“O beijo” e a metáfora de livro, por Luzia Almeida
A leitura é um abraço em forma de palavras, oferecendo ao leitor um universo de dilemas e sentimentos humanos
Não se pode mensurar a importância da leitura, mas assim mesmo farei uma abordagem nesse sentido considerando narrativas e poemas. Por quê? Porque foi lendo romances, contos, crônicas e poemas que conheci autores excelentes e fiquei encantada com a literariedade deles e com as situações por que passam personagens e eus líricos. De acordo com Ricardo Barreto, a “Literatura expressa os dilemas, os sentimentos e as diversas experiências do ser humano”. Seria uma hipérbole dizer que cada romance abriga uma enciclopédia?
O romance “Crime e castigo” de Dostoiévski é um clássico sobre humanidades: “a pobreza o esmagava. A verdade, porém, é que, nesses últimos tempos, a própria miséria, para ele, não representava mais sofrimento”. Do mesmo modo temos em “O estrangeiro”, de Albert Camus, um personagem enigmático. A trilogia de Victor Hugo e os “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Marques também nos capacitam a conhecer o ser humano embora sejam textos ficcionais.
O conto-solidão “A moça tecelã” de Marina Colasanti: “Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha” e o conto-cilada “Venha ver o pôr do sol” de Lygia Fagundes Telles: “gritou ela, estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo” abordam temas sociais de grande relevância e nos fazem pensar nas solidões e nas ciladas que muitas mulheres caíram sem direito à liberdade e à vida. Há ainda os contos de Machado de Assis que nos assustam como “A causa secreta”, “A cartomante”, “O enfermeiro” e “Missa do galo”. Cada conto um trauma para ser descartado e uma vida para aprender!...
A crônica “O mato” de Rubem Braga aborda uma situação de estresse por que passa o personagem e o seu desejo de viver sossegado como se fosse uma árvore: “emitiria raízes e folhas, seu tronco seria um tronco escuro, grosso, seus ramos formariam copa densa, e ele seria, sem angústia nem amor, sem desejo nem tristeza, forte, quieto, imóvel, feliz”. Esta crônica convida-nos a rever nossa agitação do dia a dia e a sonhar com um “carpe diem” simples e equilibrado dentro de uma Arcádia possível.
O poema “Confidências do Itabirano” do poeta Carlos Drummond de Andrade retrata a dor de uma saudade e não há nada neste mundo mais concreto do que uma saudade: seja de amigo, seja de amor, seja de bicho, seja de livro, seja de uma cidade que ficou na lembrança: “Tive ouro, tive gado, tive fazendas. / Hoje sou funcionário público. / Itabira é apenas uma fotografia na parede. / Mas como dói!”. Dor é palavra-verbo de literatura.
A literatura não é apenas um deleite para os olhos, é também um mundo de conhecimentos, de certezas e de dúvidas que o leitor, ao deparar-se, passa a perceber que não está sozinho nos embates e nos dilemas dessa vida. O leitor encontra na literatura um abraço feito de palavras. E essa metáfora do abraço não está sozinha na área da afetividade intelectual, há outra que chamo de “O beijo” porque aprendi a pensar: Eu penso em asas de borboletas / porque, talvez, a lembrança da leveza / Me faça pensar no mistério da leitura. / Asas de borboletas e páginas de tantos livros / que já li e lerei. / Páginas são folhas místicas, / peso leve de emoção: / Carícia / que começa no cérebro / e termina no coração. / Eu penso em asas de borboletas / porque livro é flor / e leitura beija a flor.
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Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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