Livro 'Viagem de Goethe ao Brasil' será lançado na Capital
O livro Viagem de Goethe ao Brasil: uma Jornada Imaginária, do escritor alemão Sylk Schneider, chega ao país pela Editora Nave, dos escritores catarinenses Dennis Radünz e Patrícia Galelli. Com tradução de Daniel Martineschen, a obra mostra como Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) era um apaixonado pelo Brasil. Publicação mais que relevante e que descortina um pouco da história do país na data em que se celebram 200 anos da independência. A noite de autógrafos será nesta terça-feira, 06, às 19h30, no Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Sousa, no Centro. A entrada é gratuita mediante confirmação pelo Sympla. Todos que confirmarem ganharão um exemplar de Viagem de Goethe ao Brasil gratuitamente no dia do evento*.
O lançamento terá a presença do autor, o alemão Sylk Schneider. Ele participa de uma conversa com o tradutor Daniel Martineschen mediada pelo editor e propositor do projeto, Dennis Radünz. O evento tem o apoio cultural do Museu Histórico de Santa Catarina, da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e do Estado de Santa Catarina.
O autor de Fausto registrou em seus diários os estudos científicos e diálogos sobre o Brasil, então ainda uma “terra incógnita”, descrevendo em muitas citações sobre botânica, geologia, política, medicina e geografia. Ele fez isso graças às interlocuções e correspondências com viajantes como Alexander Von Humboldt, Carl von Martius, Eschwege e o Príncipe Maximilian de Wied.
A edição brasileira aprofunda as pesquisas da edição alemã de 2008 e publica, pela primeira vez, gravuras, manuscritos e mapas da biblioteca particular de Goethe. Também reproduz muitos documentos inéditos, como um manuscrito de 30 de julho de 1822 – em que registra, depois de ter lido um relato de Johann Emanuel Pohl, “as dificuldades da viagem brasileira” – e as pranchas de 1823 das duas espécies de malvaceae brasileira que o homenagearam ainda em vida: a Goethea cauliflora e a Goethea semperflorens.
Entre as dezenas de gravuras de botânica do século XIX — incluindo-se a prancha de cobre do livro de 1818 Journal von Brasilien (Diário do Brasil), do mineralogista W. L. von Eschwege, que viveu em Ouro Preto —, está a reprodução de uma rede de dormir da Amazônia, feita de fibra de tucumã, item raro que faz parte da coleção particular de Goethe.
O prefácio é assinado pelo professor e tradutor Berthold Zilly (autor de traduções à língua alemã de livros de Euclides da Cunha, Lima Barreto, Machado de Assis e Raduan Nassar), que procura, sutilmente, aproximar Johann Wolfgang von Goethe a João Guimarães Rosa.
Um alemão no Brasil
A Editora Nave, fundada em 2022 em Florianópolis pelo premiado escritor Dennis Radünz, concebeu Viagem de Goethe ao Brasil: uma jornada imaginária como ‘livro de arte’ [capa dura | 19x27cm | 256 páginas | colorido] e sua publicação é viabilizada pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet, com patrocínio da Multilog.
Para o autor Sylk Schneider, que vive em Weimar, cidade alemã que respira Goethe, quando a corte portuguesa fugiu das tropas de Napoleão para o Brasil, houve uma mudança na política brasileira, até então fechada. “O Brasil começou a se abrir para outras nações e todas as notícias relacionadas ao país estavam em foco. Na época, Goethe, que já se interessava por notícias de outras partes do mundo, era ministro de Estado da Saxônia-Weimar e a pedido do duque Carlos Augusto começou a acompanhar mais de perto as novidades que vinham do outro lado do oceano”, conta ele.
Com isso, o pequeno ducado da Saxônia-Weimar tornou-se um centro de recepção dos novos conhecimentos sobre o Brasil. Nenhuma cidade de língua alemã publicou mais livros sobre Brasil entre 1800 e 1832 do que Weimar.
