O Aterro da Baía Sul e sua relação com os florianopolitanos
A partir desta quinta-feira, 09, o arquiteto e urbanista Fernando Teixeira entra para o time de colaboradores do portal Imagem da Ilha, abordando temas de sua área de atuação relacionando-os à capital catarinense.
Boa leitura!
Recentemente, o Secretário de Turismo e Viagens de São Paulo e também colaborador deste Portal, Vinicius Lummertz, trouxe a este espaço uma importante discussão acerca da maneira como Florianópolis faz uso de uma de suas mais nobres e importantes áreas, tanto do ponto de vista paisagístico e urbano, quanto como possível gerador de divisas econômicas para o município: o nosso velho conhecido Aterro da Baía Sul.
Em seu artigo, Lummertz estabelece uma interessante comparação entre a destinação dada ao Aterro do Flamengo, existente na capital Fluminense, com o que foi implantado por aqui, no início dos anos de 1970. Tanto um quanto outro tiveram seus projetos elaborados pelo escritório de um dos mais reconhecidos paisagistas brasileiros e mundiais, Burle Marx.
A diferença maior, no entanto, está na forma como os cariocas absorveram aquele magnífico espaço, tratando-o não só como importante eixo de ligação entre bairros do Rio de Janeiro, mas, principalmente, como um grande parque urbano, com várias de suas áreas sendo utilizadas para a realização de atividades esportivas, artísticas e culturais.
O que se percebe por aqui, desde os primeiros anos em que o Aterro da Baía Sul passou a contar com as melhorias concebidas através do projeto paisagístico anteriormente mencionado, é que ele parece não ter caído nas graças dos habitantes locais.
Segundo levantamentos realizados no início dos anos 2000 por alunos de um Curso de Meio Ambiente do Instituto Federal de Santa Catarina, em uma disciplina em que se discutia questões ambientais e urbanas de Florianópolis, apontou-se como razões para essa dificuldade de relacionamento entre os florianopolitanos e o aterro, primeiramente, o rompimento, um tanto quanto abrupto, causado por ele, na forte ligação homem-mar, sempre tão presente no cotidiano da cidade, desde quando esta ainda era denominada Nossa Senhora do Desterro.
Um dos aspectos também apontados por moradores dá conta das adversidades advindas de intempéries climáticas. Os fortes ventos, principalmente os que sopram do quadrante Sul, associados às chuvas e ao frio, rotineiros nos meses do outono e inverno na capital catarinense, dificultavam sua utilização, gerando um consequente abandono e deterioração da área, bem como dos equipamentos até então existentes. Aliado a isso, outro fator também mencionado no referido levantamento está relacionado às escolhas adotadas pelo escritório paisagístico quanto aos tipos ou espécies de vegetações utilizadas no projeto.
Segundo os entrevistados, se nos períodos mais frios do ano a permanência na área era difícil, nos períodos mais quentes, por falta de uma cobertura vegetal adequada, isso também se tornava quase impossível. Isso sem contar que o piso utilizado, quase todo em petit pave, o qual deixava o ambiente menos amigável para a realização de atividades ao ar livre.
Palmeiras imperiais em colunas mostram o caminho até o mar esquecido (Foto: Fernando Teixeira)
Aos poucos, como também menciona Lummertz em sua análise, o Aterro da Baía Sul foi sendo descaracterizado e utilizado como depósito de tudo aquilo que não caberia em outras áreas do triângulo central que abriga o distrito sede da capital catarinense.
Terminais do transporte coletivo, passarela do samba, estação de tratamento de esgoto, centro de convenções, estacionamentos para veículos automotores (automóveis e ônibus), camelódromo, entre outros, foram “engolindo” as áreas de uso coletivo. Mesmo que pouco utilizadas, saíram de cena as canchas esportivas e a pista para a prática do skate, por exemplo, para cederem seus lugares a equipamentos de qualidade duvidosa, não previstos nos projetos paisagísticos originais.
O arquiteto André Schmitt foi vencedor de um concurso público na década de 1990, para reaproximar o Aterro da Baía Sul com o mar. Na foto, ele mostra como seria o projeto (Crédito: Ronald Pimentel)
O florianopolitano que viu o Aterro ser criado para abrigar as novas vias de ligação ilha-continente e, de quebra, presenciou o surgimento de uma grande área de lazer, acabou se acostumando somente com a primeira alternativa, acrescido de muitos outros “penduricalhos” de mal gosto. Florianópolis perdeu a oportunidade, através do projeto capitaneado pelo arquiteto André Schmitt, vencedor de um concurso público realizado na década de 1990, de ter, mesmo que de maneira um pouco tímida, a reaproximação de seu espaço central com o mar que o banhava, algo parecido com o que se presencia em Barcelona, em sua antiga área portuária ou suas ramblas, locais estes visitados anualmente por milhões de turistas que se deslocam àquela cidade.
Desconsiderado por diferentes administrações municipais que se sucederam ao longo dos anos, o Aterro da Baía Sul é hoje apenas uma caricatura do que poderia ter sido e representado para Florianópolis. Quem sabe as novas gestões municipais possam resgatar as ideias e os planos que ficaram guardados nos escaninhos oficiais e requalificá-lo para que possa ser utilizado gerando bem-estar social e divisas econômicas para a capital catarinense.
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Sobre o autor
Fernando Teixeira
Formado em Arquitetura e Urbanismo (UFSC), mestre em Geociências e Doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC), natural de Florianópolis. Atualmente tem se dedicado à fotografia.
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