Dep. Paulinha abre o coração e traz idéias
Segurança Pública e Escolar prioridades em 2024, diz Paulinha (Podemos)
A deputada estadual Paulinha (Podemos) recebeu a equipe da RCN (parceira do Jornal Imagem da Ilha) em seu gabinete na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Início na vida pública, projetos que defendeu e aprovou, pautas que deseja implementar foram os assuntos tratados de forma bastante descontraída pela parlamentar que passou pela Câmara de Vereadores e que comandou a prefeitura de Bombinhas, por dois mandatos. Esta entrevista também está disponível em vídeo.
RCN: Deputada, você atua em diversas frentes no desenvolvimento de Santa Catarina e é conhecida por sua participação na política desde muito jovem. Como começou essa sua história que a levou ao Executivo Municipal e hoje no Parlamento?
Paulinha: Eu sempre brinco que quando a gente é criança e a professora pergunta na sala de aula o que você quer ser quando crescer, muita gente responde que quer ser professora, motorista de caminhão, médico. Ninguém diz que quer ser político, né? É muito raro. E não foi uma coisa que eu planejei, mas eu sempre, desde menina, fui muito contestadora, sabe? Aquela garota na sala de aula que encrenca com um professor que perseguiu um colega, enfim, eu era da confusão. Então, a gente vive o processo de emancipação em Bombinhas, eu ainda bastante jovem, em 1993, e começo a me apropriar dessas causas públicas.
RCN: Que tipo de causas?
Paulinha: Eu era adolescente e na maioria, para não dizer a totalidade, das associações do nosso município era eu que fazia as atas e era das organizações. Daí veio o movimento estudantil, nos meus 13, 14 anos eu começo o vínculo no PDT pela juventude e quando me vi já estava dentro de um órgão público e depois a primeira mulher eleita vereadora da minha cidade e honrosamente também a primeira prefeita. Então foi um negócio muito de paixão, de envolvimento para tentar achar caminhos para fazer da vida das pessoas um ambiente de mais justiça social. Eu venho de uma família muito simples também, com muitas dificuldades, então eu acho que de certa forma eu penso isso. Tu és jornalista, as pessoas que estão nos assistindo cada uma tem a sua profissão. Eu acho que quando somos jovens sentimos um chamado, é como se Deus fosse nos preparando, nos colocando para cada lugar e para a minha política é isso, é muito sobre a missão que eu tenho para a minha vida.
RCN: Um projeto de lei aprovado e de sua autoria é o que garante recursos a agricultores para evitar prejuízos causados pelo granizo. Como surgiu essa pauta?
Paulinha: A principal função do parlamentar é enxergar de perto o que acontece nas comunidades. Eu conheci essa pauta por conta de um rapaz chamado Jean, ele é vereador de Caçador, me levou lá para entender qual é o processo da agricultura familiar. Quando o granizo vem ele é implacável, ele não deixa nada, destrói eventualmente também construções, enfim, mas a agricultura sofre um dano irreversível e total. Essa tecnologia de anti-granizo, que é muito simples, é um motorzinho assim que você liga e sai uma fumacinha, é legal, funciona muito bem e é um sistema muito barato, mas nem as associações de agricultores e mesmo as cidades menores, elas não têm como aportar o recurso para manter esse sistema. É uma luta, alguns parlamentares como o deputado Cobalchini na época ajudou muito, e eu gosto de mencionar quem ajuda na causa, né, empenhou algumas emendas, mas agora com a ajuda da absoluta totalidade do Parlamento, que foi um projeto votado por unanimidade, nós conseguimos manter esse como um programa permanente. Então a gente não vai mais ficar nesse sufoco de pedir pelo amor de Deus uma emenda de alguém ou uma beiradinha de dinheiro para o governo do Estado, entende? O governo vai ter que aportar regularmente, todos os anos, um valor para que essa tecnologia seja financiada e vai dar um descanso, um alento para esses agricultores. Então acho que foi uma lei muito positiva e agora, naturalmente, a gente vai trabalhar para que ela, de fato, seja cumprida.
