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Respeito aos cozinheiros!
No dia 10 de maio foi celebrado o Dia do Cozinheiro

(Foto: Internet/ Reprodução) **Clique para ampliar

Publicado em 18/05/2023

Quando fui pesquisar o porquê da escolha desta data, o Google me trouxe muitas explicações, todas ligadas a algum político que muito provavelmente nem sabe o que é ser cozinheiro. Ou, talvez, algum homo erectus, em um longínquo 10 de maio, tenha feito seu primeiro t-bone de dinossauro com ervas da caverna em uma frigideira de pedra sobre o recém-descoberto fogo.

Mas, parece mesmo ter sido uma escolha aleatória para algum político levar alguma vantagem... ou desviar algum dinheiro!

Já, dia 13 de maio, foi eleito para ser o Dia Nacional do Chef de Cozinha, pela Associação Brasileira de Alta Gastronomia, como forma de homenagear os profissionais de cozinha.

Ser cozinheiro é diferente de ser chef... ao menos na minha presunçosa opinião!

Em tempos de IA e redes sociais, para ser chef você precisa ter um social mídia que crie a imagem e o histórico bonito em cozinhas variadas, e experiencias gastronômicas em lugares inusitados... mesmo que sejam vivências imaginárias.

As receitas podem ser copiadas de cozinheiros de verdade, trocando pequenos detalhes, retirando coisas “fora de moda” e colocando “produtos de pequenos produtores”, ostras venusianas, sal das luas de Saturno ou até um azeite trufado combinado com frutos do mar e folhas de ouro!

Contrate um bom fotógrafo influencer e “instagrame” a cozinha e o salão!

Isso feito, seguidores brotarão e, para mantê-los e multiplicá-los, crie discursos em posts bonitos sobre a alimentação, use pancs e colha com as próprias mãos alguns insumos que irão compor os cardápios: brade isso orgulhoso mesmo que não o faça!

O que importa é o discurso e as fotos bonitas e não a verdade... aliás, a verdade pouco importa para quem não é cozinheiro de verdade!

Tatuagens, discursos anti-sexistas e teorias de cozinha inclusiva ajudam muito para você se tornar um “rede sociável” chef... ah, ter um investidor que precise lavar dinheiro também ajuda e facilita muito para obter o título de chef, pelo menos do tipo de chef que faz tipo... tipo um chef qualquer... um chef tipo “case de sucesso”!

A equipe pode ser criada só com profissionais de uma “minoria” injustiçada, assim, mesmo se usar insumos baratos e com qualidade suspeita, poderá cobrar preços gourmet... aliás, gourmet já não é a palavra da moda, mas descreve bem esse tipo de chef!

Já ser cozinheiro é ser um cientista, um tanto Professor Pardal para criar soluções e inventar equipamentos, além de presenciar os efeitos físicos da transmissão do calor transformando produtos, ressaltando ou escondendo seus sabores.

É entender que reações químicas cozinham tanto quanto o fogo, e que o gelo também pode queimar ou desidratar alguns alimentos.

Ser cozinheiro é ser um pouco, ou muito, artista, afinal ser cozinheiro é praticar arte culinária!

E, como toda a arte, ser cozinheiro é estar sujeito a críticas e interpretações que às vezes distorcem totalmente a ideia inicial do artista.

O cubismo de Picasso mostra um mundo que não tem nenhum compromisso com a aparência real das coisas.

Cubismo culinário pode ser fazer de uma sobremesa clássica como o creme brulèe e uma terrine de foie gras, se fundirem em sabor e forma em uma entrada leve e marcante... um creme brulée de foie gras que sirvo vez por outra em meus cardápios.

As cores e tonalidades, sempre puras, do impressionismo de Monet e Cézane, passeiam pelos sabores puros da cozinha da Provance.

A preocupação com a realidade dos impressionistas como Degas e Renoir nos remete à culinária clássica, sempre atual, bela e valorizada.

Ser cozinheiro é também ser um matemático!

Receitas são fórmulas, combinando números, pesos e medidas para criar sabores inusitados... e, se for um cozinheiro-confeiteiro, então os números são mais exatos e bizarros: 12,5 gramas não podem ser 12 e nem 13 gramas, pois essa meia grama tem o poder de transformar um pudim perfeito em um acidente geográfico, tipo uma montanha depois de uma tromba d’água!

Os arquivos com as fichas técnicas de receitas se assemelham muito com os livros de cálculo do antigo colegial: poucos entendem, mas os que entendem, só tiram dez... esses são os cozinheiros-raiz!

É clichê, mas como adoro clichês, cozinhar é uma forma de demonstrar amor, e o cozinheiro de verdade, o cozinheiro-raiz, respeita cada alimento e tudo que ele pode trazer de sabor, aroma e textura!

Fazer uso na totalidade de cada insumo é respeitar todo o processo de produção dele, faz parte do dia a dia de um cozinheiro real, que até pode ser chef, alcunha dada pelo cargo que ele ocupa em uma brigada, em uma equipe de cozinha!

Fico pensando se cada pessoa que desse uma receita de chá, uma dica para curar a dor de cabeça ou sugerisse um remédio para relaxar sua tensão na lombar, fosse chamado de doutor...

E é isso que estão fazendo com a profissão de cozinheiro...

Basta ter um Instagram e uma cara-de-pau para se intitular Personal Chef!

Alguém se auto-promove a Personal Doutor?

Conhecem algum Personal Desembargador?

Talvez um Personal Astronauta?

No entanto, Personal Chef é uma epidemia nas redes sociais... e cada vez que alguém curte ou contrata um desses fake chefs, matam um pouco a profissão de cozinheiro!

Respeitar o cozinheiro profissional é respeitar todos os profissionais que estudaram, se dedicaram e têm orgulho das suas profissões, sejam elas qual forem!

Respeito aos cozinheiros!

E parabéns aos que admiram e valorizam os cozinheiros reais, os cozinheiros que são, e os que não são, chefs!

Quanto a mim... sou cozinheiro, orgulhosamente cozinheiro!

 

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Sobre o autor

André Vasconcelos

Cozinheiro raiz e autodidata, hoje no comando de sua Cozinha Singular Eventos e d'O Vilarejo Hospedaria e Gastronomia, onde insumos e técnicas são a base de cardápios originais e exclusivos... e aprendiz de escritor também!


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