00:00
21° | Nublado

Treino em jejum vale a pena?
Especialistas respondem quais são os benefícios e os riscos da prática

Para um emagrecimento sustentável o fator determinante é manter um déficit calórico consistente, treino regular e manutenção da massa muscular. (Foto: Freepik)

Publicado em 01/11/2024

Treinar ou não em jejum é um tema que sempre gera curiosidade. Para entender se a estratégia é válida ou não, conversamos com os especialistas Ney Felipe, Stefan Gleissner e Priscilla Martins, que vão esclarecer se existem riscos ou benefícios nessa prática.

Para a endocrinologista Priscilla Martins o jejum intermitente pode ser válido em algumas situações. Apesar de ser uma “dieta da moda” é necessário entender que não existe uma grande vantagem no jejum em si e os benefícios da estratégia estão relacionados com a restrição calórica que ela promove.  “O JI promove resultado de perda de peso semelhante ao de outros planos alimentares com restrição calórica diária. A perda de peso ocorre pelo déficit calórico e não pelo período de jejum em si. Algumas pessoas com dificuldades para contar calorias ou seguir dietas tradicionais podem se beneficiar com o JI reduzindo a ingestão alimentar diária através do jejum de uma forma mais natural e com menos restrição no período da janela de alimentação”, orienta a médica.

É importante lembrar que existem vários protocolos de JI. Os estudos sugerem maiores benefícios tanto para perda de peso quanto para melhora de perfil metabólico nos protocolos onde a janela de alimentação respeita o ciclo circadiano, ou seja, a pessoa se alimenta no período da manhã e início da tarde e começa o período de jejum antes de anoitecer. Nesse caso, existem evidências de maiores benefícios para perda de peso e melhora da sensibilidade à insulina.

A ideia de treinar em jejum tem o objetivo de aumentar a oxidação de gordura durante o exercício, uma vez que os níveis de insulina estão mais baixos e com menor disponibilidade de glicose, forçando o corpo a utilizar gordura como fonte de energia. “O principal benefício pensando na perda de peso é a facilidade de fazer o déficit energético, ou seja, a pessoa simplesmente não come, mas também tem o seu risco, é necessário adequar a performance, e até se adaptar a pessoa corre o risco de desmaiar”, orienta o nutricionista Ney Felipe Fernandes, Mestre em Biologia Celular e Molecular pela UFPR, professor do curso de Nutrição Funcional na Faculdade UNIGUAÇU.

A combinação de treino e jejum é possível e pode ser positiva para algumas pessoas, mas deve ser feita com cautela. “Outra questão que merece atenção é a possibilidade de catabolismo muscular, quando o corpo, sem nutrientes suficientes, começa a usar a musculatura como fonte de energia. Por isso, é essencial que o treino em jejum seja realizado sob orientação de profissionais com ajustes adequados na ingestão de proteínas e nutrientes no período de alimentação. A palavra chave é individualização. O ideal é ajustar o tipo de treino com o período de jejum ao perfil de cada pessoa”, declara Priscilla Martins, Mestre em Endocrinologia pela UFRJ.

Porém, a literatura científica mostra que isso não necessariamente leva a uma perda de peso significativa a longo prazo, além de ser um perigoso para diversos grupos de indivíduos. “Os riscos incluem a possibilidade de queda de desempenho, fadiga precoce, tonturas, perda de massa muscular e hipoglicemia. A restrição energética prolongada é prejudicial à preservação de massa magra, fundamental no processo de emagrecimento e na manutenção da saúde”, Stefan Gleissner, personal trainer e coordenador de musculação na Bodytech Eldorado.

“É fundamental ressaltar que o jejum não é indicado para crianças e lactantes, e deve ser feito com cautela em pessoas com doenças crônicas, idosos ou pessoas com transtornos alimentares. O acompanhamento de um médico ou nutricionista é fundamental para garantir a segurança da abordagem”, alerta a endocrinologista.

Um estudo publicado em 2016 no Journal of the International Society of Sports Nutrition apontou que o treinamento em jejum aumenta a oxidação de gordura, mas o efeito na perda de peso geral pode ser semelhante ao treinamento em estado alimentado quando o déficit calórico é controlado. Diversos outros artigos também alertam para o fato de que o emagrecimento saudável e sustentável a longo prazo está relacionado a fatores como: o balanço energético por meio de uma dieta alimentar adequada ao indivíduo e a adoção de um estilo de vida saudável com a prática de exercícios físicos.

