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Cláudia Prudêncio, uma mulher inspiradora
Primeira mulher a presidir a OAB/SC, advogada destaca pontos importantes de sua trajetória que a fizeram chegar ao ponto alto de sua carreira

Cláudia Prudêncio: 'Se eu tivesse que recomeçar mil vezes, as mil vezes seriam como advogada' (Crédito de foto: Isis Lacombe) **Clique para ampliar

Publicado em 11/03/2022

No encerramento da semana de celebração pelo Dia Internacional da Mulher, 08 de março, trazemos uma entrevista com a primeira mullher eleita para presidir a a OAB/SC em 89 anos da instituição. Advogada formada pela Universidade Luterana do Brasil, Cláudia Prudêncio é especializada em Direito Societário e Empresarial no Instituto de Pesquisas e Estudos Jurídicos. É professora, sócia-fundadora do escritório Prudêncio, Bernardes e Maluf Advogados, de Florianópolis, e advogada militante nas áreas de Direito Societário, Contratos e Contencioso, Direito Consumerista, Imobiliário e Trabalhista.

Ela conta ao Imagem da Ilha como consegue conciliar com dinamismo a carreira e a vida pessoal.

Imagem da Ilha: Você é casada? Tem filhos e animais de estimação?

Cláudia Prudêncio: Tenho 45 anos e sou casada com Gerson Scheffer da Silva e mãe da Laís, estudante de medicina na Unisul, e da Yasmin, que acaba de ser aprovada no vestibular para Direito na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - uma curiosidade: a lista dos aprovados foi divulgada no dia da solenidade de posse de Cláudia, 18 de fevereiro. O Gerson e eu estamos juntos há mais de 30 anos. É meu primeiro namorado, meu noivo, meu esposo, meu parceiro e pai das minhas filhas. Temos uma relação de uma vida, e ele sempre foi muito meu companheiro. Nossa família tem dois cachorros.

É fácil pra você conciliar os afazeres pessoais com os profissionais?

Esse é um enorme desafio, com certeza. Eu já fui desafiada no Sistema OAB, que era predominantemente masculino quando comecei. E conciliar ser mulher, mãe, esposa, dona e fundadora do seu escritório, professora e cuidando do lar, é um desafio diário, é um desafio de um passado, de um presente e de um futuro. Pois nós mulheres é que passamos, nós é que cozinhamos, essa é a realidade da maioria das mulheres. Mas se hoje estou eleita para presidir a OAB/SC é porque eu tive apoio. Apoio de casa, da universidade, da sociedade, dos colegas, das mulheres e dos homens. Sou muito grata a todos por isso.

O Direito foi a tua primeira opção profissional? Teve algum motivo especial para você escolher essa área para seguir carreira?

Eu costumo dizer que já nasci advogada! Desde sempre! Essa é minha paixão, está no meu sangue, meu sonho sempre foi essa profissão. Eu costumo dizer para os meus alunos que, se eu tivesse que recomeçar mil vezes, as mil vezes seriam como advogada.

Conte-nos brevemente sobre a tua trajetória profissional.

Sou uma mulher simples, que veio do interior desbravar um outro mundo e ser advogada na Capital em busca de conquistar meu espaço. Meu pai era pedreiro e minha mãe era professora, profissão que eu também segui e é minha outra paixão. Sou sócia-fundadora do escritório Prudêncio, Bernardes e Maluf Advogados, de Florianópolis, há mais de 20 anos, quando também comecei a atuar na OAB/SC. Também sou professora de Direito na Escola Superior da Advocacia, na Unisul e na Fundação dos Administradores de Santa Catarina. Eu amo ser advogada, lecionar e amo a OAB/SC. Na Seccional já atuei em diversas frentes e fui eleita para vários cargos, como conselheira estadual, secretária-geral adjunta, corregedora-geral do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) e presidente da Caixa de Assistência dos Advogados (CAASC). E agora, mais uma vez eleita, presido a OAB/SC.


Para iniciar o mandato, o (a) presidente da OAB/SC assina um termo de posse de forma administrativa no primeiro dia do ano. A posse festiva de Cláudia, evento público e voltado a advocacia e autoridades, foi no dia 18 de fevereiro (Foto: Divulgação)
 

Como você vê a atuação das mulheres no Direito em SC?

