foi criado esse sistema.
Voltando aos vinhos, a região sofreu durante anos com o excesso de industrialização e a oferta enorme, provocando uma grande competição por preço. Os mais famosos tinham sua venda garantida, porém o mar de vinhos mais básicos brigava por centavos.
No meio do caminho, há décadas, começou uma revolução de alguns produtores voltando às origens, diminuindo produtividade, uso de produtos químicos e pegando leve na extração e barricas novas.
Gombaude-Guillot foi um dos primeiros a adotar práticas orgânicas, produzindo sua primeira safra orgânica em 2000 após iniciar a transição nos anos 1990. Certificad como orgânica desde 2006 e biodinâmica desde 2008, é considerad pioneiro na região. eles evitam insumos químicos, utilizam ovelhas para o controle natural de ervas daninhas e aplicam preparados biodinâmicos. A vinificação é minimalista, sem leveduras adicionadas, com uso mínimo de enxofre e sem clarificação ou filtração. Os vinhos são elegantes e puros, com textura sedosa e fruta vibrante, demonstrando o potencial de Pomerol além de sua opulência habitual.
Localizado na menos conhecida Côtes de Bordeaux, o Château Le Puy e o projeto Closerie Saint Roc são favoritos cult entre os entusiastas de vinhos naturais. A família Amoreau cultiva de forma biodinâmica desde os anos 1990 (certificada em 2000), mantendo séculos de tradições livres de produtos químicos que remontam ao século XVII. Eles usam cavalos, evitam insumos sintéticos e seguem os ciclos lunares para o trabalho na vinha. Na adega, a fermentação é espontânea, nenhum sulfito é adicionado (exceto ocasionalmente em quantidades mínimas no engarrafamento), e os vinhos não são clarificados nem filtrados. A cuvée emblemática, 'Emilien,' é celebrada por sua elegância etérea, notas florais e estrutura delicada — qualidades que desafiam o estereótipo de Bordeaux como um vinho de poder e densidade.
Outros nomes como Clos du Jaugueyron em Margaux, Despagne-Rapin e seu Maison-Blanche, Marius Bielle e Clos Puy Arnaud do antigo proprietário do Château Pavie são outros que chama atenção por sua pureza e qualidade e que valem a pena provar.
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Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo
Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers
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