Outra dúvida recorrente é se treinar em jejum afeta o desempenho físico. A resposta é sim. Todos os especialistas concordam que realizar a rotina de exercícios sem comer impacta diretamente na performance, levando à fadiga precoce e diminuição da capacidade de resistência e força.

A longo prazo essa redução de desempenho impacta negativamente nos resultados, já que a intensidade e a carga de treinamento são fatores importantes para a evolução física e para a queima de gordura. Em 2018, o estudo da Sports Medicine mostrou que o treinamento em jejum pode reduzir o desempenho em atividades de resistência e força, principalmente em exercícios com duração superior a 60 minutos.

“Na literatura científica não há evidências robustas que indiquem que treinar em jejum seja mais eficaz para a perda de gordura visceral ou subcutânea especificamente. Alguns estudos sugerem que a oxidação de gordura pode ser ligeiramente maior durante o treino em jejum, mas a perda de gordura corporal total, incluindo gordura visceral e subcutânea, está mais ligada ao balanço energético geral do que ao estado alimentado ou de jejum durante o exercício. Já outra pesquisa publicada no British Journal of Nutrition, em 2014, enfatizou que o déficit calórico é o fator determinante para a perda de gordura”, comenta Gleissner.

O nutricionista Ney Felipe costuma dizer que no emagrecimento só existe uma regra: o paciente. “Se é o jejum intermitente se encaixa na rotina da pessoa, se essa é a estratégica que vai garantir a aderência, esse é o caminho que deve ser seguido. O importante é entender que se ele vai emagrecer ou não depende do contexto. Não adianta o paciente ficar 16 horas em jejum e nas oitos horas de janela de alimentação, comer o equivalente a três dias, ou seja, ingerir uma quantidade energética além do necessário.  Muito mais que o período em jejum, o momento alimentado deve ser estratégico”.

Para um emagrecimento sustentável o fator determinante é um déficit calórico consistente, treino regular e manutenção de massa muscular. O jejum pode ajudar no gerenciamento do consumo diário de calorias para algumas pessoas, mas sintomas como fadiga, perda de desempenho ou até aumento do apetite, podem prejudicar a consistência no progresso dos resultados.

Métodos como um controle calórico e nutrição individualizados e periodização adequada de treinos podem ser mais eficientes para a maioria das pessoas, principalmente por serem estratégias que garantem a preservação e ganho de massa muscular e adesão ao longo do tempo.

“O processo de jejum varia de pessoa para pessoa e é interessante passar por um período de adaptação:  espaçando gradativamente o tempo alimentado do tempo de treino. Por exemplo, ele começa treinando 3 horas após se alimentar, depois treinando 4 horas após ele ter se alimentado, 5, 6, 7 horas, e assim ele aprende a ajustar um jeito que seja dele, geralmente faço essa adaptação para facilitar a rotina de cada paciente”, orienta Fernandes.

É fundamental ficar alerta ao sentir: tonturas, sensação de desmaio, dores de cabeça, fadiga extrema, hipoglicemia, perda de foco, náusea e irritabilidade podem mostrar que o corpo está com dificuldades de adaptação e que existe a necessidade de ajustar o protocolo de jejum. “É importante monitorar esses sinais, pois podem indicar risco de hipoglicemia ou sobrecarga do sistema nervoso, especialmente em indivíduos não acostumados a treinar em jejum”, pontua o profissional de Educação Física.

Pessoas com hipoglicemia ou diabetes descontrolado, indivíduos com histórico de distúrbios alimentares, gestantes, lactantes, atletas de alta performance ou pessoas com condições metabólicas que afetam o equilíbrio de energia são grupos que devem evitar a prática do treinamento em jejum.

 “Atletas de alta performance que estão acostumados com a dieta e às vezes vão ao nutricionista e o profissional simplesmente quer colocar algo diferente e sem necessidade, é necessário ter muito cuidado. Geralmente, atletas de alto rendimento e de elite tendem a ser grupos que não devem aderir ao jejum intermitente para não comprometer a performance. Outros grupos que precisam ficar longe deste tipo de opção são as pessoas extremamente sedentárias e aquelas que esporadicamente realizam algum tipo de atividade física, pois são indivíduos que precisam de um combustível antes do treino”, finaliza o nutricionista.

 

 

Da redação

Para receber notícias, clique AQUI e faça parte do Grupo de WHATS do Imagem da Ilha.

Gostou deste conteúdo? Compartilhe utilizando um dos ícones abaixo!

Pode ser no seu Face, Twitter ou WhatsApp!

Para mais notícias, clique AQUI