Setembro amarelo e as canções de ninar, por Luzia Almeida
Em um mundo cheio de desafios, até os adultos precisam do conforto emocional que embala a alma
Acredito que em todos os povos, em todas as culturas existam canções de ninar. E por que seria? Talvez seja por causa dos desgastes da vida, dos boletos, dos traumas, das perdas esperadas e inesperadas. O ser humano precisa deste embalo materno desde pequeno e hoje... mesmo depois de crescido (O menino cresceu!...); ele ainda precisa de canções de ninar, de poesia etc. pra ver se aguenta as demandas da vida. E foi pensando nisso que a poetisa Cecília Meireles, gentilmente, concedeu-nos a canção “O menino azul”: “O menino quer um burrinho / para passear. / Um burrinho manso, / que não corra nem pule, / mas que saiba conversar”. Viram só? Quanta ternura!... Mas, para além da poesia e das canções de ninar, o ser humano precisa de políticas públicas que atendam às suas necessidades emocionais, do contrário os desafios sociais contra o suicídio permanecerão. Logo, debater sobre esse tema é mais urgente do que imaginamos.
Setembro é mês de reflexão e de combate ao suicídio. Reflexão tem significado plural: precisamos ouvir e precisamos doar uma pouco de diálogo a quem precisa; precisamos doar um pouco do “menino azul” que existe dentro de nós. E, de acordo com o professor do CEMEP-SEDUC, Cássio Marcelo Sobrinho Souza, a abordagem sobre o suicídio é de grande valia: “Não falar sobre o assunto não resolve o problema, é como varrer poeira para debaixo do tapete. Não pode ser interpretado como fraqueza ou covardia. Esse tipo de interpretação ignora fatores sociais e psicológicos complexos”. Nesse sentido, fica claro a seriedade deste tema e fica evidente que deve ser tratado com urgência. Ele afirma que “embora o tema direcione para a necessidade de políticas públicas, é fundamental considerar fatores sociais, culturais, econômicos e psicológicos”. E, de acordo com o professor, as medidas mais urgentes são: “fortalecimento das redes de apoio, tanto familiares como comunitárias; discussão aberta e responsável (nas escolas e no trabalho) e políticas públicas de saúde mental inclusiva”. Eis, algumas medidas relevantes para combater o suicídio no Brasil.
Outras medidas visam ao sujeito na sua particularidade ou singularidade, estou falando sobre a valorização do ser humano, estou falando de amor e de respeito em todas as esferas da sociedade. E quando falo em amor fica claro que não é amor (coraçãozinho vermelho no whatsapp); estou falando de empatia e de solidariedade, isto é, o amor multiplicado ou ressignificado à medida que o outro necessite. É só olhar a sua volta: lá está a pessoa ferida precisando de alguém. Feridas metaforizadas somente são percebidas com os olhos da compaixão.
O ser humano precisa de Deus e de poesia: “O menino quer um burrinho / que saiba dizer / o nome dos rios, / das montanhas, das flores, / - de tudo o que aparecer”. É isso! É preciso despertar da letargia da indiferença. Esse despertamento para tudo o que é belo como a poesia, lírios, pássaros, rios a correr, o brilho das estrelas... todo o encantamento da natureza; tudo o que enobrece precisa de fermento (não o fermento dos fariseus), mas de algo singelo e fácil de crescer como o menino da Cecília.
A humanidade está chegando ao seu limite, não sejamos tolos pensando que estamos vacinados contra este mal, a vacina procede da mão estendida — verdadeira canção de ninar. É essa canção que combate a violência (autodestruição) que nos torna pacíficos e verdadeiros filhos de Deus.
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Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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