00:00
21° | Nublado

Treino cognitivo promete recuperar sequelas pós Covid–19

O ábaco é um dos instrumentos utilizados para exercitar o cérebro (Foto: Reprodução)

Publicado em 05/04/2021

A pandemia de Covid-19, além de vítimas humanas e consequências econômicas, deixa um saldo negativo para a cognição de milhões de pessoas que já manifestam, segundo os médicos, sintomas conhecidos como sequelas do pós-Covid-19.

Em alguns casos, os relatos dos acometidos pelo vírus incluem – além de ausência prolongada de olfato e paladar e dificuldade para respirar, mesmo após a recuperação da doença, indícios relacionados à cognição, como lentidão no raciocínio, dificuldade com a memória e para assimilar novas informações. Foi assim com a empresária Dilma Gomes, que é especialista em ginástica para o cérebro. Ela teve Covid-19 em fevereiro de 2021. Ao testar positivo, a empresária notou que os sintomas não coincidiam com os mais comuns, além de dor de cabeça, fadiga e tristeza, percebeu uma grande lentidão ao realizar tarefas simples e dificuldade com a memória recente.

“Para você ter uma ideia de como isso foi severo em mim, tive dificuldade para lembrar a idade do meu próprio filho, que já tinha feito 15 anos e, em uma conversa com o meu cunhado, eu insistia que ele tinha 14. Já havia percebido que algo estava errado com a minha cognição, mas neste momento compreendi o quanto o vírus havia prejudicado minha memória recente, busquei ajuda imediatamente”, lembrou.

Como já havia se beneficiado do treino cognitivo anteriormente, por ser sua área de atuação profissional, a empresária não hesitou em retornar às aulas com o uso diário do ábaco e os estímulos cognitivos conhecidos popularmente como ginástica para o cérebro, além de um curso de design de interiores que ela começou a fazer pela internet. Novas informações e estímulos para obrigar o próprio cérebro a retomar suas conexões e mesmo desempenho que ela tinha antes de adoecer por COVID-19.

“Percebi ainda uma irritabilidade e prejuízo nas minhas funções executivas: não tinha mais autocontrole sobre as minhas emoções e não media as consequências. Ainda estou com lentidão na fala e dificuldade de organizar minhas ideias, mas percebi que o uso do ábaco diariamente, na escola e em casa, foi decisivo neste processo de recuperação da minha mente depois de ter tido Covid-19”, avaliou.

Como o vírus afeta a memória e a concentração

Com as pesquisas anda em andamento e a identificação de novas variantes do vírus em vários países, as avaliações médicas vêm, sobretudo, da observação de pacientes como Dilma, que apresentaram sintomas adversos quando contraíram formas moderadas e graves da doença. Desde o início da pandemia, o neuro intensivista Marco Paulo Nanci vem observando em seus atendimentos as manifestações neurológicas de pacientes internados com Covid-19.

Até agora, o que mais tem chamado a atenção de médicos como ele, é a manifestação cada vez mais frequentes de sintomas neurológicos que incluem delírios, confusão e alteração comportamental, rebaixamento do nível de consciência, dificuldade para interagir com o meio e com as pessoas, ausência de processamento cerebral adequado entre outras manifestações que sinalizam lesões no sistema nervoso, segundo o médico. Inúmeros relatos semelhantes aos da empresária Dilma, demonstram para os médicos uma capacidade do vírus de afetar regiões importantes do cérebro, como a memória. 

“O vírus tem esse potencial de levar a alteração direta ou indireta do cérebro. Pode levar a uma diminuição do processamento neuronal, quer seja pela diminuição da oxigenação dos neurônios, ou até mesmo por lesão direta dos neurônios, essa lesão vai acabar diminuindo as conexões entre os neurônios e vai diminuir as sinapses, que são as conexões entre os neurônios e com isso o processamento cerebral fica alterado e lentificado. Essa lentificação do processamento cerebral leva a diminuição do processamento de memória e leva a alterações cognitivas”, explicou. 

A professora Lilian Célia Ribeiro, de 54 anos, sempre se considerou uma pessoa desligada e hiperativa, características que, segundo ela, foram acentuadas depois de ter contraído Covid-19 em outubro do ano passado. “Eu sempre fui hiperativa e desligada, mas depois do Covid-19 isso começou a me incomodar demais, estava esquecendo muito além do que eu já esquecia. Foi então que decidi fazer aulas de estimulação cognitiva. Estou há um mês e já percebi muita diferença, estou mais atenta e concentrada em minhas tarefas, mesmo com pouco tempo de estimulação”, avaliou.

Como funciona o treino cognitivo?

O treino cognitivo está baseado no conceito de neuroplasticidade do cérebro. A plasticidade neuronal é a capacidade que o sistema nervoso tem de se adaptar, de se reorganizar e se modificar de acordo com a demanda, isto é, de acordo com as interações e estímulos com o meio ambiente interno e externo, ou ainda como resultante de lesões que afetam o sistema nervoso. A neuroplasticidade não é uma habilidade específica, é uma característica, uma condição do sistema nervoso. Ela não é igual para todos porque não há um cérebro igual ao outro porque cada um é modificado por estratégias cognitivas de acordo com os desafios ambientais.

Através de estímulos que envolvem novidade, variedade e grau de desafio crescente, a ginástica para o cérebro consegue colaborar de forma positiva no treino cognitivo de pessoas que foram acometidas por Covid-19 e que relatam queixas de prejuízos cognitivos no pós doença.

Fonte: Supera - Ginástica para o cérebro

Da redação

Gostou deste conteúdo? Compartilhe utilizando um dos ícones abaixo!
Pode ser no seu Face, Twitter ou WhatsApp!