“Eduardo e Mônica” e os baobás de Saint-Exupéry, por Luzia Almeida
A música “Eduardo e Mônica” da banda Legião Urbana convoca nossa atenção para os contrastes num tempo de intolerância e de falta de respeito; e o livro “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry — principalmente o capítulo V — que trata dos baobás — apega-se à nossa sensatez quando queremos rejeitar o óbvio: se deixarmos o mal crescer, então teremos de colher os frutos. Tolerância, respeito e disciplina são palavras urgentes neste século tecnológico. “Eduardo e Mônica era nada parecido / Ela era de leão e ele tinha dezesseis / Ela fazia medicina e falava alemão / E ele ainda nas aulinhas de inglês”. Assim temos um casal: um homem e uma mulher que se encontram num amor e, embora haja desníveis sociais e acadêmicos: ela é aluna de medicina e ele ainda vai fazer o vestibular. Se ela perguntasse a ele: “Wie geht es dir?”. Ele não saberia nem que língua é essa. Não haveria comunicação! Mas a “vontade de se ver” se configura em Língua Portuguesa que é código comum de ambos como também o coração que fala sua própria língua e todos somos capazes de entender.
Neste cenário de “Eduardo e Mônica” também somos protagonistas e precisamos aprender que os níveis e desníveis em uma sociedade, quer dizer, essa pluralidade, essa diversidade existem para que possamos conjugar o verbo respeitar. O verbo respeitar também é pronominal. Que bom! Eu respeito-o, tu respeita- lo, ele respeita-o. É dessa conjugação que podemos garantir a paz entre as pessoas, quando o “ele” recebe aquilo que lhe é de direito.
E os baobás? Os baobás são um caso sério!... Brincamos muitas vezes com o que é pernicioso, brincamos com a raiz quando precisamos arrancá-la de vez. E quando digo raiz entenda “o mal” que, de alguma maneira, insistimos em não abandonar: seja o açúcar, o sal, o glúten, o álcool, a nicotina; seja outras drogas como a cocaína, seja a preguiça em forma de TV ou série, seja o relacionamento tóxico, seja o que for que nos faça mal e nós, simplesmente, fazemo-nos de desentendidos. Há textos bíblicos para socorrer-nos como: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (I Co. 6.12).
E há também uma ilustração no livro “O Pequeno Príncipe”: “Ora, no planeta do principezinho havia umas sementes terríveis... Eram as sementes de baobá. O solo do planeta estava infestado delas. Se só reparar num baobá quando ele já for bastante grande, nunca mais ninguém se livra dele”. Deixar o baobá crescer é fatal! Então só nos resta a disciplina da limpeza, da mesma maneira que fazia o pequeno: “É uma questão de disciplina”, dizia-me, mais tarde o principezinho. “De manhã, quando nos levantamos, nos lavamos e nos arrumamos, não é? Também é preciso limpar o planeta.
Temos de arrancar regularmente os pés dos baobás... É um trabalho muito chato, mas muito fácil”. Nem sempre é fácil, meu querido príncipe. Mas é eternamente necessário. Somos pequenos como o planeta do principezinho. Temos limites e não devemos ultrapassá-los, a menos que aceitemos sem reclamação as nefastas consequências. A música, as Sagradas Escrituras e a literatura nos abraçam neste momento de luz e de respeito ao próximo. Momento de atitude quando precisamos liquidar com as sementes de baobás que insistem em brotar nos nossos jardins. Sejamos príncipes na luta contra o mal para que possamos cuidar de nossas rosas.
Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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