RCN: Uma pauta muito importante é mobilidade catarinense e nesse sentido você tem atuado muito forte na possibilidade da 3ª faixa na BR-101 entre Porto Belo e Piçarras. Como você vê essa necessidade e os benefícios que isso trará para a região?
Paulinha: Estamos vivendo um período de absoluto colapso aqui, especialmente no litoral norte, um afogamento de tráfego que tem comprometido o nosso desenvolvimento econômico, os prejuízos são gigantescos. Nós fizemos a gestão junto com o prefeito Paulinho (Paulo Henrique Dalago Muller, de Bombinhas), os prefeitos e os empresários também da região durante todo o ano, conversando com a ANTT, com a Arteris, inclusive imaginando que fosse possível a gente se utilizar do acostamento como terceira faixa em alguns trechos. Foi feito um primeiro período de testes, muito curto, que não foi possível avaliar o impacto dessa decisão, mas evidente que não é o ideal e não é o que nós acreditamos como seguro, assertivo para a população. Nós defendemos com muita firmeza junto ao governo do Estado que ele receba, que ele toque para frente um projeto chamado Corredor Litorâneo, que na verdade é uma nova rodovia paralela a BR 101, que inicia aqui em Biguaçu e segue até Joinville, estimada em aproximadamente R$ 6 bilhões, é um investimento alto, mas que o Estado não pode abrir mão de fazer nesses próximos anos.
RCN: E o ProMobis, que é considerado um dos maiores projetos de mobilidade de SC ?
Paulinha: A gente tem trabalhado com muita força nesse programa que também foi iniciado lá no tempo que eu era prefeita e que congrega os 11 municípios da regional (Amfri). O programa ProMobis é um investimento da ordem de 120 milhões de dólares que será feito pela captação do consórcio que reúne os 11 municípios junto ao Banco Mundial. E aí é relevante dizer para as pessoas que esta é a primeira operação de crédito com o Banco de Fomento Internacional feita por um consórcio.
RCN: O projeto prevê túnel entre Itajaí e Navegantes, a implantação de ônibus elétricos e obras de micro mobilidade elétrica. E o que que isso muda na vida das pessoas, na prática?
Paulinha: O transporte elétrico começa primeiro próximo a Itajaí, Camboriú, Balneário, aquele miolo, Navegantes, e por fim vai se estender de Bombinhas até Luiz Alves. Assim, para as pessoas entenderem, hoje em um trajeto de Bombinhas a Piçarras, não no verão, que é louco, mas em temperaturas e climas normais, o cidadão gasta R$32,00, de ônibus três vezes em três companhias diferentes, e demoraria quatro horas e cinquenta minutos. Uma vez implementado o BRT, esse sistema todo elétrico, que eu acredito que no máximo em três anos ele vai estar concluído, o tempo de deslocamento será de uma hora e meia, ao custo de R$10,00, numa empresa única. Então, isso acho que vai facilitar também o transporte. O outro componente desse programa, que agora também tem investimentos, a gente levou esse projeto para o Brasil.
RCN: O Governo do Estado é parceiro?
Paulinha: Jorginho vai ser nosso parceiro, já se comprometeu inclusive em aportar uma parcela de recursos aí desse valor todo, é para fazer o estudo e o projeto executivo do túnel imerso, o túnel embaixo da água entre navegantes e Itajaí. E aí são seis pistas né, três pistas de cada lado, um negócio extraordinário, esse recurso está na iminência de sair já, até agosto, a gente já deve ter esses valores liberados, então nessa primeira etapa o que que vai ter? Além dos ônibus elétricos, dos corredores exclusivos para os passageiros, esse investimento de composição do projeto executivo para que o governo do estado possa lançar a operação de parceria público privada para a execução dessa obra. Então eu acredito aí que nos próximos anos a nossa estimativa é que a gente lance o edital ainda no governo Jorginho.
RCN: Iniciando o ano legislativo de 2024. Deputada, quais as principais pautas que devemos esperar sua participação esse ano? Já temos projetos idealizados?
