A percepção, por Denise Evangelista
Nossas emoções influenciam a forma como interpretamos o mundo ao nosso redor
A percepção é um dos mais fascinantes objetos de estudo da psicologia e da filosofia. Algumas concepções criam categorias e se dedicam a compreender como ela se dá, a estabelecer padrões e tendências que se repetem na forma como somos afetados pelo mundo, assim como o vamos decodificando. Outras separam “momentos” no que diz respeito à sensibilidade do significado que se segue à essa capacidade sensível. Há, também, abordagens que compreendem que o fenômeno da experiência do mundo é um todo inseparável — sentir é compreender.
Aqui vamos falar da percepção como um “lugar” que nos permite uma “perspectiva” e como ela é mutável, qualidade esta que está intimamente relacionada a nossas emoções. Todos nós vemos o mundo e a ele conferimos significados e à nossa própria existência, a partir de um determinado lugar. Esse “lugar” pressupõe uma história, ou seja, um caminho percorrido e que, aliás, só termina ao findarmos nossa experiência humana. Por isso a percepção é dinâmica, processual. Tendências individuais, quanto a sensibilidade, somadas as experiências que cada um terá, darão forma ao que enxergaremos (individualmente) como realidade.
Como somos seres culturais e pertencemos a uma determinada Cultura, com características que vão se transformando ao longo do tempo, mas que possui crenças e costumes próprios, nossa subjetividade se constitui de um contexto que assimilamos individualmente, mas é compartilhado por nossos conterrâneos, nossos contemporâneos e especialmente por nossas comunidades. Entretanto, a experiência, o sentir, é individual e intransferível e relativo à trajetória existencial, repleta de combinações únicas. Quando eu “vejo o mundo”, vejo a partir de uma perspectiva, com as experiências pelas quais passei, mescladas e intermediadas por um corpo e Cultura.
Podemos observar que nossas “lentes” mudam de “cor” em estreita relação com as nossas emoções. Assim, o mundo pode parecer mais ou menos colorido, se estamos felizes ou se estamos tristes. Dependendo da situação na qual estamos, pode parecer um campo excitante, cheio de infinitas possibilidades ou um fardo insuperável. Sensações, emoções e sentimentos muito intensos alteram de forma mais significativa a nossa “experiência do mundo”. Quando essas experiências são sentidas como boas, nos trazem prazer, alegria e provocam entusiasmo, por exemplo, “colorem” o mundo positivamente; ao contrário, quando o que sentimos é doloroso e desafiam as nossas forças, desbotam o mundo ou o pintam de cores aterrorizantes.
Também pensamentos a respeito da “realidade” têm o poder de alterar as nossas emoções. Em alguns casos de forma benéfica, em outros com o potencial de nos adoecer. Podemos observar também que quando compartilhamos as nossas vivências, aventuras e desventuras, as emoções têm papel fundamental. Quem se interessaria por uma história que não nos tirasse das mornas rotinas? Entretanto, conhecer as nossas emoções, entender o papel que desempenham na forma como vemos o mundo, como se alternam e modificam a percepção, pode ser de grande importância na avaliação que fazemos da realidade.
A cada momento da nossa existência, necessidades, interesses e acontecimentos nos mobilizam em primeiro plano em detrimento a outras tantas questões que passam paralelamente ou se conectam em intersecções mais ou menos significativas. Para a Gestalt Terapia essa “mobilização” é chamada de “figura”; a “figura” diferencia-se do “fundo”, mas não se separa dele, ou seja, está em permanente conexão com esse “fundo”. Aquilo que se apresenta como necessidade ou interesse diz respeito à nossa história. Por sua vez, nossa história individual é a história do que sentimos. Quando não identificamos as nossas necessidades ou interesses, podemos estar diante de alguma interrupção no fluxo de formação de figura-fundo.
A ampliação da nossa percepção é uma via de mão dupla, tanto no sentido de nos abrirmos para compreendermos a perspectiva uns dos outros como para compreendermos a nossa própria perspectiva. Quanto mais compreendermos as diferentes perspectivas e a nossa própria, maior será a nossa capacidade de visão. Todos nós vemos a partir de um lugar, portanto somos capazes de compreender de um determinado modo, certos aspectos da realidade. Na medida que ampliamos a nossa perspectiva e aprofundamos os nossos conhecimentos, mais rica tende a ser a nossa experiência no mundo.
Texto por Denise Evangelista Vieira
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Sobre o autor
Denise Evangelista Vieira
Psicóloga formada pela UFSC e em Artes Cênicas pela Udesc. Escreve sobre o universo humano. Quem somos e em quem podemos nos tornar? CRP 12/05019.
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