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Os gestos altruístas de Alice Kuerten

Alice Kuerten é presidente da Federação das Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAES) no Estado de Santa Catarina (Foto: Divulgação) **Clique para ampliar

Publicado em 23/08/2023

Na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, com o tema “Conectar e somar para construir inclusão”, o Imagem da Ilha entrevista Alice Kuerten, presidente da Federação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAES) no Estado de Santa Catarina.

Confira!

Imagem da Ilha: O Instituto Guga Kuerten completou 23 anos no dia 17 de agosto. Desde sua fundação, a entidade vem desenvolvendo importantes projetos para crianças, adolescentes e pessoas com deficiência ou em vulnerabilidade social. Já foram mais de 100 mil pessoas impactadas e R$ 50 milhões investidos. A senhora costuma dizer que gosta de se sentir útil e ajudar os outros desde muito jovem, daí a opção pela profissão de assistente social. A sensação hoje é de sonho realizado?
 
AK:
 É o início da realização de um sonho, porque um sonho realizado seria ver um mundo melhor, um mundo com mais paz, um mundo com mais igualdade, mas eu sinto que eu consigo fazer a minha parte, é a minha sensação, que a minha parte, a nossa parte em termos de instituto, de família, a gente está fazendo, a gente está pelo menos tendo objetivos, exatamente dessa transformação social das pessoas, então eu acho que a gente está no caminho certo.

As ações do IGK são apoiadas por parceiros e apoiadores dos setores público e privado. O programa “Amigos IGK” permite que qualquer pessoa ou empresa faça doações, bastando para isso alguns cliques no site da entidade. Como tem sido a adesão nos últimos anos?
 

AK: Olha, a gente tem tido parceiros maravilhosos e não podemos reclamar de jeito nenhum, só agradecer. Cada dia a gente amplia as parcerias, mas só que assim, cada vez que amplia, você amplia os projetos também. Então, sempre vai ter o momento em que você está atrás de parceiros novos, porque é uma eterna busca. Mas o mundo é esse, né? É você se doar, você arrumar pessoas que doam, e essas pessoas que doaram também recebem em dobro, e assim vai. Então, é sempre um eterno fazer projetos, arrumar parceiros e aí sempre ampliam os trabalhos
  
Outra frente de trabalho do IGK é em prol de organizações sociais, com recursos do FAPS (Fundo de Apoio a Projetos Sociais). O fortalecimento das ONGs é essncial para a sociedade brasileira vencer o desafio da inclusão?
 
AK: Sim, o trabalho junto às nossas instituições que atendem pessoas com deficiência, só de APAEs, são 197, mas as congêneres, todas, soma umas 220 instituições. É muito importante, porque, em cada momento, já ensina as pessoas a desenvolverem e fazerem um bom projeto. E a rotatividade das pessoas nessas organizações, das sociedades de serviço, é muito grande. Então mudam sempre as pessoas, você vai ter que estar sempre reciclando e capacitando de novo. Então, essa é uma preocupação nossa. Fazendo bons projetos, eles não só fazem para o IGK, como fazem para todos os demais. E é isso que a gente quer. A gente quer que fortaleça a instituição, principalmente na parte de gestão e, obviamente, no atendimento, para que eles possam pegar recursos e não dependam mais dos outros. Então, o que a gente faz? Além de a gente capacitar em como fazer o projeto, capacita na gestão, capacita na parte pedagógica e vai acompanhando o desenvolvimento de cada um. Como a gente já correu o Estado três vezes, a gente vê a evolução, e vê cada vez mais a necessidade de ser útil, exatamente para as organizações, para que elas se fortaleçam, porque a gente não quer e nem tem condições de ser, de dominar todo o espaço e atender a todas as pessoas. Nós temos que fazer, sim, com que cada instituição se torne mais independente, autossustentável e consiga um bom resultado.

A inclusão é um processo, né, eu acho que é uma luta, a gente luta já começando pelas famílias e as instituições, enfim, cada um lutando por esse espaço. É um espaço que é novo, as pessoas há pouco tempo começaram a aceitar a convivência com pessoas com deficiência, então é uma luta constante. Mas tudo isso, o fortalecimento das instituições, colabora para que haja realmente uma maior inclusão no processo. Agora depende muito também das próprias famílias em não deixarem de ocupar esse espaço.
 
O projeto “Campeões da Vida” atende desde 2002 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade em cinco núcleos na Grande Florianópolis, usando o esporte e a educação como ferramentas para melhorar a vida dessas pessoas. Tudo isso, naturalmente, é inspirado na trajetória vitoriosa do seu filho Guga no tênis mundial. Esse projeto poderá ser estendido para outras regiões de Santa Catarina?
 
AK: Hoje nós não teríamos condições de expandir esse projeto, depende muito das nossas capacidades, nossa capacidade com parceiros, se a gente tiver parceiros locais, até abre mais um projeto, porque aí há todo um incremento da mão de obra também na coordenação, em Florianópolis. Já tivemos em Campos Novos, com parcerias de empresas locais e que também foi um sucesso. Então isso depende muito das parcerias que se tem e como a gente pode alcançar ali também a comunidade:  ter todos os recursos que a gente precisa, próximo de escola, clube, enfim, mas no momento é o que a gente pode atender com a mão de obra que a gente tem. 

O leque de atuação do instituto é bastante diversificado. Um dos programas mais surpreendentes é o “IGK Dance”, voltado à prática da “dança urbana” por crianças e jovens. Como a senhora avalia os resultados dessa iniciativa?
 