Paulinha: Nós temos uma série de projetos. Temos um ano complexo, com muitas pautas. Eu acho que vem muito da minha experiência como prefeita, né? Numa cidade pequena o prefeito tem que saber, aprender, estudar um pouquinho de cada coisa para ele ser competente. Embora a minha visão é muito clara em relação a isso, onde uma gestão só se faz com um time competente. O secretário de Saúde, por exemplo, ou de Educação, eles têm que saber muito mais da matéria do que o próprio prefeito para que a gente possa fazer uma boa entrega. Mas essa coisa da diversidade do nosso mandato vem daí. Então a gente segue com uma pauta muito forte na questão da segurança pública, que também envolve a questão da segurança escolar. É uma questão que me preocupa gigantemente, porque quando nós tivemos os episódios de Saudades e Blumenau todo mundo sofreu. Eu não conheci nenhum ser humano, gente até que eu não gosto eu vi chorando e sofrendo por aí. Porque dói você ver crianças sendo vitimadas dessa forma. A gente passa a estudar essa matéria e entende que não são dois fatos isolados. O nosso coração, a nossa cabeça, a nossa alma, a nossa fé quer pensar que seja, mas a globalização, o mundo da informação, ele nos traz muita coisa positiva, mas de arrasto vem as negativas também. E o país, o nosso país acabou se integrando a essa cultura do crime de matar crianças que já está estabelecida nos Estados Unidos desde a década de 70 e já é viva em outros países também. Então a gente tem que ter uma atenção redobrada para essa questão da segurança escolar. Agora mesmo a gente está discutindo o uso do acesso das crianças na escola do telefone durante o período que eles estão dentro da escola. É um tema que tem tomado bastante calor, os pais estão se manifestando muito em relação a isso. Então a gente vai construir leis nesse sentido, mas a gente também vai manter o nosso pé muito firme na questão estratégica da saúde. Estamos com aproximadamente 15 projetos idealizados, prontos para colocar em pauta, em todos os setores que defendemos.
RCN: Neste que é um ano eleitoral, como você vê a participação feminina na política? Como incentivar e trazer esse olhar feminino para dentro das casas legislativas e no Executivo?
Paulinha: Eu gosto de falar desse tema, trazendo uma reflexão que eu acho que vale a pena vocês observarem. A gente tem um programa no parlamento, que é o Parlamento Jovem, e vou te dizer quase 90% dos inscritos são meninas, nessa idade dos 15, 16 anos. Aí essa menina cresce mais um pouquinho, ela começa a namorar, ela casa, ela vai para a faculdade e ela ocupa um espaço na sociedade que vai afastando ela dessas causas. Por quê? Porque a política, ela exige uma dedicação muito grande, uma dedicação que nos leva a uma jornada noturna que muitas vezes uma mãe não consegue cumprir. O afastamento da mulher na política não é porque ela não se interessa ou ela não quer. Não é por uma escolha, é por uma condição. A mulher, ela se sobrecarrega de tarefas e é muito difícil ela administrar o seu tempo e poder, e ainda tem isso. A resiliência dos homens para com as suas companheiras, a mulher casou, tem o filho, mas ela ama a política, ela quer seguir, quantos maridos se dispõem a ficar em casa à noite com o bebê enquanto a mulher sai para uma reunião, sem viver um conflito? São muitas questões que estão postas aí, mas quando a mulher persevera, ela segue o seu sonho e ela se faz presente, seja no parlamento, na gestão, a gente tem uma contribuição gigante, inenarrável, porque eu penso que homens e mulheres se complementam. Nós não somos nem melhores nem piores.
A mulher não tem que vir para política porque ela é melhor que o homem, não é isso. É que ela tem um jeito, ela tem uma visão mais periférica, mais amorosa, mais harmoniosa de lidar com as questões públicas. E esse complemento é fundamental, é necessário para que a sociedade seja mais justa e melhor, entende? E o que a gente vê hoje? Aqui no parlamento a gente tem, nós éramos cinco, agora elegemos três, a gente tem uma participação muito medíocre. Nós temos mais de 50% dos municípios catarinenses que não elegeu nenhuma mulher.
RCN: Como vai estar sua agenda nesse período?