Viagem de Goethe ao Brasil: uma jornada imaginária tem início quando Sylk Schneider, então um universitário que pesquisava a economia na América Latina, veio ao Brasil estudar economia durante um ano na Universidade Federal de Pernambuco, em Recife. “Na capital pernambucana me tornei fã dos relatos de viagens dos naturalistas europeus do século XIX que foram ao Brasil. Fui lendo os relatos de Piso, Marcgrave, Baerleus, Laet, Koster, Martius, Eschwege, Wied, Spix, Kloss, Natterer, Pohl, von Schreibers, e notei que muitos dos livros falavam de Goethe. Achei estranho o nome de Goethe aparecer nos prefácios das edições dos livros de Eschwege, de Wied e de Martius sobre Brasil, e aí comecei a pesquisar as fontes do interesse de Goethe sobre o país. Enquanto há centenas de livros sobre a viagem de Goethe a Itália, o interesse dele pelo Brasil praticamente era desconhecido”, adianta o autor.
Elegia de Marienbad
O interesse até então desconhecido de Johann Wolfgang von Goethe pelo Brasil e pela América do Sul (objeto de estudo de pouquíssimos especialistas goetheanos) faz do livro Viagem de Goethe ao Brasil: uma jornada imaginária uma nova referência para a história das relações científicas e culturais entre o Brasil e a Europa no século XIX, com muitos dados sobre viagens e viajantes.
A edição inclui vários documentos inéditos, gravuras e desenhos, além de um breve capítulo dedicado a Goethe e à planta medicinal brasileira “raiz preta”. Já para os campos de literatura e língua alemã, são de especial interesse a nova tradução de Daniel Martineschen da famosa Elegia de Marienbad (reprodução bilíngue) e poemas do primeiro Goethe (1782) inéditos em português, quando ainda era influenciado pela visão estereotipada dos “canibais” brasileiros que ele havia lido em Montaigne. Para Martineschen, “traduzir esse livro foi revisitar com deleite o vasto campo de interesses do velho Goethe, tão vasto que englobava o mundo inteiro”.
De grande interesse para especialistas, incluindo-se índice de fontes nos acervos alemães, o livro tem também um sabor cotidiano (com fatos e mesmo boatos deduzidos de correspondências da época) de fácil leitura para um público não especializado. “Viagem de Goethe ao Brasil: uma jornada imaginária é fundamental para a inversão da perspectiva recorrente do eurocentrismo: como deixou registrado nos seus diários, o escritor clássico alemão tinha interesse na ciência e cultura do Brasil e dedicou seus últimos 29 anos de vida a esse interesse tão incomum”, explica o editor Dennis Radünz.
Desafio de publicar o livro no Brasil
A ideia de publicar uma edição brasileira da obra de Sylk Schneider começa a ganhar forma em 2016 quando Berthold Zilly conhece o livro bilíngue História natural de sonhos/Naturgeschichte von Träumen editado em 2004 por Dennis Radünz e que reunia os poemas infantis do naturalista alemão radicado em Santa Catarina Fritz Müller (1822-1897). O livro recebeu da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), em 2005, o selo altamente recomendável na categoria tradução.
Berthold Zilly ficou entusiasmado com o aspecto de livro de arte e sugeriu a Dennis a publicação de Goethes Reise nach Brasilien, o livro que Zilly disse “não entender por que ainda não foi traduzido no Brasil”. Desafio aceito pelo editor, em dezembro de 2017 o autor alemão, Sylk Schneider, fez o primeiro contato e, por sugestão de Zilly, o tradutor brasileiro Daniel Martineschen (que receberia em 2021 o Prêmio Jabuti de Tradução pelo livro de Goethe Divã Ocidento-Oriental), passou a fazer parte do projeto.
Antes de concretizar o lançamento de Viagem de Goethe ao Brasil: uma jornada imaginária, o trio formado por Dennis, Berthold e Daniel publicou pela Editora Nave, o livro bilíngue Gente alemã/Deutsche Menschen (2020), a primeira edição em português da série de cartas humanistas dos séculos XVIII e XIX selecionadas e comentadas pelo filósofo Walter Benjamin.
AGENDE-SE:
Lançamento do livro Viagem de Goethe ao Brasil: uma jornada imaginária
Data e horário: 6 de setembro (terça-feira), às 19h30
Local: Museu Histórico de Santa Catarina | Palácio Cruz e Sousa (Rua XV de Novembro, 227 - Centro, Florianópolis)
* Entrada gratuita mediante confirmação pelo Sympla. Garanta seu ingresso e ganhe 1 exemplar de Viagem de Goethe ao Brasil gratuito no dia do evento. A lotação de pessoas é limitada à capacidade do local de realização do evento.
Da redação
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