O que você precisa saber para mudar a sua vida e a de um pet
Uma publicação na internet e um caso de amor à primeira vista. Assim recomeça a história de vida do Nico, um felino paraplégico e sem raça definida (SRD), que atualmente conta com mais de 19 mil seguidores em uma rede social. Resgatado ainda filhote por uma ONG de proteção animal, Nico precisou ter suas pernas traseiras amputadas para que tivesse melhor qualidade de vida. Apesar da condição de saúde mais delicada, a ONG não desistiu de encontrar uma família para o bichano, até o dia em que a protetora de animais, Elaine Almeida, visualizou a foto do Nico e decidiu pela adoção.
Há mais de três anos na família de Elaine, Nico divide o carinho com mais 21 gatos e 15 cães adotados e recebe todos os cuidados que precisa, como alimentação natural e uma cadeira de rodas, carinhosamente chamada de “turbo cat”.
A mesma sorte do Nico, infelizmente, ainda não chegou para milhares de cães e gatos no País: segundo levantamento do Instituto Pet Brasil (IPB), realizado em 2020, mais de 184 mil animais vivem em ONGs de proteção animal ou com grupos de protetores no Brasil. Cerca de 96% (mais de 177,5 mil) são cães e 4% (mais de 7 mil) são gatos abandonados ou resgatados de maus-tratos. Esses números não consideram os animais em condições de vulnerabilidade (ACVs), aqueles que vivem nas ruas, mas recebem cuidados de pessoas próximas, ou que estão sob tutela de famílias classificadas como abaixo da linha de pobreza. Essa população chega a 6,1 milhões de cães e 2,7 milhões de gatos, segundo dados do mesmo levantamento.
Não faltam iniciativas para mudar esta realidade. Organizações não governamentais (ONGs) e protetores de animais promovem feiras de adoção, comercializam produtos e incentivam a doação de recursos para poderem sustentar os animais até que consigam um lar. Datas especiais também ajudam a divulgar causas: desde 1992, no terceiro sábado de agosto, é celebrado o Dia Internacional do Animal Abandonado, e em 17 de agosto, no Brasil, o Dia Nacional da Adoção Animal. O objetivo é educar as pessoas a não abandonarem animais, promover a adoção responsável e alertar sobre os cuidados e os benefícios da adoção.
O que é preciso para adotar um animal?
Adotar um animal é um gesto louvável, mas não deve ser uma decisão tomada por impulso, já que exige muitas responsabilidades e custos. Segundo a médica veterinária Farah de Andrade, o primeiro passo é colocar no papel os gastos para receber um pet em casa: “Desfrutar da companhia de um animalzinho é ótimo, porém, todo animal precisa de cuidados com a saúde e o bem-estar. Consultas veterinárias e check-ups periódicos, cirurgia de castração, vacinas iniciais e anuais, prevenção de endo e ectoparasitas e alimentação de boa qualidade são os cuidados básicos por cerca de 15 anos, média de expectativa de vida dos pets. É preciso também estar preparado para eventuais problemas de saúde ao longo da vida, o que vai gerar gastos adicionais”.
Além disso, a casa ou o apartamento precisam estar preparados. Animais precisam de espaço para brincar e se exercitar e de um ambiente seguro. Canis e portões devem evitar a fuga dos cães. Janelas e áreas teladas evitam que gatos escapem para uma tentadora voltinha e corram riscos como atropelamento, envenenamento e brigas com outros animais.
Cães precisam de brinquedos para se entreterem e só devem passear na companhia dos tutores e usando guia com coleira ou peitoral. Já os gatos são mais difíceis de serem adaptados ao uso de peitorais e, por isso, precisam de enriquecimento ambiental para gastar energia e prevenir o estresse. Brinquedos que simulem a caça, arranhadores, nichos e móveis altos vão entreter os gatos e satisfazer seus hábitos.
Os futuros tutores também devem avaliar a rotina da casa, os planos para os próximos anos e o tempo disponível para os animais. “Não basta apenas alimentar e cuidar da saúde do pet. Ele também precisa de carinho do tutor e atenção e tempo para as atividades físicas. Caso a agenda seja muito comprometida, é possível recorrer a profissionais para colaborarem com os cuidados”, comenta Farah.
O mercado pet oferece cada vez mais alternativas para auxiliar os tutores: serviços de banho e tosa, creches com atividades físicas programadas, passeadores de cães e hotéis permitem que os pets tenham seu bem-estar diário garantido e os tutores possam viajar com tranquilidade quando houver necessidade.
Pronto para a adoção. E agora?
ONGs e protetores de animais promovem feiras frequentemente, com o intuito de facilitar a adoção. No entanto, também é possível agendar uma visita na instituição ou buscar por um pet que teve sua história divulgada em sites ou redes sociais. As ONGs oferecem os primeiros cuidados para os pets resgatados, com tratamento médico, vacinas e, muitas vezes, a castração, o que facilita os cuidados para o novo tutor.
“É muito importante seguir as orientações fornecidas pela ONG, como cuidados especiais que o pet precisa, vacinas e tratamentos que faltam e a ração que o animal está acostumado a comer”, relata Farah.
Já quando o animal é resgatado da rua diretamente pelo tutor, a atenção deve ser ainda maior: “Nesses casos, não se sabe o histórico de saúde e nada do que o pet já passou. Então, a primeira providência é consultar um veterinário que irá avaliar o animal e indicar os cuidados adequados. Se não for possível consultar o veterinário imediatamente, mantenha o pet num ambiente afastado dos demais animais da casa e ofereça alimentação de qualidade”, comenta a veterinária. Atenção especial aos mitos: cães filhotes ou gatos não devem beber leite.
Também é fundamental ter em mente que, por mais que se esteja oferecendo uma nova oportunidade de vida ao animal adotado, ele não consegue compreender a mudança de imediato, precisa contar com a paciência e a compreensão da nova família. “Deve-se entender que animais são sencientes, ou seja, assim como nós, possuem emoções. Cada animal tem a sua própria personalidade, então, é fundamental sempre respeitar a sua individualidade”, comenta a psiquiatra veterinária Kessie Menon.
“No início, cães filhotes não possuem preparo emocional para ficarem mais de 30 minutos sozinhos e os adultos não deveriam ficar mais que quatro horas sem companhia. Para os gatos filhotes, o mesmo prazo de 30 minutos, já os adultos têm condições de permanecerem até oito horas sozinhos, desde que já se sintam seguros em estarem num ambiente fechado. Quanto mais o tutor suprir a necessidade da espécie e entender seu comportamento natural, respeitando a individualidade do animal adotado, melhor e mais rápida será a adaptação a esse novo ambiente”, complementa a veterinária.
Outro ponto importante a se considerar é se já existem outros animais na casa. Antes de adotar um novo pet, seja ele cão ou gato, deve-se avaliar como seria a recepção de um novo integrante. A introdução de um novo pet deve ser gradativa, avaliando o comportamento e a interação dos animais. No caso de felinos, nunca devemos colocá-los juntos imediatamente: o ideal é separar o novo pet em um ambiente e sempre oferecer recursos de proteção e fuga, como caixa de transporte, para eles se sentirem mais seguros. Vale recorrer à ajuda profissional de adestradores e veterinários especialistas da espécie ou em comportamento animal.
Fonte: DrogaVET
Da redação
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