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Com certeza você já ouviu falar de fake news. Mas, e de fake wines?

(Foto: Divulgação)

Publicado em 04/04/2018

Vamos analisar bem o vinho: um fermentado de uvas maduras. Simples assim, mas que contém na maioria das vezes uma identidade, um lugar específico que o torna diferente, aquele pedacinho de terra perfeito para se produzir um determinado tipo de vinho. Mas, qual a garantia de que o que aquele rótulo diz é verdade?

Bom, existem, na teoria diversas garantias, mas estamos lidando com pessoas e com um produto derivado da natureza, de frutas maduras e temos uma enorme margem de manobra nesse meio do caminho. Lidamos também com o gosto pessoal, e não estou falando só de aromas e sabores, mas o gosto por marcas, rótulos famosos, status e ostentação.

Como sabemos todo produto bem-sucedido é alvo de cópias ou até mesmo grosseira falsificação - muitas vezes nem tão grosseira assim. Fato é que o vinho não está a salvo desse mercado predatório e muito perspicaz.  Existem pessoas que querem, e conseguem, pagar milhares de dólares numa garrafa de vinho, muitas delas tem um paladar apurado, são verdadeiros connoisseurs e passaram por todas as etapas do aprendizado e apuraram seu paladar, porém outras só pensam no rótulo que está sendo servido e a fama ou o preço desse vinho e podem ser facilmente enganadas.

Já no lado da indústria temos produtores gananciosos que dão um jeito de aumentar seus lucros usando diversos tipos de artimanhas. Um dos casos mais famosos foi o “Brunellogate” ou como a mídia italiana noticiou, “Brunellopoli”. Em que produtores de um dos vinhos mais famosos do mundo, o Brunello di Montalcino, estavam “bombando” seus vinhos com uvas não permitidas para, não só aumentar a quantidade, mas deixar os vinhos com mais intensidade de cor e mais “redondos” para o paladar mundial.

Tais falsificações até viraram filme, como o caso de um famoso falsificador chamado Rudy Kurniawan (Sour Grapes, Netflix) que chegou a ser considerado o dono da mais incrível adega pessoal do mundo. Ávido colecionador de Borgonhas (era chamado “Dr. Conti”), Bordeauxs e outras origens famosas ele aliou seu incrível conhecimento, apurado paladar e sua influência nas maiores rodas de enófilos do Estados Unidos. Era nome carimbado nos maiores leilões de vinhos do mundo vendendo garrafas raras, mas foi desmascarado quando tentou vender um rótulo do Domaine Ponsot de safras que não haviam sido produzidas. Mais tarde foi descoberto que ele comprava vinhos de Napa Valley e Borgonhas antigos para utilizar nas suas falsificações.  Estima-se que ainda existam cerca de 10.000 garrafas dessa procedência por aí.

Outro país sempre envolvido em fake wines é a França, onde frequentemente regiões de grandes produções são flagradas usando uvas de diferentes locais ou rotulando seus vinhos mais simples com apelações mais prestigiadas, como aconteceu ainda nesse ano na região de Côtes du Rhône, incluindo Châteauneauf-du-Pape.

A China é possivelmente o maior mercado de vinhos falsificados do mundo, onde garrafas vazias de rótulos famosos valem centenas de dólares e marcas piratas com nomes similares surgem todos os dias. Também não é raro encontrar esses vinhos entrando pelas nossas fronteiras, por isso todo cuidado é pouco e quando aparecem alguns preços milagrosos por aí: será que não estamos comprando vinagre por vinho?


Sobre o autor

Eduardo Machado Araujo

Certified Sommelier - Court of Master Sommeliers


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