Paulinha: Na nossa correria, esse é um ano de estrada onde vamos fazer muitas agendas nas cidades, sempre com o propósito de tentar amparar as mulheres. Mais que tudo, eu acho que é uma questão da força psicológica de dizer que ela consegue, que é possível harmonizar todos os nossos sonhos, o sonho de ser mãe, o sonho de ter um lar, o sonho de trabalhar fora, o sonho de estar na política. Isso é possível porque foi a experiência de vida que eu tive também. E de outro modo, também, auxiliar as mulheres a vir para a política sem tanta ingenuidade, porque nós somos mais ingênuas e nós somos mais passionais. Eu tenho falado isso para todas as mulheres que querem vir para a política, porque eu demorei anos para me dar conta disso. Além da nossa garra, da nossa coragem, da nossa energia, que isso a gente se vira sozinha, nós precisamos aprender a ser mais estratégicas, porque muitas de nós somos tragadas pelos partidos políticos, pelos grupos políticos, apenas com o propósito de cumprir a meta dos 30%, mas aí chega na campanha, nós somos menosprezadas, nós não recebemos o recurso devido, nós não temos o apoio necessário para que cheguemos ao êxito. E eu acho, sinceramente, eu me sinto uma mulher privilegiada numa condição de exceção. Na eleição passada, por exemplo, para a deputada estadual.
RCN: Algum recado final?
Paulinha: Então, se eu posso deixar um recado para todo mundo que, falando agora sobre esse espectro nacional, eu acho relevante a gente discutir com as pessoas pontos que tem a ver com a nossa democracia. A gente está vivendo hoje um período ainda de muita intolerância, certo? A gente vem de um momento onde a política se tornou um palco de guerra nas famílias, e isso realmente é muito ruim. Por outro lado, se você fazer uma análise histórica, temporal, nós somos uma democracia muito jovem, de 88 para cá, o que eu acho legal em tudo isso que vem acontecendo no país, ainda que eu discorde de diversas coisas, nos últimos anos a gente tem observado que a família é mais simples, assim, o senhor lá é um pedreiro, mesmo que tenha pouca instrução, em uma vila mais modesta, mas ele fala hoje sobre política no almoço de domingo com seus filhos, do jeito certo ou do jeito errado. E as pessoas vão aprendendo. Eu já me arrependi de votos de pessoas que eu votei, porque eu achava que a pessoa era o máximo, e depois acompanhando bem direitinho eu pensei, pô, por que que eu votei nessa pessoa? Não era isso aí. A gente só amadurece na democracia vivendo democracia, né?
Então, o recado que eu quero deixar para as pessoas é que elas não fiquem de costas para a política, e que elas se permitam ouvir a divergência, ouvir aquilo que alguém que pensa completamente diferente dela tem a dizer, porque eventualmente a gente pode mudar de perspectiva, de ponto de vista, e a gente vai também amadurecer a nossa visão sobre o que é a sociedade. Não está certo o povo achar que tal coisa é o político que tem que fazer. O contexto social é de todos nós, né?
Então a gente sempre que pode deixa esse recadinho para que as pessoas aproveitem agora esse novo exercício, a eleição municipal, para investigar com um pouquinho mais de carinho, um pouquinho mais de tempo quem é o vereador ou vereadora que vai votar, quem é o prefeito, estudar um pouquinho mais a vida dessas pessoas, porque na real é isso, chega na eleição é muito difícil, se é para nós que estamos no sistema e conhecemos os políticos ou boa parte deles, é confuso imagina para as demais. Porque a propaganda de todos é linda. Se tu for só pela propaganda eleitoral, tu vota em todos, porque todo mundo se aparece como um íntegro, honesto, capaz, enfim, vale a pena a gente tirar de tempo e fazer uma investigação minuciosa antes de apertar nosso voto e vale a pena a gente conversar com pessoas a respeito disso antes de decidir, é isso.
Que Deus abençoe o nosso ano, que 2024 seja um ano de glórias. A gente tem desafios, como as questões climáticas, nós não vamos mais ficar longe dessa coisa dos efeitos climáticos, Santa Catarina é um dos estados mais afetados do Brasil nesse aspecto, nós temos todo o tipo de efeitos climáticos aqui, então que Deus acolha a nossa gente, que dê sabedoria aos políticos para promover ações que venham a minorar os impactos negativos para a nossa gente.
Entrevista realizada pela equipe da Rede Catarinense de Notícias