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Vereadora Carla Ayres é a entrevistada da vez

Foto: Arquivo pessoal **CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR**

Publicado em 27/01/2021

Após conversar com a vereadora Manu Vieira, o Imagem da Ilha dá continuidade à série de entrevistas com vereadores que assumiram o mandato este ano (2021), com a vereadora Carla Ayres. Confira!


Imagem da Ilha - Cinco vereadoras iniciaram seus mandatos em 1º de janeiro. É a maior bancada feminina da Câmara de Florianópolis nos últimos 85 anos.  Juntas, vocês somaram mais de 11 mil votos. Quais fatores, na sua opinião, impulsionaram o voto em favor da mulher?

Carla Ayres - Acredito que são vários, mas poderíamos resumir assim. A cidade passou por duas legislaturas consecutivas (2008 e 2012) sem eleger mulheres, e depois, finalmente, quando uma vereadora foi eleita (2016) ela se negou a debater questões referentes aos direitos das mulheres na cidade. Nos últimos 4 anos, portanto, a noção de representatividade ficou muito evidente na Câmara. A Comissão da Mulher foi composta só por homens, com exceção dos três meses que passei por lá enquanto suplente. Tentamos, inclusive, chamar a atenção para isso, visibilizando nossas pautas neste período, propondo a criação da Galeria Lilás, o Dossiê Mulher Florianopolitana, etc.

Além disso, no último período os próprios movimentos de mulheres e feminista tiveram grande evidência, desde o surgimento do levante do #8M pelo mundo em 2017, passando pelo #EleNão em 2018 e os constantes ataques do atual Governo Federal às pautas ligadas aos direitos individuais (Mulheres, LGBTI+, Negras e Negros, Indígenas, etc), além do avanço das discussões sobre o aborto na América Latina. Tudo isso gera uma reflexão, ainda que tímida, da necessidade de mais mulheres nos espaços de decisão.

Por fim, o agravamento e aumento constante dos casos de violência contra as mulheres no Brasil, mas especialmente em SC e Florianópolis dão enfoque pra esta relação da representatividade também: o caso da servidora da COMCAP assassinada pelo marido enquanto trabalhava, a professora do Campeche assassinada dentro da escola onde trabalhava, o caso Mari Ferrer, até mesmo o suposto estupro cometido pelo prefeito joga holofotes sobre a questão e de um modo ou de outro contribuíram para que neste eleição o cenários, ao menos numérico, fosse revertido.
 
Apesar das diferenças político-partidárias, algumas questões comuns à mulher poderão unir a bancada feminina. De que forma a Câmara poderá colaborar na busca de soluções?

O legislativo, tem em essência, a função fiscalizadora e propositiva de ações. Acredito que, principalmente, o tema do combate à violência contra as mulheres é algo que une a bancada e neste sentido podemos pensar coletivamente como propor medidas: fiscalizar as estruturas de acolhimento, promover debates sobre o assunto, inclusive buscar a regulamentação de Lei de minha autoria que Cria o Dossiê da Mulher Florianopolitana para visibilizar dados sobre violência de gênero na cidade.
 
Casos de feminicídio e supostos estupros têm sido destaque no noticiário nos últimos tempos. Você se considera uma "feminista"? Qual a importância do movimento nos dias atuais?

Me considero feminista e acredito que esta é uma baliza entre a bancada de mulheres na câmara. Uma perspectiva feminista de olhar a sociedade está para além de discutir apenas violência contras as mulheres, ou reconhecer a importância de mulheres ocuparem espaços de decisão. Para nós (feministas) é preciso entender a lógica que estrutura e motiva as violências, que nos exclui destes espaços, que nos silencia, nos oprime e nos limitam em todos os espaços: nos lares, nos espaços de trabalho, no espaço público, entre os familiares, e até mesmo na regulação dos nossos próprios corpos. um dos pontos da importância do movimento feminista está em propor, promover e visibilizar este debate na sociedade.

De maneira geral, qual sua expectativa para o segundo mandato do prefeito Gean Loureiro? Como será sua relação com o governo municipal? 

Pois é, nosso mandato se pauta, na ação, pelo diálogo e pela valorização democrática das instituições. É fato que existem questões que ideológica e partidariamente temos como princípio no mandato e elas vão pautar o que demandamos e como avaliamos uma série de questões que chegam ao legislativo. Um exemplo disso é o pacote de medidas enviado esta semana pela prefeitura à Câmara. Foi convocada reunião Extraordinária para analisar matérias que, em nosso entender, nada têm de excepcional para tramitar em regime de urgência. O interesse público neste momento se concentra no enfrentamento à pandemia, na vacinação e testagem em massa, na retomada econômica com alternativas reais de emprego. Mas o pacote - que tem 6 projetos com sérios erros de forma, de constitucionalidade, de técnica legislativa - ao contrário, tratam de assuntos que retiram direitos de trabalhadores municipais, que vendem terrenos da prefeitura, que autorizam irregularidades ambientais, além de uma série de outras questões que não são urgentes. Este atropelo fere a autonomia legislativa e as prerrogativas de fiscalização que cada um de nós eleitas(os) temos, fere princípios democráticos de participação e controle social, fere conquistas trabalhistas acumuladas, etc. Diante disso, e ações como estas, não podemos ser coniventes.
 
A Câmara tem sido alvo de críticas por reservar muito tempo a assuntos de menor relevância, como nomear ruas e criar datas, por exemplo.  Alguma chance dessa realidade mudar nessa nova legislatura?

Eu não vejo problemas em nos debruçarmos em discussões como estas citadas (nome de rua e datas). Esta também é uma prerrogativa nossa. O problema não está em "reservar muito tempo em assuntos de menor relevância", o problema está em a maioria dos vereadores se submeterem e serem coniventes com ritos que "reservam pouco tempo para assuntos de muita relevância", como os citados na resposta da pergunta anterior.


No último dia 26, a senhora e outros sete vereadores votaram contra o projeto do pacote emergencial enviado pelo prefeito Gean Loureiro (DEM) que altera benefícios dos trabalhadores da Comcap. Explique seu posicionamento sobre o assunto.

Primeiramente é preciso relembrar que o pacote (um conjunto de 6 projetos) trata de temas diversos, não só da Comcap, e que são muitos questionáveis do ponto de vista da urgência. Garantir vacina a todos ou apoio às micro e pequenas empresas para geração de empregos, tão afetadas pela pandemia, não são urgentes? Em segundo lugar, o que reforçamos em todas as reuniões, é que alguns dos projetos apresentam diversas irregularidades jurídicas e legais devido a pressa com que foram enviados, o que vai gerar questionamentos na justiça e retorno à Câmara futuramente. Sobre nosso posicionamento, não avaliamos que retirar direitos trabalhistas adquiridos e nivelar condições de trabalho por baixo seja a melhor forma de gestão. A Comcap é reconhecida pela excelência no serviço prestado à população de Florianópolis. A conta dos problemas de gestão não podem ser descontados nas servidoras e servidores públicos, que se mostraram ainda mais fundamentais no combate à pandemia.  



Da redação

Leia também a entrevista com Manu Vieira, clicando AQUI.

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