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Eu não tenho doença cardíaca. Devo tomar aspirina?

(Foto: Divulgação)

Publicado em 26/10/2017

O acidente vascular cerebral (AVC) e o infarto do miocárdio são eventos súbitos e sintomáticos que podem levar à hospitalização ou à morte. A prevenção primária cardiovascular nada mais é que o uso de tratamentos médicos para prevenir um primeiro infarto do miocárdio ou AVC, antes da ocorrência de qualquer sintoma.

A prevenção secundária cardiovascular, por sua vez, é o uso de tratamentos médicos para prevenir um segundo infarto do miocárdio ou AVC, antes da ocorrência de novos sintomas. Ainda que a aspirina (Ácido Acetil Salicílico, AAS) tenha efeitos benéficos protetores já bem estabelecidos em pacientes com uma história de infarto do miocárdio ou AVC prévio, o papel da aspirina na prevenção primária cardiovascular ainda não está bem claro.

Na maioria das vezes, o infarto do miocárdio ou o AVC ocorre quando uma placa de gordura na artéria torna-se instável, geralmente por um processo inflamatório na placa. Há um rompimento do endotélio, que é uma membrana que recobre essa placa de gordura na artéria, e o contato do sangue com o interior da placa de gordura origina a formação de um trombo no local. Este vai se estendendo por toda a luz da artéria e causando sua oclusão total. 

Assim, o fluxo de sangue no local fica interrompido e a estrutura do cérebro ou a área do coração que era nutrida por esta artéria, não recebe mais sangue e o tecido morre. A aspirina reduz a chance de formação de coágulos, evitando que as plaquetas (pequenos constituintes do sangue nos coágulos sanguíneos) permaneçam agregadas. Com isso, a aspirina reduz o risco de formação e crescimento do trombo, evitando a oclusão da artéria e obstrução do fluxo sanguíneo.

Já foram publicados grandes estudos que testaram os efeitos da aspirina nas pessoas sem uma história de infarto do miocárdio ou AVC. Esses estudos mostraram que a aspirina previne infarto do miocárdio não fatal e AVC, além de ter um pequeno benefício em prevenir morte de qualquer causa. No entanto, não foi comprovado efeito preventivo na morte de causa cardiovascular e o emprego da aspirina na prevenção primária ainda é muito discutível nas diretrizes das sociedades de cardiologia.

Ao avaliarmos quem deve tomar aspirina na prevenção primária ou secundária, temos que levar em conta os efeitos adversos da aspirina. O mais frequente efeito adverso da aspirina é o sangramento, e o local mais comum de sangramento é o estômago ou o intestino. Outro efeito não raro da aspirina é a reação alérgica, mas ela pode até mesmo causar – ainda que raramente - um sangramento cerebral, o que seria um efeito adverso grave.

Desta forma, é bem razoável que devemos pesar riscos e benefícios do uso da aspirina na avaliação de cada pessoa em particular. A mensagem para guardar que vamos deixar aqui, é que a aspirina deve ser usada na dose de 100 mg ao dia, nas pessoas que não apresentam contraindicações ao seu uso, e que são portadoras de placas de ateroma nas artérias, tenham ou não estas pessoas uma história de infarto do miocárdio ou AVC, e tenham estas pessoas entre 30 e 80 anos de idade.  


Sobre o autor

Dr. Jamil Mattar Valente

Médico cardiologista e responsável pela coluna de medicina preventiva do Jornal Imagem da Ilha


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