AK: No programa Campeões da Vida, a gente utiliza o esporte, a cultura, a música, a dança como ferramenta educacional. E aí a gente constatou que o pessoal gostava muito de dança e começamos a criar esse projeto independente do projeto Campeões, porque tem pessoas ali que já saíram do projeto, continuam nesse desenvolver e a nossa grande meta é até de repente formar alguns dançarinos ou professores de dança, que eles possam ter essa oportunidade para poder desenvolver alguma coisa que eles têm como potencial ou apenas para poder serem bons cidadãos. Porque ali se trabalha muito educação, respeito, disciplina, como em qualquer projeto esportivo, educacional. Então a gente também tem um carinho muito especial por esse projeto, porque é uma dedicação muito grande deles e a gente sente o quanto esses meninos e meninas que lá estão desenvolveram a sua cidadania.

Cerca de 25 anos após as glórias em Roland Garros, Gustavo Kuerten continua sendo uma personalidade muito admirada e respeitada. Como é ser mãe de uma celebridade? Com qual frequência a família se reúne hoje em dia para confraternizar?
 
AK: Eu não sou mãe de celebridade, eu sou mãe de três filhos e todos que têm filhos são para as suas mães as suas celebridades, são os seus filhos mais importantes. E os meus três foram os mais importantes. Cada um no seu talento, cada um dentro das suas possibilidades, cada um tem o seu valor. Guilherme, por exemplo, que faleceu, já mostrou para nós como é a vida, como é que se vive depois de ter tido um troféu ou não ter tido. A vida é a mesma, os cuidados são os mesmos, respeito, dignidade, a necessidade das pessoas se colocarem no lugar do outro. E obviamente o Rafael, que nos ajudou demais também para que o Guga pudesse desenvolver a carreira, também tem o seu grande valor, e o Guga na sua carreira. Então, para mim, o importante é que eu sou mãe de três filhos que têm integridade, são honestos e são pessoas do bem, é o mais importante. E a nossa vida é uma eterna confraternização, porque eu acho que a vida tem que ser vivida todos os dias, a gente tem que ter gratidão por ela, né? Cada noite agradecer o dia e pedir proteção para o outro, então todos os dias, como trabalhamos juntos, como nos vimos, é um festejo. Embora seja trabalho, já é uma forma de gratidão e de festejo.

Num passado não muito distante, Guga foi estimulado a disputar a Prefeitura de Florianópolis, mas a ideia não foi levada adiante. Recentemente, a senhora ocupou por um curto período a Secretaria de Assistência Social do governo Jorginho Mello. Por que deixou o cargo? Trabalhar no setor público traz “complicadores” que a senhora não encontra no setor privado?
 
AK:
 Eu gostei demais, a experiência de trabalhar no governo foi grande, mas realmente ela é um pouquinho mais demorada nas decisões do que a gente nessa iniciativa particular e até nas organizações da sociedade civil. Mas eu continuo ajudando da mesma forma o Estado, na Secretaria, mesmo não sendo secretária. Eu acho que o importante é cada um ajudar da sua forma. Eu achei que essa forma, estando fora do quadro de funcionários do Estado, seria melhor. Mas tenho muito a agradecer, a elogiar a forma do governo. Acho que o governo foi feito para governar para as pessoas e confio muito no governador Jorginho Melo.
 

Olhando para trás, a senhora diria que as pessoas com deficiência têm mais oportunidades do que antigamente? A sociedade brasileira evoluiu nesse sentido nos últimos anos?
 
AK: 
Sim, ela evolui sempre. Nós ainda temos muitas coisas a conquistar, ainda temos muita luta pela aplicação e execução da legislação, porque a legislação existe. O problema é que ela não é aplicada, não é cumprida. E isso é que a gente tem que exigir das pessoas, dos lugares onde a legislação de acessibilidade 
precisa ser cumprida, de inclusão, mas houve uma melhora significativa. Mas é uma luta constante. Dificilmente as pessoas planejam alguma coisa pensando que ali possa vir uma pessoa com deficiência, que tem que ter algumas coisas a mais do que em outro lugar. Normalmente é só quando o problema está bem próximo.

A APAE de Florianópolis está ampliando o espaço físico da sua sede, no Itacorubi. A meta é quase dobrar o número de pessoas atendidas e zerar a fila. Na sua avaliação, quando esse objetivo será alcançado?

AK: Bem, a APAE de Florianópolis aumentou bastante o espaço, agora estão em fase de mobilia e, com isso, ela pretende atender as 700 pessoas que estão na fila de espera para avaliação. Nós zerarmos fila, nunca vamos, porque a nossa clientela não tem terminalidade, né? Algumas categorias, algumas deficiências, são os passageiras dentro de uma escola especial, aí depois elas vão por ensino regular e não precisam mais. Mas, de qualquer forma, zerar, a gente nunca vai zerar fila, infelizmente.

Quais os planos para a Feira da Esperança? Onde e quando acontecerá a próxima edição?
 
AK: A Feira da Esperança vai acontecer de 30 de novembro a 3 de dezembro, no Centrosul, em Florianópolis. Nossa expectativa é, além de manter, expandir os serviços. São sempre esses os planos que a gente tem dentro da Feira da Esperança.

Entrevista: Urbano Salles

Edição: Gabriela Morateli

 

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