Sobre tudo e sobre todos, por Luzia Almeida
A valorização do ser humano pode começar com seu nome.
Quais as implicações de um nome? Quantos nomes saudáveis fazem parte da nossa história? Esses são alguns questionamentos que podemos fazer com relação ao nome e esse substantivo próprio tem se tornado comum pela desvalorização do ser humano. Resgatar o valor do nome da pessoa é resgatar a sua dignidade.
Assim, eu celebro o poema “Teu nome”, de Vinicius de Moraes, pela ternura que ultrapassa as comparações da composição: “Teu nome, Maria Lúcia / Tem qualquer coisa que afaga / Como uma lua macia / Brilhando à flor de vaga. Sim, há uma ternura requintada que veicula amor. Maria Lúcia é um bonito nome, mas a afetividade não se justifica pela fonética e sim pelo afeto. A subjetividade do poema está intimamente ligada à ideia que a pessoa representa. Primeiro é uma vaga (onda) depois é o mar inteiro produzindo sons: “Parece um mar que marulha / De manso sobre uma praia”. O poema pode ser interpretado de várias maneiras. O importante é a constatação da dimensão afetiva que está diretamente ligada à pessoa. Nesse sentido, observo o valor dos nomes das pessoas e o que elas significam como se cada uma tivesse um código secreto que ao ser anunciado arrebentasse o lacre da afeição. Por exemplo, tenho vários amigos, cada um representado por seu nome. Alguns são verdadeiras manhãs de sol, em outros o sol já se pôs deixando profunda saudade. E ainda há uns em que a esperança se renova na velocidade da luz. Assim, eu entendo o poeta à medida que ele se expõe emocionalmente: “É um doce nome de filha / E um belo nome de amada / Lembra um pedaço de ilha / Surgindo de madrugada”. Observe o charme: “pedaço de ilha” e pense num quadro em que a ilha é coroada pela lua. Sim, porque ele não precisa falar em lua na construção desse cenário afetivo... a lua é a coroação do verso.
Todas as pessoas têm um nome que é próprio, que é único embora haja repetições. O nome das pessoas representa o que elas são, embora também possam ser identificadas por números. Quem precisa dos números dos documentos de Vinicius? Ninguém. Precisamos do seu poema que nos ensina a valorizar as pessoas, pelo o que elas são: seres humanos. E essa humanidade universal é a régua que nos nivela pelos laços da necessidade porque todos necessitamos de algo ou de alguém. Há poemas, mas os tempos são secos, ásperos e avessos às afeições: é necessário que nos disponhamos a amar o próximo.
Somos vulneráveis e precisamos de força e proteção pra seguirmos nesta proposta “samaritana”. Pense: cada nome tem “um cheirinho de murta / E é suave como a pelúcia / É acorde que nunca finda”. Devemos desabotoar o casaco do egoísmo e entregá-lo a quem tem frio, porque o frio e a fome de cada um não anulam o seu nome.
Visão, audição, olfato e tato: o poema de Vinicius passeia por entre os sentidos: “brilhando à flor de uma vaga”, “mar que marulha”, “tem um cheirinho de murta”, “E é suave como a pelúcia”. Os versos do poeta são veiculados pela artéria aorta... E chegamos ao coração do texto: diante da grandeza do nome do Deus Emanuel, o maior de todos os nomes, estamos todos atrás. Pequenos! Que a majestade do Deus Eterno possa fazer-nos entender o sentido da palavra “atrás” e nos conduzir considerando seu Santo Nome e tratando o nome dos outros com afeição.
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em comunicação.
Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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