Colisões entre navios e baleias alarmam cientistas
Baleias e golfinhos, descendentes de mamíferos terrestres que retornaram ao oceano há milhões de anos, enfrentam hoje uma grave ameaça: colisões com navios. Esse problema, especialmente crítico para espécies como a baleia-franca-do-norte, motivou um estudo global liderado pela Universidade de Washington (UW) e com a participação do pesquisador André Silva Barreto, da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Publicado na renomada revista Science, o artigo quantifica pela primeira vez o risco de colisões entre baleias e embarcações em todo o mundo, com foco em quatro espécies ameaçadas: baleias-azuis, jubarte, fin e cachalotes.
O estudo revelou que 92% das áreas de distribuição dessas baleias se sobrepõem ao tráfego marítimo global. Apenas 7% das áreas de maior risco possuem medidas de proteção em vigor, como a redução obrigatória ou voluntária da velocidade dos navios. Segundo a pesquisadora Briana Abrahms, da UW, as intervenções em apenas 2,6% das áreas mais críticas poderiam proteger os principais pontos de colisão identificados. O pesquisador brasileiro André Barreto destacou que, no Brasil, o risco é especialmente alto ao longo da costa que vai do sul da Bahia ao Rio Grande do Sul, onde baleias-jubarte predominam perto da costa e as outras três espécies estão em áreas mais afastadas.
A análise combinou dados de aproximadamente 435.000 avistamentos de baleias, provenientes de pesquisas científicas, registros de caça e observações públicas, com trajetos de 176.000 navios monitorados entre 2017 e 2022. Áreas já conhecidas, como o Mediterrâneo, o Mar Arábico e a costa oeste dos EUA, foram destacadas como hotspots, mas regiões anteriormente negligenciadas, como a costa brasileira, o sul da África e partes da Ásia, também emergiram como zonas de alto risco.
No Brasil, os dados sobre baleias foram fornecidos pelo SIMMAM, um banco de dados de longo prazo desenvolvido por Barreto e apoiado pela Univali desde 2005. O projeto, utilizado por órgãos como Ibama e ICMBio, reforça a importância de bases de dados extensas para análises globais. “Os resultados mostram como bancos de dados contínuos são indispensáveis para entender e mitigar ameaças”, afirma Barreto, destacando que muitas medidas simples, como mudanças nas rotas dos navios ou sistemas de alerta, podem fazer uma grande diferença.
Os pesquisadores também identificaram uma oportunidade promissora: a maioria dos pontos críticos está dentro de zonas econômicas exclusivas de diferentes países, o que facilita a implementação de ações locais coordenadas com a Organização Marítima Internacional. No entanto, barreiras ainda existem. “Embora algumas áreas marinhas protegidas coincidam com hotspots de colisões, a maioria não prevê limites de velocidade para embarcações, focando apenas em pesca e poluição”, explica Anna Nisi, autora principal do estudo.
Além de preservar os cetáceos, medidas como a redução da velocidade dos navios trazem benefícios adicionais, como menos poluição sonora, redução de emissões de gases de efeito estufa e menor impacto ambiental em áreas costeiras. Os autores esperam que os resultados inspirem estudos regionais e locais, especialmente em um contexto de mudanças climáticas, que alteram a distribuição das baleias e as rotas de navegação. O artigo completo pode ser acessado na Science através do link.
Da redação
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