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Tornando A Pele Mais fina – Desenvolvendo a Empatia

A construção de uma sociedade mais humana começa com o exercício da empatia. (Foto: Pinterest)

Publicado em 01/12/2024

“Estamos no mundo para ampliar o conhecimento e para ampliar o amor.”

Bertrand Russell

 

Pensar a empatia é pensar sobre a comunicação entre os seres humanos, sobre a capacidade de vermos o outro, com abertura e inclinados a compreendê-lo.

O tema da empatia suscita várias abordagens e está ligado à convivência social desde o núcleo familiar até as relações entre os povos. Vamos começar falando que a empatia diz respeito à experiência como um todo. A capacidade empática, mais do que compreender racionalmente uma situação ou pessoa, está relacionada à capacidade de sentir. Não é um simples e rápido imaginar sobre a vivência do outro. Está no universo da sensibilidade. Por isso, podemos dizer que desenvolver a empatia é um processo de "ir tornando a pele mais fina". Uma trajetória de desenvolvimento da sensibilidade e do autoconhecimento, na medida em que podemos ampliar o conhecimento sobre o outro quando reconhecemos em nós mesmos toda uma gama de sentimentos e quando temos a possibilidade de elaborar as nossas próprias experiências. Exige também uma disponibilidade para ver pela perspectiva daquele que não somos nós, ou daquilo que aparentemente não nos diz respeito.

Em 2015 nasceu em Londres o Museu da Empatia e uma versão pocket da sua exposição interativa “A Mile in My Shoes” vem circulando por diversas cidades do mundo. Em 2017 foi inaugurada no Brasil. Em 2020, em função da pandemia, o Intermuseus (intermuseus.org.br) lançou o Empatia Online, uma transposição para o meio virtual da instalação sensorial “Caminhando em seus sapatos...”, parte do mesmo projeto londrino. O museu oferece caixas de sapatos ao visitante que, com fones de ouvido é convidado a conhecer uma ou mais histórias.

Há um provérbio americano que diz assim: “Never judge a man until you have walked a mile in his moccasins.” Nunca julgue um homem até que você ande uma milha em seus sapatos. O desenvolvimento de uma postura empática passa pelo reconhecimento de que nossas opiniões sobre os outros, por falta de elementos, informações e instrumentos, se aproximam mais de suposições do que do saber. Reconhecer a precariedade do nosso conhecimento sobre o outro e sobre realidades diferentes das nossas nos permite frear nossos preconceitos e buscar por mais informações e por mais conhecimento. Nesse sentido, o desenvolvimento dessa capacidade também passa pela intenção. Assim, podemos compreender a empatia como um fenômeno que requer uma abertura, um reconhecimento do nosso não saber e uma intenção de compreensão e não de julgamento.

A respeito da nossa tendência ao julgamento, é possível pensarmos como uma necessidade de autoafirmação, ou seja, como uma necessidade de defendermos a nós
mesmos e a nossa própria forma de ser-no-mundo. Entretanto, juntamente com o desenvolvimento da empatia, podemos compreender a nossa existência como uma das formas possíveis e como as demais, possuidora de uma história que a sustenta. Além disso, sempre podemos aprender, expandindo nossa forma de ver o mundo com modos, expressões e vivências diferentes daquelas que nos são familiares.

Mas por que é cada vez mais importante desenvolvermos a empatia? Embora possa ser considerado o início da globalização o grande período que compreende meados do século XV, com o início das grandes navegações, até metade do século XIX, a sua consolidação se deu no século XX com a expansão dos meios de informação. A noção que temos hoje do mundo como um “corpo” único é diferente da que tínhamos até o século XVIII. O desenvolvimento da nossa capacidade de empatia nos leva à compreensão de que, a despeito das nossas diferenças históricas e culturais, os seres humanos têm em si, basicamente, as mesmas necessidades. Além disso, compartilham, inevitavelmente, o mesmo espaço, do qual são parte interdependente. Desenvolver a empatia nos permite ampliar as condições para superar conflitos, desigualdades, bem como divisões arbitrárias.

O desenvolvimento dessa habilidade individual é a base para uma sociedade mais humana, inclusiva e fraterna. Deve ser a base das relações familiares e das pedagogias. Projetos educacionais, de um modo geral, precisam contemplar, neste sentido, espaços para que a criança e o jovem possam ser vistos, dando uma resposta adequada às necessidades de cada um, com acolhimento, limites saudáveis, diálogo e reflexão.

Para concluir, podemos pensar a empatia também como uma postura ética que nos prepara para o verdadeiro encontro e para o diálogo. A empatia compreende o que pensamos, como vemos e como sentimos o mundo, o conteúdo de nossas conversas e a forma como dialogamos. Não é possível afirmar que é uma escolha, mas é possível afirmar que podemos exercitá-la.

 

 

Texto por Denise Evangelista Vieira

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Sobre o autor

Denise Evangelista Vieira

Psicóloga formada pela UFSC e em Artes Cênicas pela Udesc. Escreve sobre o universo humano. Quem somos e em quem podemos nos tornar? CRP 12/05019.


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