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Setembro chegou e sempre será a casa da Primavera, por Fernando Teixeira
É necessário refletir sobre a importância de preservar o que resta dos espaços verdes em nossas cidades, antes que eles desapareçam sob o peso do desenvolvimento

Praça Getúlio Vargas - resistência verde em meio a aridez. (Fotos: Fernando Teixeira) ***CLIQUE PARA AMPLIAR FOTO

Publicado em 05/09/2024

A linda canção “Roteiro das águas”, composta nos anos de 1980 por Daniel Lucena e Beto Mondadori, imortalizada nas vozes e instrumentos do grupo Expresso Rural, transformou-se, naquele período de efervescência da música autoral catarinense, num  perfeito convite a reverenciarmos a estação do ano em que a natureza nos presenteia com seu estonteante colorido.

Nas ruas da cidade poucas árvores e muito calor.

 

Dia desses a ouvi sendo cantarolada por alguém próximo e me dei conta de que logo estaremos novamente adentrando esse período que sempre foi marcado pelo reflorescer dos jardins, pelos diferentes e inimitáveis tons de cores que enfeitam as copas das árvores ou pelo canto vibrante de pássaros que parecem hibernar em seus ninhos, aquecendo seus pequenos filhotes durante a estação mais fria do ano.

A primavera é como que uma explosão de vida. Ela faz brotar a certeza de que, apesar dos momentos de inverno pelos quais todos passamos, precisamos estar sempre atentos às lições de renovação que essa estação nos imprime. A aproximação com a estação das flores me fez refletir sobre o quanto nossa cidade, seus seguidos governantes, empresários e moradores de modo geral vêm se mostrando preocupados em cultivar e preservar espaços, públicos e privados, onde possamos manter um contato mais íntimo com a natureza e todos os seus encantos.

Rua Presidente Coutinho – uma das poucas em que o verde das árvores se faz presente.

 

No artigo anterior comentei sobre as profundas transformações que estamos vendo e que ainda veremos acontecer em nossa cidade, em consequência da aprovação do novo plano diretor, com a possibilidade de termos parte do território já urbanizado, recebendo um volume substancial de novas edificações e com gabaritos ainda mais elevados. Não obstante a Ilha de Santa Catarina possuir consideráveis áreas de preservação permanente (restingas, manguezais, dunas, topos de morros, entre outras), chegando a ocupar quase metade de seu território, o fato é que possuímos um número muito pequeno de praças, parques públicos e ruas arborizadas, disponíveis à população para seu uso cotidiano (isso se fizermos uma comparação com outras capitais brasileiras).

A ONU (Organização das Nações Unidas) recomenda que as cidades possuam pelo menos 12 m2 de áreas verdes por habitante. Enquanto Goiânia conta com 94 m2 e Curitiba com 64,5 m2, Florianópolis está distante do índice mínimo recomendado, computando apenas 5 m2 por habitante, segundo estudos recentes. No dia a dia percebemos claramente o quanto a população se sente atraída por espaços com essas características. O parque da Luz, localizado na região central da cidade, o parque do Córrego Grande e o parque de Coqueiros, este último situado no lado continental, são provas mais que evidentes dessa necessidade de contato com a natureza, manifestada por um público cada vez maior e mais preocupado com a saúde e o bem-estar.

 

Condomínio Residencial dando exemplo de carinho à cidade.

 

O aterro da baía sul, na região central da capital, e que foi objeto de minha primeira coluna neste portal, local que poderia abrigar um maravilhoso parque público, transformou-se num depósito de equipamentos inadequados às suas características iniciais, com estacionamentos, estação de esgotos, centro de convenções e passarela do samba, ocupando boa parte de sua magnifica área. Por outro lado, já é sabido que o aterro da baía sul, localizado entre os bairros de Saco dos Limões e Costeira do Pirajubaé, está na lista de áreas que podem sofrer alterações em sua configuração, recebendo equipamentos públicos e privados em espaços consideráveis de sua preciosa área de lazer. Setembro virá e sempre será a casa da primavera.

Aterro da Baía Sul – uma área de lazer ocupada por equipamentos inadequados.

 

Entristece-me, no entanto, a certeza de estarmos cada vez mais distantes da possibilidade de avançarmos na direção de um futuro sustentável. Nossas cidades estão cada vez mais áridas e carregadas de concreto. Nem mesmo as novas praças escapam a esse modismo dos novos tempos. Antigos quintais e jardins, antes repletos de vida, desaparecem como que num toque de mágica, deixando-nos órfãos de sua beleza e de seu perfume.

Grandes construções estão a ocupar seus lugares, de maneira acelerada e implacável. Não fomos criados para estar distantes da natureza; somos parte dela. Precisamos resgatar valores que nos tornem mais humanos e nos façam compreender que nossa relação com os demais seres não é de superioridade, mas sobretudo de igualdade, e que esta deve ser permeada por uma convivência, no mínimo, harmoniosa. Outros setembros virão!

Novos espaços públicos com pouca vegetação – uma tendência mundial.

 

 

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Sobre o autor

Fernando Teixeira

Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFSC), mestre em Geociências e Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC), natural de Florianópolis. Atualmente tem se dedicado à fotografia.


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