“Natal na barca” de L. F. Telles e o verdadeiro Natal, por Luzia Almeida
O conto “Natal na barca” de Lygia Fagundes Telles é interessante por conta do sentido diferenciado do Natal que se verifica: uma personagem seca e fria diante do outro: “O velho, um bêbado esfarrapado, deitara-se de comprido no banco, [...] e agora dormia. A mulher estava sentada entre nós, apertando nos braços a criança enrolada em panos”. Eis os passageiros da barca e solidão. Na noite escura que acompanha os viajantes, temos acontecimentos inéditos, mas isso seria o Natal?
O natal de Lygia ocorre na vida da personagem que não queria conversar com ninguém: “Pensei em falar-lhe assim que entrei na barca. Mas já devíamos estar quase no fim da viagem e até aquele instante não me ocorrera dizer-lhe qualquer palavra”. Diálogo negado: “Debrucei-me na grade de madeira carcomida. Acendi um cigarro. Ali estávamos os quatro, silenciosos como mortos num antigo barco de mortos deslizando na escuridão. Contudo estávamos vivos. E era Natal”. Essas noções de tempo e espaço conduzem-nos a um questionamento: qual é o verdadeiro sentido do Natal?
Faz muito tempo que José e Maria viajaram e procuraram abrigo numa hospedaria, sem êxito: “E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lucas 2.7). Assim, nasceu o Senhor Jesus e foi posto numa humilde manjedoura. O Senhor do Universo, o Criador! A narrativa bíblica não é ficcional como o conto de Lygia. É uma verdade prática e aplicável nestes tempos de guerra, de intolerância e de desamor.
“Nasce Jesus, nasce Jesus e as trevas vem dissipando”. Dissipar as trevas é o objetivo do verdadeiro Natal. Dissipar as trevas não apenas com o nascimento de Cristo, porque o nascimento era a primeira etapa da conquista dos corações humanos. Nascer, morrer e ressuscitar é a tríade e o domínio bendito do Redentor. Foi desta maneira que Ele nos resgatou de todos os vícios: na cruz do Calvário. Ele se comunicou conosco. A sua voz ecoou por toda a Terra. A bondade de Cristo se derramou vermelha na cruz. Nossa esperança, em cada Natal, é renovada porque a manjedoura, a cruz e a sepultura estão vazias. O Unigênito Filho do Deus Altíssimo desceu e subiu eternamente. Ele está assentado “à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1.3) e intercede por nós.
O verdadeiro Natal tem um único e legítimo representante, não apenas porque nasceu, mas também porque morreu e ressuscitou. É por isso que o salmista diz: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o Rei da Glória”. É por isso que a mulher samaritana perto dele disse: “Senhor, vejo que és profeta”. Muito mais que profeta, Ele multiplicou os pães, Ele é o próprio pão da vida!... É por isso que o gadareno quis segui-lo e Zaqueu subiu na árvore para vê-lo e perto dele sentiu sua maldade e disse que devolveria tudo o que havia roubado. É por isso que Pedro, arrependido, chorou tanto. E, perto dele, Paulo sentia-se o “principal dos pecadores”. Perto dele, no caminho de Emaús, os corações dos discípulos esquentaram. É Ele quem nos aquece com seu amor no inverno da existência e no calor das tribulações, “refrigera a nossa alma”.
O Natal pode acontecer na barca, no metrô, no ônibus, no avião... contando que o Senhor esteja presente, porque o Natal é perto dele.
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Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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