Quando eu estudei Direito os homens eram maioria na sala de aula. Hoje são as mulheres. Entre as credenciais da Ordem que entregamos para novos profissionais, são elas que recebem em maior número. Já somos 50% na profissão. E além de serem destaque no exercício da advocacia, dentro do Sistema OAB as mulheres conseguiram mostrar o seu valor, a sua capacidade de gestão e de liderança. E isso ocorreu pela abertura de espaços para a advocacia feminina, como ocorreu na brilhante gestão conduzida pelo presidente Rafael Horn, que me antecedeu e hoje é vice-presidente da OAB Nacional, e também graças à luta pela implementação de cotas, da qual participei ativamente. Temos hoje a primeira mulher na presidência da OAB/SC em 89 anos de existência da instituição, mas o resultado dessas ações vai muito além: nesta gestão há um número recorde de mulheres em cargos importantes, como as 18 advogadas eleitas para presidir Subseções no interior do Estado, a composição feminina de 50% de nosso Conselho Estadual e a nomeação inédita de mulheres para conduzir o Tribunal de Ética e Disciplina e a Escola Superior de Advocacia. Mas é preciso dizer que as ações afirmativas nos colocaram em destaque em um universo tradicionalmente masculino, mas só alcançamos esses espaços de liderança pela nossa competência, pelo nosso árduo trabalho.

Quais características tuas que, ao teu ver, fizeram você se destacar na tua profissão?

Acho que o amor à causa, o comprometimento que eu sempre tive com a advocacia, a seriedade com que eu sempre atuei. Sempre fui boa de oratória também, o que certamente me levou ao convite para lecionar.

Tem algum fato inusitado pra nos contar sobre a tua atuação profissional?

Não lembro de nada inusitado no exercício da advocacia, sempre atuei considerando cada caso diferenciado e único. Mas tem ocorrido situações fora do comum desde que fui eleita presidente da OAB/SC. Na semana passada, por exemplo, eu fui numa posse à noite em Itajaí. Quando estava saindo, já cansada, uma colega advogada pediu que eu gravasse uma mensagem em vídeo mandando um beijo para a manicure dela, que disse que já tinha visto várias entrevistas minhas e me seguia no Instagram. Por onde tenho passado, tem ocorrido de mulheres que desempenham atividades das mais simples às mais complexas me cumprimentarem, felizes. Eu penso que ver uma mulher alcançar um cargo tão destacado como a presidência da OAB/SC reafirma a nossa importância e mostra que todas nós podemos ser o que desejarmos e chegar onde quisermos. É a força da representatividade, que inspira um universo imenso de outras mulheres.

Como aconteceu a tua indicação para a presidência da OAB/SC? Foi algo esperado por você?

Eu nunca almejei chegar à presidência da OAB/SC, mas toda a minha trajetória na instituição, e os cargos que exerci, acabaram por me preparar e me conduzir a essa posição. A definição do meu nome para disputar a eleição ao cargo foi resultado de uma escolha absolutamente democrática: a quase totalidade dos presidentes de Subseções da OAB/SC apoiou o meu nome, e também a grande maioria dos mais de 100 conselheiros estaduais. E o que me deixou pronta, que mostrou a mim mesma que era possível, foi a gestão à frente da CAASC, ainda mais com os desafios que enfrentamos durante a pandemia, quando a Caixa teve papel fundamental no amparo da classe. Ser presidente da Caixa de Assistência, sem dúvidas, me deu a oportunidade de ser presidente da OAB de Santa Catarina.

Quais as tuas principais atividades à frente da presidência da OAB/SC?

Em primeiro lugar, conduzir as ações da OAB para a defesa incondicional da advocacia, especialmente de nossas prerrogativas profissionais, e também para a defesa da sociedade, assegurando os direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição e o Estado Democrático de Direito. Eu lidero um time altamente capacitado que está tirando do papel um plano de gestão consistente e focado na valorização da advocacia, em busca de ainda mais avanços e conquistas para a nossa classe. Também faz parte das minhas atividades o diálogo interinstitucional com os poderes e órgãos, em busca das melhores soluções para as questões que afetam os advogados, as advogadas e os cidadãos. Recebo muitos profissionais, faço inúmeros roteiros pelo Estado para ouvir a advocacia e debater com ela nossas ações, uma aproximação e um diálogo que eu considero fundamentais. São apenas alguns exemplos. É uma agenda muito intensa!

Deixe uma mensagem para todas as leitoras do portal Imagem da Ilha nesta Semana da Mulher.

Meu recado para todas as mulheres é a palavra capacidade. Não se sintam menores pelas suas características pessoais e particularidades. Nós queremos, nós podemos e nós conseguimos. Quando as mulheres estão em cargos de decisão, elas mostram para as demais que elas também poderão alcançar estes espaços, sendo o farol de tantas outras mulheres para que elas se sintam capazes e pertencentes ao universo que almejam. Esse é meu desejo para todas nós!


Entrevista feita por Gabriela Morateli dos Santos

Da redação

 

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