O personagem de Eça de Queirós e o professor Carlos Alexandre na perspectiva da Inteligência Artificial, por Luzia Almeida
A literatura aproxima-nos no tempo e no espaço e a tecnologia nos capacita hoje aqui e agora que já é futuro
O romance “As cidades e as serras”, de Eça de Queirós, foi publicado em 1901 e apresenta as marcas da modernidade do final do século XIX. No início do romance, o personagem “Jacinto” vive e se embriaga com as tecnologias da época, ele declara que “o homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. E, assim, ele entende e concebe a civilização: “robustecendo a sua força pensante com todas as noções adquiridas desde Aristóteles, e multiplicando a potência corporal dos seus órgãos com todos os mecanismos inventados desde Terâmenes, criador da roda,”. Sim, a partir de Aristóteles e de Terâmenes teriam “todos os gozos e todos os proveitos de saber e de poder”. Era uma fala profética de “Jacinto” que ainda nem sonhava com um diálogo com um certo professor de IA.
O palestrante e professor Carlos Alexandre do Instituto Federal da Paraíba (Campus Pedras de Fogo) considera e corrobora com as palavras de civilidade do nosso “Jacinto” quando apresenta um excelente trabalho sobre Inteligência Artificial aos professores de todo o Brasil. Para o professor a palavra-chave é versatilidade: “a inteligência artificial não é simplesmente uma ferramenta, ela é uma ramificação da inteligência humana porque dá feedback conforme o prompt que você elaborar, ou seja, se você elabora um bom prompt, se você tiver uma boa expertise, se você saber dar características ao que quer, a inteligência artificial vai gerar um conteúdo responsável”. Além de uma maneira prática e inteligente de entender a IA, ele também é empático com os professores da Educação Especial quando afirma: “A Inteligência artificial fez sentido na minha vida no momento em que comecei perceber a dificuldade dos professores em gerar conteúdo. Eles têm muita dificuldade, principalmente na Educação Especial porque precisam adaptar atividades pra alunos com dislexia, TDH, etc.”. Nesse sentido, a IA recupera conteúdos na elaboração de um plano de aplicação para diferentes públicos.
Penso num encontro entre o personagem “Jacinto” de Eça de Queirós e o professor Carlos Alexandre de IA num hotel na Avenida Paulista em São Paulo em junho de 2024. “Jacinto” diria:
— Ó, Carlos Alexandre! Como pude nascer no final do século XIX e perder a invenção do celular, do Pix, da Uber e do ChatGPT?
O professor então sorriria pra ele e diria:
— Sem contar que você não teria o Cartão Black! Mas, deixa disso e vamos visitar o Masp e apreciar os quadros de Renoir e depois te inscreves na live de hoje às 19h no Destaque Educativo que estás atrasado há séculos!...
Esse seria um possível diálogo entre pessoas que amam a tecnologia.
A Literatura aproxima-nos no tempo e no espaço e a tecnologia nos capacita hoje aqui e agora que já é futuro. Um futuro que lateja em favor do ser humano por conta de suas capacidades e de seus desdobramentos: o que era difícil de elaborar ficou no passado junto com os “aparelhinhos” de “Jacinto”. A tecnologia na condição de IA é um reino que se estende para a solução de problemas e para o deslumbramento da mente. A IA dá um xeque-mate no “não-sei” e no “não-tenho-tempo”: conhecimento e tempo são palavras que emergem de um mar de arquitetura com a dinâmica da engenharia de uma inteligência que, embora artificial, é puramente humana.
E que a Ética, rainha das virtudes, permaneça em pé nas cidades e nas serras!...
Texto por Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em comunicação.
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Sobre o autor
Luzia Almeida
Luzia Almeida é professora, escritora e mestra em Comunicação
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